Numa escola pública, localizada em Ferraz de Vasconcelos, um munícipio brasileiro do estado de São Paulo, uma professora pediu aos seus alunos que fizessem uma composição sobre como seria a vida do menino mais feliz do mundo. Não havia limites para o que poderia ser descrito. Poderia ser uma criança que tivesse super-poderes ou outra qualquer particularidade. Foi deste modo que o pequeneno João, de apenas 11 anos, escreveu sobre ele mesmo.
Depois de viver num orfanato durante um ano e meio, João Vítor foi adoptado por Fernando Luiz e pelo seu companheiro Marcelo Pereira. O casal conheceu-o a 9 de Fevereiro de 2016 quando este tinha ainda 10 anos de idade. Apesar da criança não se adaptar ao perfil traçado, pois ambos procuravam crianças até aos 8 anos, uma conversa com a assistente social fê-los mudar de ideias e lá aceitaram conhecê-lo.
“Ele é órfão de pai. A mãe é viva, mas é usuária de drogas. Nenhum dos sete irmãos adultos que ele tem quis assumi-lo. Ele chegou a dormir na rua, até que uma vizinha chamou o conselho tutelar. Então ficámos emocionados com a história dele e percebemos que ele queria carinho”, contou Marcelo.
Fernando e Marcelo estavam com receio que João não aceitasse ter dois pais. Mas a reação da criança os surpreendeu. “Vimos que o preconceito era nosso. Ele foi muito receptivo. A psicóloga explicou-lhe que existem várias configurações de família para além da tradicional, isto é, com um pai só, com uma mãe só, com dois pais, duas mães… E ele aceitou na hora”, relatou Marcelo.
No entanto, no orfanato, João sentiu preconceito por parte das crianças durante o processo de adopção, que lhe faziam imensas perguntas, como por exemplo, quem era a mãe. Ele respondia que “ia ter dois pais homens e que o que realmente importava era que iam cuidar dele.”
“Ele faz questão de contar para todo mundo que tem dois pais”, diz Marcelo. Depois de conhecer a criança, as visitas do casal ao orfanato passaram a ser mais frequentes. O João começou por passar o fim-de-semana na casa de Fernando e Marcelo e, um mês depois, os dois conseguiram a guarda da criança. “Foi rápido, gostámos muito dele. Ele era quieto, triste e calado, mas mostrava que queria ficar connosco. Chorava quando o devolvíamos para o orfanato. Hoje, preciso pedir para ele parar de falar. Foi uma transformação muito grande, ele mudou totalmente”, contou o casal.
Ainda em 2016, João foi matriculado numa escola pública, considerada pela sua nova família como a melhor instituição de ensino da região. Os pais do menino contam que explicaram pessoalmente à coordenação do colégio a história do João. Ele foi bem recebido e conseguiu adaptar-se, mesmo com a desvantagem de conhecimentos que tinha em relação aos colegas da mesma idade. Foi então aí, a pedido da sua professora, que o pequeno João, dentro do tema proposto, escreveu a sua composição e que podes ler de seguida na íntegra:
“Uma vez eu morava só com meu pai, e um dia ele morreu e ninguém me quis, daí eu fui morar num orfanato. Passou muito tempo eu conheci dois pais homem que gostaram de mim eles me adoptaram e partir desse dia eu me fiquei muito feliz. Eu amo muito esse dia,nesse dia que conheci eles estou vivendo muito bem, muito feliz com eles, eles me amam e eu amo eles.
Nós brincamos nos divertimos, sentimos dor e choramos juntos, e nós três somos felizes e amamos uns aos outros. Eu sou adoptado eu não tenho vergonha e amo muito eles e minha outra família que eu tinha não me amava e eu era triste, mas essa família eu sinto que me ama e eu vou dar muito valor a ela, porque eu amo muito ela.
O menino mais feliz do mundo se chama João. O João sou eu.
De João para meus dois pais homens que eu amo muito.”
Emocionados, publicaram a composição no Facebook e, para além de ter recebido mais de 37 mil gostos, foi compartilhada mais de 10 mil vezes. Fernando soube do texto junto com o companheiro, após João perguntar “se a lição tinha ficado boa”.
O casal quer dar três irmãos a João e já iniciou o respectivo processo de adopção. O João está encantado, porque diz que, “sempre quis ter um irmão por perto”. Para além disso este casal deixa ainda um apelo: “Adoptem crianças mais velhas, acima de quatro anos. Em geral, o interesse maior é pelos bebés. O João tinha muito medo. Via os bebés indo embora do orfanato e ele não. Rezava toda noite para ter alguém que o levasse dali”.
Fonte e imagem: g1.globo.com
Carlos Simões
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