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Gloria Groove dispara Lady Leste 

gloria groove

Diferença de heterônimo e pseudônimo, como o cantor e drag queen Gloria Groove reorganiza nossa indústria pop da música.

São heterônimos e pseudônimos, coisas distintas. Da literatura a música, da música a literatura, o escritor português Fernando Pessoa, talvez seja nas letras aquele de maior fama e mais prolífero (criou poetas como Alberto Caeiro, Ricardo Reis, Bernardo Soares, ademais versos ácidos e contemporâneos de Álvaro de Campos), e, mesmo que a biografia oficial do cantor inglês David Bowie afirma que Ziggy Stardust, fosse um personagem fictício, o cantor interplanetário dos álbuns The Rise and Fall... (1972) e Diamond Dogs (1974), apenas suas obras marcantes, chegava a vaga heteronímia.

Pseudônimo ora nome artístico, consiste fácil identificação, a escritora Cassandra Rios, autora best-seller, com status de mais lida, ao passo que censurada nos anos de chumbo do Brasil, chamava Odette Pérez Ríos, sendo seus principais temas abordados; mistério, prazer da mulher e homossexualidade feminina. A precursora transformista brasileira, na qual reinou no universo carioca, Laura de Vison, de nome Norberto Chucri David, que bastantes opiniões conhecedoras de seu talento, consideram como a Divine latina ora Laura de Vison americana? Apesar de ser uma área, que rende inúmeras teorias e histórias, inclusive da própria arte drag. 

Logo, a América Latina, no quesito artes sempre teve afinco com pseudônimos. Em meados da última década, a música e arte drag, expandiram esses nichos, fazendo artistas saírem das bolhas virtuais e guetos reais, que marcaram/ marcam o mundo queer do lado de baixo da Linha do Equador, como já sonorizou o visionário cantor, de nome artístico Ney Matogrosso, cujo revolucionou o debate de gêneros em idos da década de setenta do século passado. Entre os ícones brasileiros que mais destacam na actualidade, Pabllo Vittar e Gloria Groove, esta apresentou do primeiro álbum O Proceder (2017), acarretando aventuras musicais e altas cifras, embora realizou os eps Alegoria (2019) e Affair (2020).

O novo álbum de estúdio, Lady Leste (2022) trouxe uma personagem, ou seja solução criativa, sem em necessidade econômica, no momento da carreira musical do cantor e drag queen Gloria Groove. Através de treze faixas, na totalidade seis duetos, traduzem a região da periferia da cidade de São Paulo, além de tornar dilemas locais da Região Leste, acessíveis a um clique ou a uma visualização. As canções, SFM e Bonekinha, abrem a festa, de maneira informal, somam pompa do artista, ao mesmo tempo felicidade, repetida nas faixas, Vermelho, Tua Indecisão, Apenas Um Neném e LSD.

Crítica a respeito dos bastidores artísticos, Gloria Groove dispara Lady Leste, nas melhores canções do álbum, que são Leilão e A Queda, de videoclipes técnicos e metafóricos da safra de Felipe Sassi. Pelas influências da obra, desembocam os filhos do samba – o respeitável pagode, o incompreendido funk – em músicas como Greta, Jogo Perigoso, Fogo no Barraco, Pisando Fofo e Sobrevivi. Desde Madame Satã, figura emblemática, pioneiríssima das pioneiríssimas, o show business brasileiro, agora mundial, pouco era tão estimulado, falando quer cantando para as individualidades, da corda bamba equilíbrio da vida. “Mandrake” (gíria colhida por Lady Leste, significa pessoa elegante), parece que reorganiza nossa indústria pop da música.  

 

Diogo Mendes, no Brasil. 

Diogo Mendes* é escritor e jornalista. Colabora para mídia brasileira e portuguesa. Tem lançado o livro de poemas, “emboloração”(2020) pela editora Chiado Books.

Foto: Reprodução