O parecer contrário à adopção por casais do mesmo sexo emitido pela Ordem dos Advogados (OA) a pedido da Assembleia da República levou esta terça-feira a associação ILGA Portugal a emitir uma petição com intuito de defender os Direitos da Criança e da Constituição.
Na referida missiva dirigida à Assembleia, onde na próxima sexta-feira se vai debater a adopção, a associação questiona “o grau de desinformação, leviandade e insipiência” das declarações emitidas pela OA e considera que “tais declarações não se coaduna[m] com o indispensável papel de responsabilidade que à OA cabe ocupar na Sociedade Portuguesa”.
Relembre-se que, conforme o dezanove.pt avançou em primeira mão, para a Ordem dos Advogados deveria “ser mantido o impedimento legal de adopção e de apadrinhamento civil, por casais de pessoas do mesmo sexo, para salvaguardar e acautelar os superiores interesses da criança adoptanda, na consideração de que as referências de um pai e de uma mãe são mais adequadas para salvaguardar e acautelar tais interesses, no crescimento e desenvolvimento afectivo, familiar e social do desenvolvimento da criança”, considerando, por conseguinte, que “o superior interesse da criança fica melhor assegurado num ambiente familiar em que o casal adoptante seja de pessoas de sexo diferente”.

Na mesma petição a que o dezanove.pt teve acesso a ILGA Portugal saúda a posição favorável do parecer do Ministério Público e defende que a possibilidade de adopção deve ser apreciada minuciosamente em função de critérios como a situação psicológica e financeira dos adoptantes e não em função da orientação sexual. Em oposição às considerações “irreflectidamente discriminatórias” e “perniciosas” da OA a associação dá a conhecer uma listagem de onze estudos científicos que por um lado demonstram que as crianças que crescem com duas mães ou dois pais desenvolvem-se tão bem a nível emocional, cognitivo, social e sexual como as crianças criadas por uma mãe e um pai, e que por outro sustentam que “não existem diferenças sistemáticas entre mães e pais homossexuais e mães e pais heterossexuais na saúde emocional, competências parentais e nas atitudes acerca da parentalidade.”
Impedir legalmente os casais de pessoas do mesmo sexo de poderem adoptar constitui uma discriminação do artigo 13.º da Constituição, isto é, o Princípio da Igualdade. No entanto, dificilmente o projecto do Bloco de Esquerda será aprovado já que os dois principais partidos com lugar no Parlamento (PS e PSD) darão liberdade de voto aos deputados, avançou o jornal I a semana passada. Segundo o mesmo diário se a alteração à lei proposta pelo Bloco de Esquerda for chumbada na próxima sexta-feira, deverá ser apresentado em breve, e em jeito de “plano B”, um diploma por parte da deputada independente eleita pelo PS, Isabel Moreira e por Pedro Delgado Alves, que preveja a legalização da adopção para casais com crianças já a seu cargo.
2 Comentários
Fernando M.
Talvez a proposta da deputada Isabel Moreira tenha mais hipóteses de passar… O reconhecimento das famílias homoparentais actuais é muito importante…
João
Bom dia. Pedia que colocassem o url da petição, se esta ainda se encontrar activa. Obrigado!
Quanto à adopção, o projecto do BE conta com justificações concretas à luz de estudos, que derrubam as dúvidas da oposição, mas menos um tal de conservadorismo baseado em ideias do senso comum. Naturalmente, uma criança precisa de um lar estável para se conseguir formar como um bom adulto, está mais que provado que esse lar pode ser constituído por membros de qualquer orientação s., o que conta é o amor, a disciplina, o cuidado, a condição física e psicológica desses membros, etc…