Johnny Hooker: “O amor entre as pessoas é como um cimento que une forças”
O cantor Johnny Hooker é o cabeça de cartaz do Arraial Pride de 2019. O convite da ILGA Portugal ao cantor foi feito após o primeiro concerto em Lisboa no Music Box. As músicas do álbum Coração serão ecoadas em frente ao Tejo, no Terreiro do Paço.
No contexto político brasileiro, a tournée Coração pretende ser um grito pela liberdade e pela resistência tudo através do afecto. Esperemos que as águas do Tejo levem a mensagem até ao outro lado do Atlântico.
O dezanove.pt falou com o cantor sobre questões políticas, musicais e também como a música pode ser uma poderosa arma de afectos e amor em tempos conturbados.
dezanove.pt: Gostava que me falasse um pouco da escolha do título do álbum e da tournée que vai fazer por Portugal. Porquê "Coração"?
Johnny Hooker: O tema lançado, ainda em 2017, agrupa faixas de grande aceitação por parte do público. Poderia destacar canções como flutua (com Liniker), Corpo Fechado (com Gaby Amarantos), Caetano Veloso, entre outras que fizeram desse show um dos mais aclamados da chamada nova música popular brasileira. E, também, pelo grande acolhimento que recebi do público.
Gostava de saber um pouco mais sobre a estética do álbum. A ideia de ser "uma mulher em fúria num corpo de homem" remete para as questões de género. Como vê a música brasileira como grande montra (vitrine) do feminismo interseccional do Brasil?
Acredito sobretudo em dois valores, sendo um deles o Amor, e o outro a Liberdade. Daí meu empenho no tipo de trabalho que faço, bem como nos temas que norteiam a minha arte. Penso que no Brasil, assim como no mundo, o Amor e a Liberdade sejam, desde sempre, a grande busca.
Pode a música ser uma arma poderosa? A sua geração de músicos tem os instrumentos para devolver ao Brasil a sua áurea de país que aponta futuros?
De certo que enquanto houver arte, haverá esperança, posto que a arte é o processo digestório, reflexo de como lidamos com a realidade da vida. Mas, tanto mais bem-sucedida será qualquer luta, se houver o viés do Amor como guia mestre.
De que forma tenta (re)trabalhar a estética do movimento Tropicalista dos anos 60? De que forma a música "Caetano Veloso" é uma homenagem a esse movimento?
Na exacta medida em que tento assimilar uma boa parte da atmosfera da ocasião, traduzindo as influências de fora, com as cores, meneios, e a sintaxe brasileira. Fã ardoroso do cantor Caetano Veloso, para mim essa composição homónima é, antes de tudo, uma homenagem que tento prestar a quem tanto me inspira.
Do ponto dos géneros musicais que convoca para a sua música (samba, rock, pop, electrónica, tango, funk) qual é aquele que mais o fascina e porquê?
Ando com muita liberdade por todos esses, e, devo dizer, por outros tantos “géneros” (risos...). Pelo aspecto musical, isso se dá pelo meu mais completo desprendimento diante da arte, lugar em abasteço minha mente, minha alma e o meu corpo.
Pelo que posso entender pelo disco há uma incidência nos múltiplos afectos das variadas sexualidades. De que forma é o amor uma narrativa que o ajuda a compor e a escrever?
O amor entre as pessoas é como um cimento que une forças, daqui e dali, para erguer coisas belas.
Gostava de saber o que acha da cidade de Lisboa?
Acho um lugar incrível. Os ‘alfacinhas’ são muito acolhedores. Creio que temos uma sintonia bem especial, onde a energia que rola durante as apresentações simplesmente me emociona.
André Soares