"Farmácia de serviço"
Todas as sextas-feiras à tarde, João dirige-se à farmácia mais próxima de sua casa para ser testado. A visita semanal à farmácia tornara-se um momento aguardado com expectativa desde que se vira fechado no pequeno gabinete com o homem que, logo ao primeiro teste, se convertera no protagonista das suas fantasias sexuais. Nessa vez, enquanto acalmava o desconforto do nariz com um lenço de papel, João ouvira dizerem do outro lado da porta, «Dr. Hugo, uma chamada para si».
Uma tarde, viu que estava atrasado e desatou a correr para não faltar à marcação. Já no balcão à sua espera, reparou que o Dr. Hugo não usava bata mas uma camisa justa que lhe evidenciava os músculos, o que bastou para deixar João atordoado de desejo. Ainda ofegante, entrou no gabinete e puxou a máscara até ao lábio superior. Quando ele se aproximou, percorreu-lhe um arrepio por toda a pele e não pode evitar que um gemido lhe escapasse quando sentiu o corpo estranho invadi-lo. Discretamente, puxou a camisola para baixo para esconder a erecção.
À porta da farmácia, enquanto esperava o resultado, João fervia de vergonha com o que se tinha acabado de passar. Ele certamente reparara naquilo. O farmacêutico apareceu por fim, de bata vestida, e estendeu-lhe um papel. Aos olhos de João, saltou uma palavra invulgar no texto: «Positivo». Não soube o que dizer. «Pela tua cara, talvez estejas com febre. Vi no teu formulário que és de fora. Tens alguém que te ajude nos próximos dias?». Ele disse-lhe que morava sozinho. «Bem, tens aí o meu número pessoal, para o que precisares».
Talvez por efeito da temperatura, sentia-se como se derretesse por dentro. Antes de entrar na farmácia, o Dr. Hugo voltou-se e o que disse provocou em João nova e aguda sintomatologia. «Liga-me amanhã e conversamos um bocado».
Sirius
Este texto é ficção e pertence ao projecto Voz Arco-Íris.