Quando apareceram na marcha de 2012 questionávamos se seriam cobardes ou corajosas. Depois da tarde de Sábado não restam dúvidas aos participantes da Marcha do Orgulho: o colectivo Bichas Cobardes (BC) não tem papas na língua. As BC aliam ao activismo tradicional um podcast, um marketing muito próprio e incisivo no preconceito, na ignorância e na desinformação.
No momento em que defendem os direitos LGBT nas ruas não deixam quem os ouve indiferentes. O discurso arrancou a ovação da tarde reivindicativa da Praça da Figueira. E porquê?
As BC dizem que a comunidade vive “numa bolha LGBT onde ainda franzimos os olhos a representações femininas e feministas, a representações trans, queer e VIH positivas.” O colectivo acredita que a comunidade é composta por muito mais pessoas do que habitualmente visíveis e activas “Somos muitas e também muito diferentes entre nós. Mas tão poucas, aqui. Tão poucas informadas. Tão poucas feministas, Tão pouco solidárias, Tão pouco disponíveis, tão pouco orgulhosas.” E acrescentam “Um país onde mais pessoas vão celebrar o orgulho a Madrid do que a Lisboa e onde ainda temos organizações a boicotar o trabalho de colectivos e grupos mais pequenos na sua própria ganância.”
Segundo as BC há feridas que continuam abertas em Lisboa: “Numa comunidade que insiste em separar a festa da política, uma comunidade que teima em fugir de marchas para se esconder em arraiais. Uma comunidade onde quem mais lucra com ela, treme de medo de qualquer conotação política.
Uma comunidade resumida em equipas de rugby gay auto-proclamadas heroícas que se recusam a andar ao nosso lado na marcha, mas que vendem, despidos, cervejas e cervejas no arraial. Uma comunidade de bares e clubes de sexo bear no Príncipe Real que enriquece com o turismo gay, mas que foge à mínima ideia da luz do dia e da visibilidade política.”
As BC não poupam também as figuras públicas e políticos: “Um país de figuras mais e menos públicas queer que ainda temem expressões de género não binárias e que se recusam a lutar por uma parentalidade plena. Aliás, um país onde governantes armariadamente gays retiram direitos às famílias homoparentais, mais onde a comunidade queer se levanta é contra os outings.”
As BC rematam com uma reflexão que pretendem fazer junto do público ainda “anti-activismo, anti-política, anti-mudança, anti-coragem”: puxá-los para fora do armário, “porque as nossas irmãs e os nossos irmãos e a sua educação são prioritárias se queremos um mundo verdadeiramente diverso, feminista, inclusivo, melhor.”
Assiste a todo o discurso aqui:
28 Comentários
Daniel MC
Adoro-as! Estou com vocês BC!
Luís
A democracia ideal das Bichas Cobardes é: “se vêm à marcha, são os maiores. Se não vêm, são umas bestas oportunistas, que só pensam no negócio e só sabem viver na escuridão e oportunismo sobre as pobres bichas estrangeiras que nos visitam”.
Era giro que o colectivo Bichas Cobardes pensasse nos motivos do afastamento da marcha e do arraial.
Já agora: é gira a crítica desses activistas, que depois não se tiram dos bares bears do Príncipe Real nem da barraca dos heróis do rugby que vendem cerveja de tronco nu.
Pedro Silva
Apenas dois apontamentos:
– o rapazinho dos cabelos aos caracóis é tão contra a discriminação, mas não gosta lá muito das bixas muito efeminadas;
– o problema da discriminação contra os homossexuais resolve apenas com um mundo mais feminista.
Não é com intervenções destas, persecutórias, que se consegue o tal mundo melhor.
Joao L.
Que purismo tão inquisitorial! Se estão à espera que vote em partido X, vista roupas e ouça música Y, adquira temperamento e terminologia Z, digo-vos desde já que podem tirar o cavalinho da chuva. Sou livre de ser o tipo de “bicha” que bem entender sem anexação a partidos ou fidelidades a pretensos “pastores” de “bichas”. Liberdade acima de tudo porque a todos dou a mesma liberdade que peço.
