Obscénica – Textos Eróticos & Grotescos
Obscénica – Textos Eróticos & Grotescos, da chancela da Orfeu Negro (2014), é uma obra que reúne dos textos mais controversos e grotescos da autora brasileira Hilda Hilst (1930-2004).
Poeta, ensaísta, dramaturga, Hilda Hilst, é considerada como uma das escritoras mais vanguardistas da língua portuguesa no séc. XX, tendo deixado nas suas mais de quarenta obras publicadas interrogações pertinentes sobre o pensamento contemporâneo. Rompendo com classicismos literários, dona de uma escrita complexa, desordenada, enérgica, Hilst trouxe, quer por meio de prosa ou verso, temas como a solidão, a morte, a loucura, o misticismo e o amor erótico, a ousadia e transgressão lhe iriam custar não só a incompreensão como o desprezo do público literário.
Considerada de “puta”, “devassa”, “louca”, pela estranheza que os seus textos causavam aos bons costumes da época, Hilst mostrara ser epítome da insubordinação e libertação sexual feminina nos meios literários do seu tempo. Exemplo disso, é a sua trilogia pornográfica: “O caderno rosa de Lori Lamby (1990)”, “Contos d’escárnio. Textos grotescos (1990)” e “Cartas de um sedutor (1991)”, no qual mostra através da representação do desvio e erotismo sexual uma crítica aos tradicionais papéis de sexo/género/sexualidade.
Nesta antologia, Obscénica, encontramos excertos de “Contos d’Escárnio/Textos Grotescos” (1990), livro que trouxe o seu reconhecimento internacional, e “Bufólicas” (1992), antologia poética despida de pudores e preconceitos que subverte as fábulas infantis, nos quais encontramos os contos de: O Reizinho Gay, A Rainha Careca, O Anão Triste e Filó, a Fadinha Lésbica, entre outros.
Hilst, dizia: “O erótico, para mim, é quase uma santidade”, máxima que pulsa nesta antologia onde encontramos quer a bestialidade do erotismo como a sensibilidade, a desordem e mística que a sua escrita traz à literatura e ao imaginário do leitor.
A graça deste livro, enquanto objeto de arte Obscénica, entrelaça-se entre o pensamento textual de Hilst junto com as extravagantes ilustrações de André da Loba, colaborador do New York Times e considerado um dos 200 melhores ilustradores do mundo pela revista Lürzer’s Archive. Uma arte imagética que, desafiando tabus, parece ter sido criada a mãos dadas com os textos da autora.
De uma semiótica bizarra, esta obra traz a obscenidade enquanto ferramenta de luta e libertação dos preceitos normativos da sexualidade e da subordinação feminina, dando-nos a provar o mundo do desejo.
Editor: Orfeu Negro
Ano: 2014
96 páginas, formato 329 x 231 x 7 mm
ISBN 9789898327383
PVP: 13,50€
Daniel Santos Morais é mestre em Sociologia pela Universidade de Coimbra. Feminista, LGBTQIA+, activista pelos Direitos Humanos. Partilha a sua vida entre Coimbra e Viseu.