Os Zé Lopes da nossa vida
Antes de me perder pelas palavras, permitam-me fazer uma declaração de interesses: não conheço o protagonista da minha história, apenas da televisão e do trabalho que faz.
E este meu desabafo vem a propósito da entrevista que deu. Não me deixou indiferente. Doeu. E doeu forte porque senti o peso de cada palavra. Uma mais forte que outra.
Também não pedi autorização para evocar o seu nome, mas, correndo todos os riscos, vou fazê-lo, carregando o ónus da culpa, se assim o entender.
O Zé Lopes é um jovem cujo talento brilha nos olhos. Como eu, também trabalha em televisão. Mas o Zé tem uma particularidade: é espontâneo e genuíno no que faz. Chega onde muitos seniores não chegam e enquanto uns fazem um esforço para cativar, o Zé tem o dom de cativar, com naturalidade. Simples!
A irreverência da idade fê-lo sonhar, mas um dia, o preconceito falou mais alto.
Sim, PRECONCEITO. Esta palavra que a tantos de nós faz doer e no frio e escuro dos bastidores da televisão continua a viver em almas tão tenebrosas.
"Não te quero como repórter num programa em que eu apresento". A frase foi disparada à queima-roupa por alguém influente e mediático e por momentos (quase) destruiu os sonhos de um jovem estagiário que tudo fez para ter a primeira experiência na televisão, enquanto concluía o curso.
Quantos de nós...
O pedido de desculpas chegou tarde e não atenua os estragos provocados numa alma que irradia vontade de querer, apenas, ser feliz.
Os carrascos do preconceito estão por aí, dissimulados, numa espécie de vírus invisível que quando ataca já não há nada a fazer.
Cuidado.
Estejam atentos.
Os carrascos do preconceito estão por aí, dissimulados, numa espécie de vírus invisível que quando ataca já não há nada a fazer.
Eu já me senti um Zé Lopes.
Eu já ouvi o que não queria e nem esperava ouvir.
Eu já gelei com comentários homofóbicos, desmotivadores, que roçam a crueldade, e, ditos para que todos testemunhassem, qual execução em pleno pelourinho.
Chora-se. Muito.
Os porquês ecoam na cabeça ao ritmo do tic-tac de um relógio.
A vontade de desistir de tudo, e da vida também, persegue-nos em noites de insónia que parecem intermináveis.
Depois, enfim, depois, nós os Zé Lopes da vida sabemos bem o que significa a Resiliência. Somos como molas que quanto mais pressionam, mais alto conseguimos subir. Vergam mas não partem.
Engolimos em seco o preconceito e respondemos de pulmão cheio com a identidade própria. Somos quem somos. E com orgulho.
Depois, claro, temos sempre quem nos estende a mão. Quem nos diz: Avança, e se der medo, avança com medo.
Os Zé Lopes podem até sofrer em silêncio.
Nós os Zé Lopes da vida sabemos bem o que significa a Resiliência. Somos como molas que quanto mais pressionam, mais alto conseguimos subir. Vergam mas não partem.
Engolimos em seco o preconceito e respondemos de pulmão cheio com a identidade própria. Somos quem somos. E com orgulho.
Os Zé Lopes até podem ser baleados com munições preconceituosas.
Mas há uma coisa que não deita por terra os Zé Lopes: o sonhar, sempre e sonhar cada vez mais alto.
Zé Lopes: se te dá conforto, não estás só. Viver não é aguardar que a tempestade passe; viver é ter a capacidade de aprender a dançar quando a chuva cai.
Brilha, Zé!
Filipe Alexandre Gonçalves
Foto: Reprodução Instagram Zé Lopes