Rui
Olá
Concordo que seria fantástico que a comunidade lgbt de Lisboa participasse mais na “marcha” mas discordo com o seguinte:
– quem vai ao arraial e não à marcha não está necessáriamente a “esconder-se” e a utilização dessa palavra implica um juízo de valor negativo de quem escolhe não participar na marcha o que me parece intolerante e descriminatório
– apenas a politíca relativa a assuntos de igualdade deveria fazer parte destes eventos e o tema “diversidade contra a austeridade” implica uma crítica à política económica do governo. Este tema faz-me sentir que a marcha (e a comunidade lgbt) são utilizadas por grupos com uma agenda política e isso não me parece correcto. Ser de esquerda ou direita não deveria ser um motivo de inclusão ou exclusão num evento destes
– no geral este discurso tem um tom de denúncia e perseguição de quem não concorda ou simplesmente não tem interesse em participar. Isto é o oposto da inclusão e tolerância que devíamos procurar. Devíamos ter um evento com espaço para todos desde bichas cobardes a rapazes de rugby semi-nus. E este discurso não junta ninguém – cava ainda uma separação maior entre quem vai e quem nao vai.
Rui
sonia
Parabéns. Alguém tem de dizer a verdade sobre esta medíocre comunidade que muitos dizem não pertencem por vergonha (e não me refiro aos que dão a cara, obviamente).
Cristiano
Pq instigarem revolta interna?Pq incitarem ódio entre nos mesmos, apenas pq não concordamos e não fazemos o que vocês acham correcto, o ir a marcha o sermos todos activistas.
Existem problemas maiores na comunidade… focam-se, criticam e excluem as pessoas que não querem ir a marcha dizendo que estão dentro do armário ou que pura e simplesmente não querem saber.
A marcha é uma tarde… todo o resto do ano todas as “bichas” (como gostam tanto de chamar) vivem, lutam por si mesmas e reivindicam os direitos, o respeito a sua maneira.
Não sejamos tão egocêntricos e vamos tentar ajudar a resolver problemas de maior envergadura. Rússia, Uganda, por exemplo.
E tendo em conta que esta marcha era contra a Austeridade, fugiram um pc ao tema.
Mas aplaudo a quem foi! E aplaudo a quem não foi, ambos exerceram os seus direitos. Parem de discriminar quem não foi!
E no fim, somo todos seres humanos. E isso é que é importante de relembrar, não a orientação, a raça, o género, etc…
V
Amigo, não preciso participar numa marcha para demonstrar o orgulho que tenho na pessoa que sou e na que me tornei.
Cada associação, movimento, grupo é livre de decidir participar ou não na Marcha!
Chama-se a isso liberdade e poder de decisão que se adquiriu em 1974 a 25 de Abril (ainda não és desse tempo).
Uns podem vender cervejas sem t-shirt, mas dão o seu contributo à sociedade! Muito mais que o que pensas. E para quem pertenceu À equipa, sabes muito menos do que o que deverias.
Esses comentários são discriminatórios, tristes e mal conseguidos…
Depois queixam-se do constante afastamento de grupos e movimentos da Marcha LGBT… Devido a comportamentos discriminatórios e incorrectos como o teu discurso.
Tiago
As Feridas que estão abertas são pessoas como vocês na comunidade LGBT.
Têm direito à vossa opinião, e a achar o que quiserem. Mas isto não quer dizer que as coisas tenham de ser como vocês querem que elas sejam.
As várias organizações LGBT, que lutam pelos direitos lgbt, têm sim a legitimidade e obrigação de lutarem pelos direitos, dado essa ser a razão pela sua existência.
As outras organizações, como os Dark Horses, ou entidades como os Bares a que se referem, não o têm que fazer se não quiserem, e não têm que ser criticados por isso.
A realidade é que este argumento é uma falácia na sua génese, a incompreensão por aquilo que é a realidade da diversidade das pessoas que representam a sociedade e as entidades que são compostas por elas.
Há varias formas de activismo.
Há pessoas que não querem ir à Marcha porque não é essa a sua maneira de se manifestarem.
Os valores puramente seculares deveriam servir de mote para este tal movimento das Bichas Cobardes pela existência precisamente desta tal diversidade que deveria ser respeitada. Inves de usarem o fanatismo tipico de um qualquer culto religioso (parece!)
Dá-me a sensação que se trata de mais uma intervenção guiada pelo Ego. O Ego de quem diz, sim eu fui à Marcha!, e que acha que quem não vai não é um gay à séria, ou que se está a borrifar para os seus direitos.
No fundo é só isso: Ego.
É uma opinião. Respeito o vosso direito a vocês a terem. Mas não a respeito.
E assim é mais uma razão para não ir à Marcha no próximo ano. Tenho maneiras bem mais saudáveis de me manifestar, bem mais concretas, e sobretudo eficazes.
A Marcha é mais uma festa.
[email protected]
Achei este discurso mais intolerante que muitos homofóbicos.
Eu não frequento nem a Marcha, nem o Arraial porque não me identifico em nenhuma das suas formas. Tenho no entanto o mérito de todos os dias fazer um pouco mais pela visibilidade da comunidade, agindo de forma neutra e natural, não impondo nem desrespeitando o “politicamente correto”.
