"Por fim em silêncio" de Bruno Leão
Quando o Samu conhece o Martim, ele parece ser o rapaz perfeito: lindo de morrer e com um sorriso que apaga todas as dúvidas.
A atracção entre os dois é inevitável, e nada, nem ninguém, poderá separá-los.
Só que o Martim não é quem parece ser… E o Samu vai descobrir isso da pior forma possível.
Até conhecer o Filipe e entrar por um caminho que parece não ter retorno…
dezanove.pt: Olá Bruno, muito obrigado por teres aceitado o convite do dezanove.pt para uma conversa.
Antes de irmos ao assunto que nos traz aqui, podes desvendar um pouquinho aos nossos leitores quem é o Bruno Leão?
Bruno Leão: Eu sou o Bruno Leão, tenho 21 anos. Lancei agora o meu primeiro livro, Por fim em silêncio, em Setembro; foi o meu primeiro livro queer. Desde há 5 anos que sonho publicar o meu livro e só agora consegui.
Que posso dizer de mim? Sou de Cascais, gosto muito de praia, gosto de dar mergulhos inesperados, gosto de tomar banho de água fria. E gosto muito de abraçar causas que valem a pena.
Um activista, também, portanto.
Sim.
O teu romance de estreia, Por fim em Silêncio, aborda a questão das relações tóxicas na comunidade LGBTQ. Sendo tu um escritor tão novo como surgiu a necessidade de abordar este tema?
Eu sempre quis escrever um livro queer sobre relações tóxicas, que era um tema nada falado, ainda que super comum dentro da comunidade queer; já tínhamos imensos livros heteronormativos que falavam de relações tóxicas, porque é um tópico importante, mas não tínhamos nada que se integrasse na comunidade queer. Este é também um assunto que nos toca. Todos nós, ou uma grande parte, passámos por e tivemos de lidar com esse tipo de relações. Se não passámos por uma relação tóxica, de certeza que temos um amigo ou familiar que passou.
É um espectro muito diferente do heteronormativo e acho que devíamos estar agora a caminhar para essa discussão, porque já passamos por várias discussões, que fazem parte. Há muito diálogo heteronormativo, muito anterior ao nosso queer, e nós não tínhamos essa autorização, autoridade para falar. E já falámos de como é OK e aceitável sermos quem somos, e daí os romances fofinhos, hiper fofinhos, em que tudo é perfeito também. Já falámos muito de todas as coisas más que nos podem acontecer. E daí os hiper hiper tóxicos, aqueles em que só acontecem desgraças, mas nunca tínhamos tido um meio termo em que as coisas flutuam, porque uma relação romântica flutua, não é sempre perfeita, nem sempre má, vai variando, vai tendo tons de cinzento como eu gosto de dizer! Não é preto nem branco. Não tínhamos nada assim, então eu quis trabalhar num livro que mostrasse esta realidade aos meus leitores e à comunidade queer. Todos nós cometemos erros, todos nós que fazemos coisas boas, isso não nos torna pessoas más ou piores, simplesmente esses comportamentos fazem parte de nós, fazem parte também do nosso passado, constroem-nos como pessoas.
E daí veio muito a inspiração. Depois foi só arranjar o plot do livro, para que eu conseguisse mostrar esta mensagem, depois as personagens com as personalidades perfeitas para encenar esta história.
Podemos presumir da tua história que é um reflexo da comunidade LGBTQ contemporânea?
Sim completamente. Tivemos muitas fases, por assim dizer, da comunidade e de falar sobre certos tópicos dentro da comunidade e acho que chegou mesmo a altura de falarmos sobre relações tóxicas, porque ainda não foi falado. Não percebo bem porquê.
O género Young Adult é um género relativamente recente. Como te sentes por ser um dos primeiros autores portugueses a explorar este género. Como tem sido esta viagem? Qual o impacto que tem tido na tua vida, E qual o impacto que tem tido na tua vida, dado és uma pessoa muito nova. Foi um turbilhão?
