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Às vezes penso que os títulos destas crónicas estão a um passo de ser iguais aos filmes de terror juvenil que eu via na minha adolescência sem problemas nenhuns e que agora me fazem encolher todo e dizer ‘ssssssss, que impressão!’. Tal como esses filmes, também parecem destinadas a sequelas inevitáveis e também me fazem ocasionalmente querer gritar tipo as personagens do Scream quando o psicopata lhes entra em casa, se bem que no meu caso, tenho conseguido manter os psicopatas fora de casa… mais ou menos…

O Natal passado foi interessante. Uns meses antes tinha decidido fechar a loja por uns tempos em relação a encontros até porque precisava de processar um ‘Fantasma do Verão passado’ que me tinha deixado um bocado na merda. Por esse motivo, a loja ficou fechada até meados de Outubro, altura em que respirei fundo e lá fui eu outra vez às apps. Acabei por conhecer um rapaz que, supreendentemente, quis sair para dar uma volta e falar um bocado. Eu gostei da ideia, até porque neste momento prefiro utilizar a minha líbido duma forma um pouco mais significativa do que ‘foder e andar’.
Conversámos bastante e houve química e acabámos por ter um serão porreiro, sem sexo, mas com uma sessão de cuddling óptima que acho que estávamos os dois a precisar. Continuámos a falar e a encontrar-nos com bastante calma até o sexo ter surgido naturalmente e tudo parecia estar a evoluir bastante bem, sem rótulos e sem expectativas. Saímos para jantar, ver espectáculos, estávamos a arranjar tempo nas agendas para nos vermos e parecia tudo muito bem encaminhado: já havia demonstrações públicas de afecto e apesar de não haver rótulos nem expectativas, eu comecei a ficar com esperanças que poderia vir algo dali. Por esta altura vocês já devem ter começado a perceber que isto não acabou muito bem, ou então não teria virado crónica, mas a verdade é que as coisas não acabaram… evaporaram.
No início de Dezembro eu precisei de sair do País em trabalho e vimo-nos antes de eu viajar. Tanto quanto eu pude perceber, estava tudo normal, por isso, qual não foi o meu espanto, quando chego ao meu destino, mando uma foto do local onde eu estava a ficar que era mesmo muito bonito e bucólico e recebo como resposta: ‘Está Sol!’.
Como estamos a falar de Sol, não sei se posso utilizar a expressão ‘balde de água fria’, mas de qualquer forma foi tipo sirene de incêndio na minha cabeça… afinal, depois de um par de voltas numa montanha russa, uma pessoa começa a já saber onde é que vêm os loops e as curvas perigosas. No entanto, mantive a cabeça fria e tentei manter contacto mas as respostas começaram a ser cada vez mais parcas em palavras e a não passar de frases de duas ou três palavras. Eu não sabia que nome dar a isto, mas a minha companheira de casa tem sido a minha professora de trends no que diz respeito à vida de solteiro, e disse-me que isto se chamava shy-ghosting. Aparentemente, é o que fazem quando deixam de estar interessados mas já houve demasiado contacto para uma parte remota da sua cabeça perceber que um ghosting completo já parece demasiado mal…

No entanto, mantive a cabeça fria e tentei manter contacto mas as respostas começaram a ser cada vez mais parcas em palavras e a não passar de frases de duas ou três palavras.

Quando regressei a Portugal, avisei que tinha voltado mais cedo por causa da Omicron e que tinha tido trabalho cancelado, o que foi respondido com ‘Lamento o cancelamento.’. Fiquei sem perceber muito bem se estava a falar em relação ao meu trabalho ou em relação ao nosso dating ou ao que raio tinha acontecido nos últimos dois meses. Em todo o caso, deixei passar o Natal e no início do ano achei que esses dois meses mereciam mais do que uma mensagem de três palavras e propus um café de Ano Novo que, para meu espanto, foi aceite.
Encontrámo-nos e falámos normalmente. Eu não cobrei nada mas a dada altura perguntei se tinha feito alguma coisa que tivesse causado a quebra na comunicação. (Eu devia ter seguido carreira diplomática porque vocês devem estar a pensar porque é que me dei sequer ao trabalho de tentar falar, mas fi-lo porque acredito que 99% dos nossos problemas se devem a falhas de comunicação.) A resposta foi o ‘Não és tu, sou eu.’ da praxe. Claro que fiquei um bocado magoado com a situação porque, apesar de tudo, investi tempo e energia naquela pessoa. Porém, dei-me por satisfeito de pelo menos ter conseguido um ponto final…
Ou assim pensei eu… porque um mês e meio mais tarde percebi que o ponto final era afinal umas reticências, isto porque CLARO que nos cruzámos no ginásio. Eu avistei-o à distância e como não estava com disponibilidade mental para lidar com conversa de elevador, tentei ficar fora do ângulo de visão da pessoa o máximo possível, mas CLARO que não consegui. Estou eu a chegar ao final do meu treino e a receber uma pausa de misericórdia da minha dismorfia corporal e a pensar ‘olha, até estou com um pump porreiro e já posso sambar na cara das inimigas que passaram a minha adolescência a chamar-me trinca-espinhas’ quando a meio dum deadlift me passa uma mão à frente dos olhos.
‘Puta, vida, merda, cagalhões’, penso eu. Levanto os olhos e lá está ele com um sorriso de orelha a orelha e um olhar de cima abaixo. Recebo todo um interrogatório acerca de como é que tem sido a minha vida, ao qual tento responder educadamente mas com respostas fechadas numa de ‘pára de me fazer perguntas e deixa-me acabar de treinar sossegado’, mas não. Continua. Continua e passa mais uma vez os olhos e diz-me para lhe escrever e combinar algo.
Depreendi que afinal o que era preciso para solucionar o ‘problema ser ele’ era facilmente resolvido com um aumento da concentração de ácido lácteo em mim. Momento Scream em que só me apetece gritar, mas respondo calmamente ‘Vemo-nos por aqui porque eu ando entupido em trabalho’.
Felizmente, parece que a resposta foi bem interpretada mas, em todo o caso, aprendi mais um termo novo: zombieing. Aparentemente é o que acontece quando um fantasma toma forma física e regressa com fome de carne humana…

 

R. J. Ripley