Posso afirmar com todas as letras, que consegui transformar mentes mais fechadas (culturalmente não censuro os homofóbicos), agindo de forma natural e neutra não chocando, e posso dizer que a minha experiencia que no inicio ao tentar “chocar”, abria espaço para mais homofobia.
Se querem viver dentro do armário, ires a bares de sexo, não gostarem de “marchas”, quem sou eu para apontar o dedo? Como eu quero direito a ser LGBT de forma livre e expressar-me de forma livre, porque hei-de eu impor a clausura verbal aos outros? Não faz sentido.
A todos os LGBT sejam eles de que “tipo” forem, o meu grande abraço e dentro do meu coração e circulo de amigos, cabem todos, sem medos, em forma de liberdade.
Jorge.
V
Triste que haja pessoas com mentalidade tão pequena e de tão baixo Q.I. que para terem 5 minutos de fama, o tenham que fazer com comentários tristes, ignorantes, intolerantes e homofóbicos!
Enfim…
eddy van wallendael
Se calhar temos de ler de novo a definição de o que é o gay pride. Gay pride não tem nada a ver com a austeridade… isso é politica géral. http://pt.wikipedia.org/wiki/Orgulho_gay
Porque todos estes grupos, porcos bear capitalistas do principe real, bixas cobardes, lésbicas azedas, bixas de quarto escuro, lesbicas simpaticas, bixas modernas, ursos com cultura, travecas de todas os cores, o gay universal, transexuais, bis, fag-hags e os novos a-sexuais não se juntam com também a ilga para fazer um grupo para organizar o gay pride, que dê um tecto para todos, com todos estes grupos juntos numa marcha que termina numa festa tipo arraial mas com lugar para todos e uma organização como deve ser sem mandar convites depois da data limite de inscrição, com cartaz de animação preparado no inicio do ano, com comunicação social para ter uma FESTA de orgulho onde nos pedimos atenção para nossos direitos como GLBT e nada mais. Sem EGOS mas com vontade de fazer alguma coisa para comunidade a TODA.
Luis
Compreendo esta ‘revolta’ das BC para com as efetivas ‘bichas cobardes’. No entanto, considero que temos também de saber respeitar o espaço e o tempo de algumas pessoas. Podemos tentar lançar ‘wake up calls’ ou algumas críticas (sobretudo quando criticam ou menorizam o ativismo) mas também temos de ter a consciência que nem todos querem, conseguem ou podem (por diferentes razões) sair do armário em diversas esferas da sua vida. Não me parecem que sejam esses que as BC criticam mas há que ter algum cuidado com as críticas… por vezes pode atingir as pessoas que não eram o alvo!
Além disso, penso que há que ter algum cuidado para não extremar demasiado alguns comentários/discursos. Não é uma crítica mas um conselho! Uma coisa é ter um blog de desabafos, outra é qdo se começa a ser um movimento ou associação. Alguns discursos podem mto facilmente criar mal-estar e ‘guetos’ desnecessários entre pessoas e associações. E a última coisa de que necessitamos é de divisões internas… se elas existem, temos de combatê-las e não alimentá-las.
NOTA: a propósito do comentário anterior, também discordo completamente do lema relacionado com a austeridade. Posso estar errado, mas não me parece que a situação seria diferente se não estivéssemos em crise. Além disso, não considero positivo misturar as coisas… Pode valer-nos o apoio de algumas instituições mas parece-me que descridibiliza a real mensagem!
Jorge
Luis, dizes: “Não me parecem que sejam esses que as BC criticam mas há que ter algum cuidado com as críticas.”….
Mas onde é que alguem tem o direito de criticar a forma de vida de cada um? Se não querem, não gostam e se ate “abominam” as marchas, qual o problema? Se queremos liberdade, temos de dar liberdade a essas pessoas tambem!
Simples.
HJL
Quando se ataca a marcha e o activismo LGBT com argumentos ignorantes e preconceituosos como são os seus, Jorge aka Cristiano Jorge aka Almeida das Couves, é natural que outros exerçam a sua liberdade de expressão para o criticar por sua vez.
Jorge
Argumentos ignorantes e preconceituosos? Por ser activista diariamente pelos direitos dos LGBT, e simplesmente por não me enquadrar com o trâmite da marcha?
Interessante.
