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Guadalupe Amaro: "Compreendendo que é o nosso silêncio que querem, cá me têm por calar"

Guadalupe Amaro

Hesitei bastante em escrever este texto, porque desejava, por tudo, conseguir ignorar toda a enxurrada de merda que me leva a escrevê-lo. Mas, compreendendo que é o nosso silêncio que querem, cá me têm por calar.

Tou cansada e é por isso que vos escrevo. Os últimos tempos têm sido irrespiráveis se, enquanto pessoa trans, tomarmos atenção aos órgãos de comunicação social (OCS) e formos activas em determinadas plataformas digitais. Transfobia é mais tolerada do que a nossa própria existência.

Se, enquanto povo, podemos ter muitas virtudes, também podemos ser uma baratinha de tão pequenos e rastejantes. Exemplo disso é a importação (sempre com uns anos de atraso) que fazemos de determinados movimentos sociais. Daí pouco me espantar que se veja agora o conservadorismo reacionário a focar-se nas pessoas trans, uma das comunidades mais marginalizadas e violentadas, como já o tem vindo a fazer noutros países como o Reino Unidos e os EUA.

Transfóbicos são cada vez mais vocais e explícitos quanto à sua transfobia e têm claramente uma agenda premeditada. E são-no, porque sabem que podem. Porque o discurso de ódio que vomitam e que é considerado crime — e uma ameaça a direitos constitucionais e direitos humanos — não é punido como tal. Porque, pelo contrário, são recompensados socialmente e monetariamente por isso, com lugares de destaque nos OCS. Porque descobriram uma minoria que ainda é aceitável espezinhar e agredir em praça pública e ser-se aplaudido por isso. 

 

Transfóbicos são cada vez mais vocais e explícitos quanto à sua transfobia e têm claramente uma agenda premeditada.

 

Como disse, este movimento reacionário pouco me surpreende. Felizmente, nos últimos anos tem havido progressos sociais consideráveis no que toca aos direitos de pessoas trans e não-binárias. O mundo em que estas pessoas gostariam de ainda viver — em que nos remetiam ao silêncio, à invisibilidade, à margem — não existe mais. Cada vez mais reclamamos o nosso espaço na sociedade, os nossos direitos, e o poder das nossas vozes. Estes movimentos não passam de tentativas desesperadas de travar esse progresso e estamos aqui para relembrá-los que, por muito que tentem, progresso é imparável. E nós também.

Estamos aqui para relembrá-los que, por muito que tentem, progresso é imparável. E nós também.

Direitos trans são direitos humanos e escrevo-vos para apelar que se 50 vozes se levantam para os ameaçar, que 500 punhos se ergam para os defender.

 

Guadalupe Amaro

Foto: Susana Chico