Judith Teixeira, a poetisa esquecida
Vens toda nua, recortada em graça,
rebrilhante, iluminada!
Vejo-te chegar
como uma alvorada
de sol!...
E o meu corpo freme,
e a minha alma canta,
como um enamorado rouxinol!
Judith Teixeira in Nua: Poemas de Bizâncio
Judite dos Reis Ramos Teixeira nasceu a 25 de Janeiro de 1880. Do pouco que nos chega sobre a sua vida pessoal sabemos de dois casamentos, o primeiro com um empregado comercial, Jaime Levy Azancot, de quem se divorciou em 1913 e o segundo com Álvaro Virgilio de Franco Teixeira, advogado.
Publicava inicialmente com o pseudónimo Lena de Valois em diversos jornais da época e posteriormente sob o nome de Judith Teixeira. A sua primeira obra, o livro de poemas Decadência, foi lançado em 1923 e escandalizou a sociedade pelo seu teor erótico.
Foi nesse mesmo ano que decorreu a polémica em torno da apelidada Literatura de Sodoma. A Liga de Acção dos Estudantes de Lisboa, um grupo conservador, deu origem a um protesto contra as obras que consideravam imorais, em particular a de Judith Teixeira, Raul Leal e António Botto. Os seus livros acabaram por ser queimados em público e censurados.
Judith não se deixou, ainda assim, intimidar. Em 1923 volta a estar no centro da polémica ao publicar o seu segundo livro, Castelo de Sombras. Em 1925 dirige o jornal Europa, que durou apenas três números, e em 1926 lança novo livro de poemas, Nua: poemas de Bizâncio. Este livro, de teor erótico e explicitamente homossexual, foi o começo do desaparecimento da autora.
Ostracizada e caricaturada em vários jornais da época, apelidada de desavergonhada e imoral. Judith Teixeira escreve então a conferência De Mim que envia para um desses jornais, onde explica as suas razões. Em 1927 imprime ainda o seu livro de prosa Satânia, mas acaba por ser vítima do conservadorismo e, excepto raríssimas contribuições para jornais nos anos que se seguiram, nada mais se soube.
Judith Teixeira faleceu a 17 de Maio de 1959.
Dela podemos dizer que foi duplamente discriminada: por ser homossexual e por ser mulher. Contemporânea de autores como Florbela Espanca, Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro, Raúl Leal e António Botto, passou despercebida entre os seus pares. De mulheres dessa época, pouco mais nos foi dado a conhecer do que a obra de Florbela; e mesmo entre os seus pares foi criticada e posta à parte.
“Não sei cantar os amores débeis. Adoro o Sol, amo a Cor, quero à Chama, bendigo a Força, exalta-me o Sangue, embriaga-me a violência, deliro com a Luta, sonho com os gritos rebeldes do Mar!
Não me interessam as cores pálidas, não me comove a cor imaculada dos lírios brancos e flébeis. Eles não sofrem, eles não vibram, eles não clamam nenhuma estrofe de martírio ou de volúpia!
É roxa a minha tristeza, negra a minha amargura, e a minha alegria enfeita-se de papoilas e enrubescer à luz do sol para cantar!”
Judith Teixeira in De mim
“As minhas emoções não podem, portanto, obedecer a pautas nem a conceitos tradicionais. Nascem duma vibração misteriosa, e eu vivo-as e sinto-as e traduzo-as na maior porção de elegância que a minha arte lhes pode dar.”
Judith Teixeira in De mim
Anabela Risso
Foto: See page for author, CC BY-SA 4.0, via Wikimedia Commons