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Género Queer: Memórias por Maia Kobabe

género queer livro

Género Queer, de Maia Kobabe, um dos livros mais polémicos nos EUA, chegou às estantes portuguesas pela Edições Asa. Com tradução de Elga Fontes e revisão para linguagem neutra de Marta Maia da Costa, esta autobiografia queer mostra ser não só ser um recurso usado pelu cartoonista para se expressar e revelar ao mundo como se percebe/identifica como ao mesmo tempo mostra  ser uma história útil para quem esteja a passar pelas mesmas situações que Maia experienciou.

 

Nascide nos anos 1980, nos EUA, Maia Kobabe cresce entre os anos 90 e 2000, onde as questões de fluidez e performatividade de género ainda eram pouco discutidas culturalmente dificultando o acesso a informação sobre a identificação com género não binário. Com o privilégio de crescer num ambiente familiar seguro, livre de convenções sociais conservadoras sobre identidade de género, Maia encontra na sua família e grupo de amigos um espaço de apoio para explorar a sua orientação sexual, identidade e expressão de género. 

Enquanto ponderava uma mudança de pronomes, comecei a pensar no género menos como uma balança e mais como uma paisagem: Algumas pessoas nascem nas montanhas, enquanto outras nascem perto do mar. Algumas pessoas ficam felizes em viver no lugar onde nasceram, enquanto outras preferem uma jornada maior para chegar ao clima no qual podem florescer e crescer. Entre o oceano e as montanhas há uma floresta selvagem. É aí que quero construir o meu lar.” P.191

Identificando-se como pessoa queer, bissexual, não binária e dentro do espectro assexual, Maia escreve este livro de forma a partilhar o seu processo de autoconhecimento e descoberta desde a sua infância até a idade adulta. Um retrato honesto sobre os desafios de passar pela puberdade, pela confrontação com as primeiras menstruações, a descoberta do corpo, da sexualidade e com a pressão social que a encorajava a assumir as tradicionais normas binárias de género. Procurando perceber como a identidade e expressão de género se intersecta com a orientação sexual, Maia representa ao longo do livro cenas ligeiras de nudez, tais como as em que descobre o uso do binder, de brinquedos sexuais, ou das suas consultas ginecológicas que, embora marcadamente indesejáveis, reforçam a importância e atenção com a saúde sexual.

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Originalmente publicado em 2019, actualmente este é um dos livros mais proibidos nos EUA. Acusado de oferecer “pornografia para crianças” e incentivo aos jovens em fazerem a transição de género, mostra o desespero cultural em compreender e respeitar as histórias de pessoas queer, trans e não binárias. Um livro que embora premiado pelo American Library Association, faz agora parte da lista de livros censurados em 50 bibliotecas escolares norte americanas, tendo sido o livro mais proibido no ano de 2021-2022, de acordo com o PEN America's Index of School Book Bans.

Este é um livro que, tal como outro, antes de ser julgado merece ser lido. Um livro que ao invés de doutrinar, de dar respostas fechadas, abre-nos diante a possibilidade do desconhecido, questiona, deixa em aberto. Um livro que seguindo o seu propósito de estimular o intelecto, aumentar a consciência social, educar para a diversidade, mostra na sua censura o desespero conservador e repressivo sobre a diversidade. Onde é que já vimos isto a acontecer? Não faz 100 anos da queima dos livros considerados “degenerados” pela propaganda nazi e o mesmo cataclismo mostra repetir-se.

 

Editora: ASA 

Ano: 2023 

240 páginas

ISBN 9789892357836

PVP: 17,91€

 

Daniel Santos Morais é mestre em Sociologia pela Universidade de Coimbra. Feminista, LGBTQIA+, activista pelos Direitos Humanos. Partilha a sua vida entre Coimbra e Viseu.