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O que é Feminismo? 

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“Mas existem verdadeiramente homens e mulheres em si, indistintos em si, com o  social manietado pelo biológico?”. Esta é, a questão introdutória ao 12º número da  colecção “Cadernos de Ciências Sociais” que, através de um conjunto de autoras  feministas de diferentes áreas disciplinares, nos partilha considerações essenciais da  construção teórica do feminismo ou, se quisermos antes, dos feminismos plurais. 

Dividida num conjunto de quatro artigos principais: (1) Sobre a génese do movimento  feminino na Guiné-Bissau: bases e práticas (1961-1982)”, de Patrícia Gomes (Guiné Bissau); (2) Feminismo: modos de ver e mover-se”, de Débora Diniz (Brasil); (3) Da  origem do Feminismo ao Feminismo Plural, do Mundo a Portugal”, por Maria Helena  Santos (Portugal) e (4) Negros Feminismos”, Rosália Diogo (Brasil), contando ainda  com a nota introdutória do Historiador e Sociólogo Moçambicano, Carlos Serra, podemos adivinhar, desde logo, a diversidade de aspectos intrincados na definição do “feminismo”. 

Para começar, logo na nota introdutória de Carlos Serra, destaca-se a pertinência do uso  do termo “feminismos”, no plural, em prol do termo singular, unívoco, hostil à diversidade.  Considerando este ser um fenómeno amplo, enquanto conjunto de movimentos sociais,  de correntes epistémicas e lente de políticas que se debatem com as desigualdades  estruturais criadas pelo poder patriarcal, somos remetidos à policemia do termo. Plural,  também, pelo reconhecimento da diversidade de identidades, de vozes, de possibilidades  de resistência que se levantam nos feminismos para repensar o conceito de  “Humanidade” e do termo “Direitos Humanos”. Parafraseando Débora Diniz: “Não há  feminismo no singular e é bom que não o reconheçamos como monumento com  autoridades únicas. Ao ouvir novas vozes, provocamos nossa imaginação para  possibilidades de resistência que não pensamos como possíveis. (p.58)”. 

Percebemos, também, que parte da discussão em torno do uso plural de “femininos” se  prende com a crítica feminista e com os Estudos pós-Coloniais, emergidos na década de  80 do séc. XX, no qual académicas africanas mostram a necessidade de criação de novos  enunciados sobre a identidade social das mulheres africanas que o feminismo ocidental,  branco, de classe média, heterossexual, até então não considerava. A criação da lente  “interseccional” das formas de opressão, o cruzamento do género com outras categorias identitárias como a classe social, a raça, a sexualidade, a etnia, entre outras, mostra as  matrizes diversas de construir e viver o feminino, assim como das distintas formas de  opressão criadas pelo patriarcado. 

O conceito de género é-nos apresentado como uma ferramenta útil para entender os diferentes campos de actuação dos feminismos, considerando a sua construção sóciocultural, da necessidade de o dessencializar, de o desconstruir enquanto termo associado à biologia e universalidade, de forma a mostrar a diversidade, a diferença, as diversas  necessidades e geografias de dominação masculina e criação de formas de libertação  deste sistema “falocêntrico” e “heteronormativo”. 

É neste sentido que, os feminismos de terceira vaga ou “pós-feminismos”, alinhados com  os Estudos e Teoria Queer, mostram a luta de mulheres que geralmente se situavam “à  margem” da luta e dos problemas feministas hegemónicos, abrindo espaço para as  questões das mulheres pobres, negras, lésbicas, bissexuais, trans, intersexo, etc. Entre  as autoras, são destacadas teóricas influentes dos feminismos de segunda e terceira  vaga como: Ann Oakley; Juliet Mitchell (1997); Judith Butler (1990); Sandra Harding  (1986); Shulamith Firestone (1970); Kate Millet (1969); Betty Friedan (1963) e Simone  Beauvoir (1949).  

No caso português, Maria Helena Santos, ao abordar de uma forma elogiável o aumento  do “gender mainstreaming” ou “Feminismo de Estado” em Portugal, com a criação de  grupos de pressão; ministérios ou instituições interministeriais de mulheres; ou de  comissões como é o caso da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género (CIG),  mostra como o feminismo em Portugal se tornou diverso e plural por assimilação a  recomendações de instâncias internacionais como a ONU e a União Europeia. 

Entre as obras pioneiras do Feminismo português destacam-se: “Ás Mulheres  Portuguesas (1905), Ana Castro Osório”; “As Mulheres e o Meu País (1950), Maria  Lamas”; “Novas Cartas Portuguesas (1972), Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta,  Maria Velho da Costa”, não se olvidando mulheres ilustres como: Adelaide Cabete  (1867-1935); Maria Veleda (1971-1955); Carolina Beatriz Ângelo (1877-1911); Elina  Guimarães (1904-1991) e Maria de Lourdes Pintassilgo (1930-2004). Recorde-se que até  ao XIII Governo da República Portuguesa, Pintassilgo foi a única mulher a desempenhar  funções como Primeira Ministra (1979-1980). 

Entre as quatro autoras, da Guiné-Bissau, Brasil a Portugal, mostram a necessidade dos  feminismos actuais se centrarem na diversidade, no reconhecimento das diferenças, da criação de uma cosmologia de saberes que permita criar soluções para a emancipação e  libertação dos corpos e das subjectividades. Através da redefinição dos pressupostos  identitários conservadores por outros plurais, de diferentes contextos socioculturais, que  se possibilitará o reconhecimento das vozes, corpos e subjectividades femininas. 

 

O Que é Feminismo?  

De Maria Helena Santos; Débora Diniz; Patrícia Gomes; Rosália Diogo. 

ISBN: 9789725924754 

Editor: Escola Editora 

Páginas: 104 

Classificação Temática: Ciências Sociais Humanas > Sociologia 

Preço: 8,90€ 

 

Daniel Santos Morais é mestre em Sociologia pela Universidade de Coimbra. Feminista, LGBTQIA+, activista pelos Direitos Humanos. Partilha a sua vida entre Coimbra e Viseu.

 

Lê também o artigo sobre o livro "O que é Masculinidade?"