“Memórias” de uma Família
Não, ao contrário do que possam pensar, não vou falar na grandiosa obra de Camilo Castelo Branco, considerada por muitos a sua mais brilhante escritura - assim dizendo - , não só por a ter escrito em tempo recorde - tipo, 15 dias como assim?! -, como também por ser uma obra diversificada.
Já José Avillez, o grande cozinheiro tuga, num texto publicado em 2016, afirmava que tudo o que se precisa para se poder saborear esta obra, que nos é tão bem incutida na nossa cultura escolar, eram “250 gramas de sentido de humor, 5 unidades de atenção compenetrada, 10 decilitros de abertura de espírito, 80 gramas de idas ao dicionário e romantismo q.b.”, mas não, não vou mesmo falar de Amor de Perdição, apesar de ir retratar memórias de uma família, de uma família fictícia que irá representar todas as demais que existem. Normalmente, o ser humano tem a necessidade de utilizar as palavras de maneira incorrecta e, a meu ver, a palavra família é uma delas.
Família, segundo o dicionário da Porto Editora (é o que tenho instalado no telemóvel, por isso é mesmo esse que vai), tem incrivelmente mais significados do que estava à espera, mas aquele pelo qual andava à procura é só um – “(…) grupo taxonómico (categoria sistemática) constituído por seres que se assemelham por determinados caracteres e que compreende um ou mais géneros”; este é o - suposto - verdadeiro significado de família. Mas será que são apenas os genes que contam? As acções não podem contar? Os saberes e as verdades não podem contar? Segundo a ciência não. Mas, segundo o propósito deste texto, sim, a família não é apenas genes, DNA, a cor dos olhos semelhante, do cabelo, da pele, mas sim todo um conjunto de coisas que muitas vezes a nossa família biológica não nos dá, ou não nos quer dar, ou ainda não nos pode dar.
Família pode ser só a biológica mas, normalmente, não é apenas a biológica.
Família pode ser só a biológica mas, normalmente, não é apenas a biológica. Ou por vezes a biológica nem o é, e existem diversos exemplos e casos particulares que se podem dar a falar sobre este tópico e, um deles, advém de uma pergunta muito simples que aposto que muitos de vós que estão a ler isto, já sentiram (se não sentiram a vossa família é constituída por deuses imaculados): “aqueles indivíduos nunca fizeram nada por mim, mas mesmo assim, tenho de me dar com eles e chamar-lhes família?” Tecnicamente sim, mas neste texto vou provar que não e começando já pela minha definição de família; família, para mim, não são os nossos pais, irmãos, avós, tios, primos e todos os graus de parentesco que possam imaginar, mas é todo um aglomerado de pessoas com determinadas características que acabam por nos formar. Como pessoas que me formaram e me irão formar ao longo do tempo, tenho a minha progenitora, as filhas dos meus progenitores, a mãe da minha progenitora – não sei porque comecei com a coisa da progenitora, mas acho piada –, as minhas pessoas mais próximas como: a minha prima que é uma maninha mais nova para mim; as pessoas que cuidam de mim quando estou de férias na casa delas, ou seja, os meus “pais adoptivos” – como eu lhes gosto de chamar –, os meus padrinhos de baptismo, que mesmo longe conseguem ser os meus grandes substitutos, que me compram uma laranja do Algarve todos os dias para eu não me esquecer do sítio onde vivo, e não ter saudades da minha pontinha mais a Sul da Europa; as minhas amigas e amigos mais próximos, de quem eu tenho tantas saudades e, por fim, a minha namorada que me torna (tal como toda a gente aqui referida) o melhor de mim e me ajuda sempre que necessito e, com isto, não só vim a provar aquilo de que as boas famílias são feitas, como também vim aqui demonstrar que família é quem cria, ajuda e quer ajudar e não quem tem o mesmo tipo de sangue que eu, que tu (que estás a ler este texto) ou que vossemecê está lende.
E aqui está o que é a família para mim, porque de certeza que irá haver alguém a discordar da mim… e ainda bem! Ainda bem que somos todos diferentes e que cada um tem a sua opinião sobre este assunto, pois também depende muito do tipo de família biológica e não biológica que cada um tem.
(aqueles indivíduos nunca fizeram nada por mim, mas mesmo assim, tenho de me dar com eles e chamar-lhes família?)
E foi numa ida, numa viagem bastante básica, que me lembrei de falar sobre este assunto – uma coisa super à toa… nessa viagem e mais tarde na razão pela qual fui buscar a minha família: o tal almoço de família que toda a gente adora, fiquei a pensar naquela frasezinha que enunciei à pouco (aqueles indivíduos nunca fizeram nada por mim, mas mesmo assim, tenho de me dar com eles e chamar-lhes família?), e dessa frase nasceu este lindo enunciado sobre a tal “família fictícia” que não é assim tão fictícia afinal de contas. E é aqui que vos deixo a pensar neste assunto e espero realmente que pensem e repensem nas coisas, mesmo nas mais pequenas, por é delas que a vida é feita.
Beijo.
Nô