HJL
Quantos preconceitos e estereótipos subscreveu e promoveu no seu falso moralismo e homofobia internalizada?
joao
atenção ao sr almeida das couves,fala mto mas è contra quase tudo,seja liberdade seja aborto,seja não católicos ou ate q não apoiem medidas extremas de justiça,digo vos q è preciso mto cuidado com esse sr
Almeida das Couves
Cuidado? Hmmm, interessante. Até porque eu não sou Católico, e não acho a Igreja Católica plausivel com os meus valores. Talvez me devesse conhecer melhor.
Mas aqui fica um grande Lol para o cuidado 😉
cvl
Tenho pena destes gajos que leram meia-dúzia de citações de pensadores pós-estruturalistas e nunca foram mais longe que isso. O que eles fazem é substituir uma ditadura comportamental por outra. Estamos a cuspir na cara daqueles que lutaram para que chegássemos aqui (os que lutaram a sério, com prejuízos inestimáveis nas suas vidas pessoais e profissionais, sem protecções de qualquer tipo), quando fazemos o que este colectivo faz, que é dizer-lhes: vocês lutaram para que nós conseguíssemos existir, agora nós vamos dizer em que padrões podemos existir. E quem não se identificar com eles, é homofóbico, odeia-se, está no armário, tem medo, é capitalista, é machista, é o raio que o parta. É muito triste que gente com um discurso tão supostamente revolucionário e libertário tenha, bem vistas as coisas, uma mentalidade tão fascizante.
Este grupo, completamente incapaz de auto-crítica (basta ler o blog deles), não perceberá nunca por que tanta gente prefere mesmo não ir à marcha, porque não podem conceber que alguém no seu perfeito juízo pense de uma maneira diferente da deles.
O activismo gay precisa de ser repensado a fundo, o mais depressa possível, e não é com teorias sobre o género e a sexualidade como construções sociais. Precisamos de perceber ao certo que activismo queremos e para que propósitos específicos. Porque estes postulados de teorias supostamente radicais que já foram escritas há mais de trinta anos e já foram refutadas por teóricos desde então, não fazem mais que dar do activismo a ideia de uma palhaçada sem utilidade nenhuma.
Almeida das Couves
Um comentário com pés e cabeça, nem eu faria melhor. Obrigado pela partilha 🙂
Cr.Lp
os seus valores mudam 8 vezes por dia só se mantém o desespero por atenção.
Luis Costa
Faz agora um ano que o "colectivo Bichas Cobardes" teve este momento de glória no final da marcha. Um ano volvido após as críticas, o que aconteceu?
Bem… os gajos do rugby, ao que parece, continuam a jogar rugby em Portugal e no estrangeiro (Austrália, Bélgica…). Também devem continuar a vender cerveja de tronco nu, em festas capitalistas, mas tenho a certeza que já conseguiram desmistificar mais alguns preconceitos e devagar, pelo desporto, vão fazendo um caminho de aceitação e respeito pelos homossexuais.
Já as Bichas Cobardes: inauguraram um evento mensal chamado chá das Bichas. Aberto a quem lá quiser ir falar sobre o que quiser…
Olhando para os caminhos seguidos, concluo que:
– a malta do rugby anda a dar a cara por esse país fora em torneios com equipas hetero e sujeitando-se às "bocas", mas mostrando que são tão ou mais competentes como os outros. É uma forma de activismo.
– as Bichas cobardes continuam a falar para dentro da comunidade, em alguns casos, acusando e dividindo. Provavelmente hoje atacarão outro grupo (a equipa de rugby tem jogos hoje e está longe de Lisboa) por outro motivo qualquer.
Não querendo dividir, mas penso que sei com quem me identifico…
Ana Sousa
Muito bem.
Eu não gostei nada desta notícia na altura e agora, uns meses depois, ainda gosto menos.
Não é a dividir a comunidade que se consegue o que quer que seja. Se os gajos do rugby não querem vir, problema deles. Não vão os do rugby nem vão muitos outros. Vai quem quer, quem pode e ninguém tem nada com isso.
Tenho pena que a marcha seja uma luta de egos entre associações e não seja uma festa de verdade, como em muitos outros países. Talvez nessa altura, apareça toda gente.
Cláudi@
Que discurso fóbico, meu Deus. Esta gente só sabe dividir… Apre!
João Ricardo
Na altura nem tinha visto isto, mas estou espantado. Estas Bichas Cobardes não têm mais nada para fazer do que atacar uma parte da comunidade?
Com tanta discriminação em todo o lado, era só o que nos faltava um grupinho a tratar mal as pessoas.
O que vale é que eu me estou nas tintas para gente desta
Anónimo
Mas esta gente passa-se! Criticar quem não vai à marcha? Está mesmo tudo doido
Anónimo
Ahahaha… idiotas