O caso das declarações de Maria José Vilaça voltou a chamar a atenção para a posição de psicólogos extremistas católicos em relação à homossexualidade. O dezanove já tinha descrito o apoio da Associação de Psicólogos Católicos à vinda a Portugal do psicoterapeuta norte-americano Richard Cohen, que defende a terapia de conversão para homossexuais.
Agora tornaram-se conhecidos os vídeos da responsabilidade do Infovitae, grupo conservador católico anti-aborto e direitos LGBT, onde, além de Maria José Vilaça, outra psicóloga, Madalena Fontoura, apresenta semelhante postura em relação à homossexualidade. Para estas psicólogas, a homossexualidade é uma “doença” e um “engano”, pelo que pode estar sujeito a uma “restauração” e “terapia”.
“Entendo que é um doença”, assume Maria José Vilaça no vídeo publicado há oito anos, argumentando que “a complementaridade entre homem e mulher destina-se a expressar a unidade na comunhão. Isso não é possível se a entrega for entre duas pessoas iguais. Toda a sexualidade que não é vivida na diferença entre homem e mulher é uma sexualidade não assumida na plenitude”, considera. Maria José Vilaça sustenta ainda que “a homossexualidade é uma perturbação psicológica”. “Não há nenhuma característica biológica que justifique a grande maioria dos casos de homossexualidade. Não digo que não haja casos em que as definições cromossomáticas não estejam correctas e pode haver aí problemas, Mesmo assim, duvido que vão parar direitinhos à homossexualidade. É uma coisa muito mais cultural e principalmente patológica. É uma imaturidade que se torna patologia”, diz no mesmo vídeo a actual presidente da Associaçao de Psicólogos Católicos.
Já Madalena Fontoura conta, a partir da sua experiência como psicóloga, que “as pessoas que nos chegaram com problemas de homossexualidade denotam uma fragilidade de relação. São pessoas frias. Não estão bem. Aproximam-se da terapia porque não estão bem”, assegura, frisando que são “questões de fragilidade que as levam a ser homossexuais”. “Encontrei na minha experiência clínica muitíssimas pessoas que, nitidamente tendo atravessado um momento de crise, se encontraram com uma ideia de si próprias de que eram homossexuais (…). Estava na origem de uma teia de enganos. As pessoas começam a frequentar meios onde há uma lógica ideológica em torno da homossexualidade. É uma pratica incontida”. Madalena Fontoura relata ainda que “as pessoas chegam à terapia e dizem que julgam que são homossexuais. Quando fazem a historia para trás, só os encontra desamparados em vários momentos da vida”.
A Ordem dos Psicólogos considerou no passado fim-de-semana as afirmações de Maria José Vilaça “sem fundamentação científica”.
5 Comentários
Anónimo
O lugar destas pseudo-psicólogas é o desemprego.
Francisco
Agora, o relativismo do politicamente correto transformou-se em pandemia. Dizer “eu tenho direito à minha opinião e tens de respeitar” virou arma de arremesso da afirmação da individualidade. Ou dizer “Eu também sei pensar e julgar por mim!”. É uma espécie de medo da insignificância que parece mobilizar as pessoas, uma espécie de pânico ontológico permanente, como se manifestar uma opinião (ainda que fundamentada no irracional e no absurdo) constituísse uma necessidade urgente de ter importância e de conferir um sentido significativo à vida. É verdade, como refere o filósofo Carlo Strenger, que todos nós precisamos de sentir que o que fazemos tem importância no quadro de referência que define o mundo da nossa experiência. A questão é essa: qual é o quadro de referência? O meu não é o destas psicólogas, definitivamente. Para mim, a religião é uma fabricação do homem. É de religião e dos seus fundamentos venenosos que aqui se trata, em última instância. Deixemo-nos de cinismos e de hipocrisias, escondendo-nos por detrás de pretensos argumentos científicos. É a religião que enforma estas opiniões. O meu quadro de referência não é de todo o daqueles que sabem que deus existe e que criou e supervisionou a sua obra-prima, que sabem o que “ele” exige de nós – desde a nossa dieta às práticas religiosas e à moral sexual. O meu quadro de referência contém várias objeções graves à fé religiosa. São as mesmas de Christopher Hitchens: falseia completamente a origem do homem e do cosmos, devido a este erro original, combina o máximo de subserviência com o máximo de solipsismo; é, ao mesmo tempo, o resultado e a causa de uma perigosa repressão sexual e, em última análise, fundamenta-se em pensamento ilusório. Irracional, violenta, intolerante, aliada ao racismo, ao tribalismo e ao fanatismo, investida de ignorância e hostil ao livre exame, a religião organizada tem muito a pesar-lhe na consciência, como diz Hitchens. Ela ensina-nos a nos satisfazermos em não compreender o mundo. Pede à Razão para dormir. O problema é que, como escreveu Goya, num dos seus Caprichos, “o sono da Razão produz monstros”. O que sinto pelas posições destas psicólogas é um grande desdém civilizado, como aconselha Strenger. É preferível o desdém civilizado ao politicamente correto ou às manifestações de ódio, pois o desdém civilizado permite-nos sentir desprezo pelas visões do mundo ou pelas crenças de uma pessoa, mantendo o respeito pelos seres humanos que as sustentam. O desdém civilizado exige, contudo, uma disciplina mental que ainda não domino completamente, devo confessar. Fui (já não sou) cristão evangélico durante 13 anos. A verdadeira doença que me acometeu chama-se religião. E,acreditem, senhoras psicólogas, o processo de reabilitação foi longo e profundamente doloroso.
Anónimo
São psicólogas mas podiam ser umas quaisquer beatas dos velhos tempos!
Fazem ambas parte de uma praga que insiste em persistir apenas por ignorância e má fé. Não passam de gajas com título académico.
HP
Porque é que os psicólogos(?) que abordam as questões da homossexualidade numa perspectiva “patológica” são invariavelmente crentes (católicos ou outros)?
Para contrariar, uma conceituada obra escrita pelo Psicanalista fracês, Doutor Pierre Solignac, católico, documenta um vasto conjunto de observações clínicas entre religiosos, padres , freiras, frades, leigos crentes, para concluir por um universo de doentias sublimações, privações que os tornam, por vias dessas declinações doentias e obsessivas da natureza e determinismo sexuais próprios, em pessoas infelizes que tornam infelizes todas as demais que vivem em torno ou sob sua orientação.
É isso que esta(e)s “iluminada(o)s” condicionados querem perpertuar com afirmações que lavram no absurdo pseudo “científico”?
Ver a referida obra no catálogo de Publicações Europa-América…
HP
IMPORTANTE: “Quanto à questão da castração religiosa, é algo que tenho abordado propositadamente a propósito de assuntos específicos. Sempre que incomodou muito a ideia de que a “minha” religião é mais importante que a liberdade do outro. Enoja-me a hipocrisia de certas franjas cristãs que apregoam supostamente a palavra do senhor mas depois agem da forma mais execrável possível, não tendo o mínimo de compaixão para com o próximo.”
Ver, a entrevista a James Lee Hard, sobre o mais recente livro deste Autor “David Undone”, neste mesmo sítio do Dezanove.pt