Kesaria, mulher trans, assassinada um dia depois de aprovada maior repressão LGBT, na Geórgia
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Kesaria Abramidze, mulher trans, tinha 37 anos, era modelo, actriz e apresentadora de televisão. Foi esfaqueada até à morte no apartamento onde residia, na passada quarta-feira. A morte de Kesaria, segundo investigações preliminares, foi um acto de violência de género perpetrado pelo seu ex-namorado, que foi rapidamente detido. O crime foi enquadrado como homicídio premeditado com agravantes de ódio motivado pelo género. Kesaria tinha mais de 500 mil seguidores no Instagram e foi uma das primeiras figuras públicas, na Geórgia, a assumir-se publicamente como trans. Representou o país no concurso Miss Trans Star International, em 2018.
No dia anterior ao assassinato de Kesaria, o Parlamento da Geórgia aprovou um projecto de lei, composto por 13 artigos, que impõe fortes restrições aos direitos LGBTI+ no país. Entre as medidas destacam-se a proibição do casamento entre pessoas do mesmo sexo, a proibição de cirurgias de afirmação de género, a proibição de adopção de crianças por pessoas não heterossexuais, bem como a probição da promoção de relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo nas escolas. Para além disso, o dia 17 de Maio, Dia Internacional Contra a Homofobia, Bifobia e Transfobia, foi designado como "Dia da Pureza da Família e do Respeito pelos Pais".
O projecto de lei foi aprovado no parlamento georgiano, na terça-feira, como 84 votos a favor e 0 contra. A oposição parlamentar não esteve presente, uma vez que tem boicotado as sessões desde a adopção da lei sobre agentes estrangeiros no início deste ano. O conjunto de medidas denomina-se "Proteção dos Valores Familiares e Menores" e terá sido elaborado pelo partido Sonho Georgiano, no sentido de proteger as pessoas da Geórgia, que procuram protecção contra a "propaganda LGBT". A presidente da Geórgia, Salome Zourabichvili, cujos poderes são principalmente cerimoniais, tem-se assumido contra a violação dos direitos de pessoas LGBT, no país, e já referiu que irá vetar o projecto de lei. No entanto, a maioria parlamentar tem o poder de anular o veto presidencial.
Segundo a Social Justice Center, uma organização de defesa dos direitos humanos e da justiça social, da Geórgia, “a homofobia, a bifobia e a transfobia políticas tornaram-se centrais no discurso e na ideologia oficial do governo". Para além disso, refere que “o assassinato de Kesaria Abramidze não pode ser visto separadamente deste contexto geral grave.”
De facto, desde o assassinato de Kesaria várias têm sido as manifestações e notas de repúdio divulgadas. O legislador alemão Michael Roth, por exemplo, escreveu, na rede social X, que "aqueles que semeiam ódio colherão violência. Kesaria Abramidze foi morta apenas um dia após o parlamento georgiano aprovar a lei anti-LGBTI.”
Sara Lemos
Se foste ou sabes de alguém que foi alvo de algum ataque verbal ou físico devido à sua orientação sexual, identidade ou expressão de género apresenta queixa junto das autoridades e contacta uma associação de defesa dos direitos das pessoas LGBTIQA+. Alguns contactos abaixo:
Organizações com serviços de apoio às pessoas LGBTI+
API – Associação Plano i (Matosinhos)
APAV - Associação Portuguesa de Apoio à Vítima - Rede Nacional de Gabinetes
API - Acção Pela Identidade
AMPLOS - Associação de Mães e Pais pela Liberdade de Orientação Sexual e Identidade de Género
Casa Qui - Associação de solidariedade social pela inclusão e bem-estar da população LGBT
ILGA Portugal - Intervenção Lésbica, Gay, Bissexual e Transgénero
Linha LGBT - Linha Telefónica de Apoio e Informação LGBT
Opus Diversidades - Obra Gay Associação
rede ex aequo - Associação de jovens LGBTI e apoiantes: geral@rea.pt
Panteras Rosa - Frente de Combate à LesBiGayTransfobia
SOS Voz Amiga - um serviço de ajuda pontual em situações agudas de sofrimento causadas pela Solidão, Ansiedade, Depressão e Risco de Suicídio: 21 354 45 45, 91 280 26 69 ou 96 352 46 60. (entre as 16 e as 24h00)