É um turbilhão, de facto.O género Young Adult, é muito recente ainda, mas já tínhamos pessoas em Portugal a trabalhá-lo. Tínhamos poucas pessoas em grandes casas editoriais, ou seja, com grande visibilidade e acho que é bom referir isso, que eu não sou o primeiro a escrever Young Adult em Portugal. Eu acho que sou dos poucos que ainda conseguiu ter uma boa visibilidade sobre este género em Portugal.
Tem sido um turbilhão e tem sido também incrível. Tem sido uma experiência muito “mix feelings”, que entre estar muito orgulhoso do processo e da jornada que foi este tempo todo a tentar publicar a partir do momento que sabia que ia ser publicado e o processo do livro, todo esse turbilhão de emoções em mim, mais em em acréscimo toda a responsabilidade que isso também traz. Ser o primeiro jovem portuguesa da Secret Society a ser publicado; ser um jovem queer, que está a tentar mostrar uma nova visão do que são as relações, e esta nova camada que são as relações queer tóxicas.
Também agregado, se calhar um medo de o que é que pode acontecer agora. Vou falar de um tema que é ainda assunto sensível ainda na sociedade. E quais são as repercussões que isto pode trazer para mim, e para a Secret Society também, obviamente.
Tudo isto é um mix de emoções e muita felicidade, por ver os leitores a vibrar com o livro, a contar-me teorias, quererem um autógrafo quando estive num lançamento na Amadora. Foram duas horas de fila. Foi muito emocionante ver a fila à minha frente e todos os abraços e mensagens que os leitores me traziam.
E depois também então o nível de responsabilidade que isso também agrega, porque quando tratamos de temas sensíveis para a sociedade, há de sempre haver um “bad side of it”.
Já vimos muitos lançamentos a serem invadidos por grupos anti-queer e isso também foi sempre um receio imenso. Poderia acontecer comigo, felizmente não aconteceu, mas acho que também é importante estar solidário com quem passou por esse tipo de experiência.
Tendo em conta toda esta recepção calorosa e boa que tens tido por parte do público, prevês escrever um novo romance em breve?
Sim, já já estou a trabalhar no meu próximo romance. Uma surpresa está para acontecer até ao fim do ano, dentro do universo Silêncio, porque não sei se sabes o Por fim em silêncio não é só um livro, não é só objecto, está englobado num universo que é universo Silêncio. Enquanto objecto de marketing, o livro foi promovido durante um ano, acabámos por lançar três contos na Kobo (plataforma de leitura em linha), estes fazem parte do universo Silêncio, exploram personagens secundários do Por fim em Silêncio, que não foram explorados no livro, não era a história deles, mas a história do Samu. E dei-me a conhecer ao leitor com meses antecedência, dando a conhecer estas personagens. Os leitores puderam começar a criar teorias e expectativas para estas personagens, que depois podem ou não ser destruídas no Por fim em silêncio.
Também estou a preparar mais uma surpresa para o universo Silêncio, que não posso ainda revelar, mas que vai sair ainda no final deste ano. Portanto, estou com esses dois trabalhos, em paralelo, estou a tratar da surpresa para o final do ano e já estou em fase de edição do meu próximo livro, que vai manter-se na mesma linha, ou seja, Young Adult queer, com personagens queer, todavia não terá nada a ver nem com o Por fim o Silêncio, nem com o universo do Silêncio.
Tendo em conta o Por fim em Silêncio e toda esta aventura, que palavras queres deixar aos leitores do site dezanove.pt?
Claro. Vou ser sincero, conheci o dezanove.pt há pouco tempo, quando vocês começaram a seguir-me, segui-vos de volta.
Para os leitores que poderão vir a ler-me, queria dizer que o mundo é deles para explorar e que O por fim em silêncio traz isso mesmo. Traz o Samu, que ainda se está a descobrir no mundo, que ainda está a rebentar a bolha de inocência em que vive e que eles têm todo o tempo para explorar e que não é por terem uma repercussão mais negativa, dar um passo em falso que está tudo perdido, que o mundo é um lugar cinzento e que eles também são. À imagem do Samu os leitores irão encontrar quem querem ou ser quem querem querem ser.
Entrevista de Ricardo Falcato