O dia em que morri
Hoje quero falar-vos do dia em que morri. Foi em meados de maio de 2013, altura em que atingi os 30 anos de idade. De um momento para o outro, sem qualquer aviso prévio, deixei de ser popular no Grindr ou noutras aplicações do género.
Mesmo antes de uma troca de fotos, já me diziam ser demasiado velho. E a partir daí, a situação tem vindo a piorar de ano para ano. Nem estou a falar de jovens na casa dos 20, pois perceberia perfeitamente que eu lhes pareça velho. O que eu acho estranho é ter indivíduos já nos seus 60 anos a dizer-me que me acham velho. Eu tenho 39 anos. O que será que esta gente pensa dela própria aos 60 anos? Dá que pensar. Dizem-mo mesmo quando eu não lhes peço nenhuma opinião nem mostro qualquer interesse neles.
Outro incidente muito estranho aconteceu há coisa de quatro anos. Um jovem de 20 e poucos anos entrou em contacto comigo no Grindr. Queria encontrar-se comigo. Eu não me senti particularmente interessado naquela altura, por isso recusei o convite educadamente. Porém, o jovem era bastante persistente. Insistiu no convite durante semanas, até que eu decidi que não teria nada a perder em encontrar-me com ele e ver como corria. Afinal, era apenas um encontro e não uma proposta de casamento. Imaginem a minha surpresa quando, assim que concordei em encontrar-me com ele, me foi pedido dinheiro. Sem qualquer tipo de juízo de valor, perguntei-lhe se trabalhava como escort. Ele respondeu que não. Explicou que não era de todo escort e que a única razão pela qual me estava a pedir dinheiro era por eu ter mais de 30 anos (teria uns 35 anos na altura). Relembrem que foi ele que me perseguiu durante semanas. Ainda pensei em explicar-lhe (realço que sem qualquer tipo de juízo de valor) o que ser escort significa, mas decidi que não valia a pena o esforço.
Imaginem a minha surpresa quando, assim que concordei em encontrar-me com ele, me foi pedido dinheiro.
Este tipo de preconceito em relação à idade só me acontece a mim? Fui sou eu que morri aos 30 anos? Ou trata-se de um comportamento vulgarizado em aplicações destinadas à comunidade LGBTQ+? Deixem-mo saber nos comentários.
Miguel Martins