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Nem na mata se encontram histórias assim

Mau Género de Chloé Cruchaudet

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Mauvais Genre, a premiada obra de Chloé Cruchaudet, é a mais recente banda desenhada a ser traduzida e editada para o mercado livreiro português. Inspirando-se na obra La Garçonne et  l'Assassin (2011), dos historiadores Fabrice Virgili e Danièle Voldman, Chloé Cruchaudet recupera a  história controversa de Paul e Louise Gappe, um casal parisiense envolto num crime de guerra e de  homicídio no pós I Guerra Mundial.  

O caso fora de tal maneira insólito na época que se internacionaliza, chegando a países como Itália, Grécia, Austrália e, claro, por toda a França. E sim, esta é uma histórica verídica que mostra a sua  actualidade através de temas como as fronteiras do amor, do género, sexualidade, da violência  doméstica, da prostituição, da prática de cruising, alcoolismo e muito mais. 

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No centro da história temos Paul Gappe, um desertor de guerra que encontra no transformismo a  liberdade necessária para soltar-se de um encarceramento solitário e regresso à vida pública  parisiense. Após meses hospitalizado pela amputação do próprio dedo, manobra que serviria de  remédio para escapar ao terror de uma guerra sem precedentes, Paul vê-se foragido num quarto  de hotel de Paris durante meses. Apoiado por Louise, a sua companheira, que o encoraja a performatizar e adoptar uma identidade feminina, constrói a sua nova personalidade, Suzane. 

Suzane, personagem alimentada pelo casal, mostra aos leitores uma alegoria da transformação  social vivida numa Europa em contexto de pós-guerra. Explanando as tensões identitárias de Paul e  da sua relação com Louise por mais de duas décadas, Chloé cria uma narrativa ficcional para mostrar  o desencadear de transformações sociais e identitárias várias, como foram a inversão dos papeis de  género durante a guerra e do lugar diferenciado que as mulheres ocupavam na sociedade, da  imagem da mulher moderna e dos corpos femininos na irreverência dos loucos anos 20, assim como  da maior visibilidade social da homossexualidade e o envolvimento da justiça na manutenção das  relações familiares tradicionais. 

Esta é na verdade uma história cheia de sombras no qual Chloé mostra recriar de forma talentosa,  quer através do texto, da grafia e das cores manuseadas sem com isso tornar a leitura penosa ou  menos prazerosa. A qualidade gráfica e a impressão da edição são na verdade irrepreensíveis  levando a que a leitura se dissipe entre dedos e piscar de olhos. No final do livro encontramos ainda um pequeno posfácio dos autores de La Garçonne et l'Assassin, no qual partilham detalhes de uma  história com imensas pontas soltas. 

Para o lançamento oficial desta tradução em português, tendo recebido prémios vários como o  Prémio Festival de Angoulême na categoria Melhor Álbum e o Grande Prémio da Associação de Críticos e Jornalistas de BD francesa, Chloé Cruchaudet visita Portugal, Lisboa, nos dias 19 a 20 de Outubro no festival Amadora BD. 

 

ISBN: 9789897872600

Editor: IGUANA

Páginas: 192 

 

Daniel Santos Morais é mestre em Sociologia pela Universidade de Coimbra. Feminista, LGBTQIA+, activista pelos Direitos Humanos. Partilha a sua vida entre Coimbra e Viseu. É administrador do site Leituras Queer.