O Natal e a solidão LGBTQIA+
A canção que nos foi ensinada canta o Natal como a noite mais feliz do ano. Mas será sempre assim? A verdade é que muitas vezes vemos referências a esta época – que devia ser de paz, amor e união – como uma altura de solidão. E na noite de Natal, a solidão pesa mais do que em noites comuns.
Mesas cheias de comida, árvores cheias de presentes e casas cheias de família. Este é, tipicamente, o quadro que nos pintaram para o natal. Mas e quando a família não existe ou não nos aceita? Para muitas pessoas LGBTQIA+ o Natal não é uma época de alegria e amor; é uma época de dor e mágoa. Porque a solidão na noite de Natal não é só a solidão da noite de Natal: ela relembra-nos que não somos aceites, que não correspondemos às suas expectativas, que se calhar aquele amor – que devia ser incondicional – não é assim tão incondicional. Mais do que uma noite, é o reforço de que quem nos devia amar não o faz como esperaríamos.
Precisamos de cantar uma canção diferente. Precisamos de nos lembrar, nesta noite e em todas as outras noites, que o problema está em quem não aceita que amor é amor e que o amor é a força mais poderosa do mundo. O problema está em quem prefere preconceito a amor, incompreensão a família. E precisamos de aprender a viver com essa canção. Como fazer isso?
Recolhendo-nos em comunidade, porque a comunidade muitas vezes torna-se na nossa verdadeira família. As pessoas que nos acolhem, que nos compreendem, que se tornam na nossa rede de apoio. Quando o Natal se torna em solidão, podemos sempre procurar e ser acolhidos nela.
Criando a nossa própria família, quer seja com a pessoa com quem decidimos partilhar a vida quer seja com os nossos amigos. Porque os laços mais fortes muitas vezes não são os de sangue.
Aceitando que mais vale uma vida longe de algumas pessoas, mas perto de nós mesmos, do que uma vida a fingir sermos o que não somos. Aceitando-nos e respeitando-nos a nós próprios, priorizando o nosso próprio bem-estar. Às vezes também é preciso perceber que a solidão nem sempre é má e que somos a nossa melhor companhia.
Precisamos de cantar uma canção que nos lembre que o Natal pode ser uma época de esperança, mesmo que não seja o Natal que esperaríamos. Hoje estamos aqui e mesmo que a nossa família não nos aceite já podemos optar por, ainda assim, sermos nós próprios.
Anabela Risso