opinião

Porque nos incomoda tanto ver um homem com tinta nas unhas? 

Gostava muito que não tivéssemos de falar sobre isto em 2021.

 

 

Pintar as unhas não define o género, a orientação sexual, ou nada mais acerca da pessoa que as usa pintadas. Mesmo que definisse, isso não atribuía a ninguém o direito de julgar outra pessoa e de limitar o seu acesso a formação, a emprego, etc.

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Pintar as unhas é… para quem quer pintar as unhas. Não tem de ser em nome uma causa, nem porque se tem uma identidade mais queer, e definitivamente não tem de se ter uma vu!va para se pintar as unhas. Regra geral, nem é com os genitais que se pintam as unhas 😱

 

Este caso do aluno de Ponta Delgada abana-nos e inquieta-nos e lembra-nos que a igualdade e o respeito pela diversidade está longe de estar consolidado e garantido. 

 

Este caso é um bom exemplo de como se manifesta a repressão de rapazes e a reprodução de modelos de masculinidade tóxica. E acredito mesmo que, na história de cada homem visceralmente incomodado com umas unhas pintadas num outro homem, está um rapaz que cresceu a ser constantemente lembrado – por homens e mulheres – de que tinha de comportar de uma determinada forma para ser considerado um homem a sério. 

 

Mesmo eu, que até penso bastante sobre estas coisas, dei por mim a hesitar se aderia ou não a este apelo à acção e se pintar as unhas não seria ir longe demais. Revi mentalmente se isto não poderia ter um impacto nas minhas relações com a minha família alargada, com o meu emprego, se poderia trazer-me problemas, se me colocaria numa situação menos segura – a falta de segurança que tantas vezes senti, na infância e adolescência, quando escolhia fazer algo que não coincidia com o que era esperado de um rapaz. Frequentemente, a sociedade fazia questão de “me lembrar” de que eu estava a ir longe demais.

 

Vamos mudar isso? #unhassemgenero 

 

Mário Santos 

 

3 Comentários

  • Amigo

    Muitas pessoas que atribuem “estereótipo” para homem e mulher, muitas vezes deixam “implícita” a “performance” sexual. Já ouvi mulheres conversando, onde uma delas comentava, que “orientou” ao marido que dissesse na Barbearia que a esposa dele que apara as sobrancelhas dele! Nem o fato de estar em local público com homem próximo a impediu de fazer tal “relato”!

  • A Miúda

    Vamos mudar isso! Honestamente, faz-me mais confusão ver um homem de saia ou de saltos altos, do que um homem com as unhas pintadas. Mas também isso deve ser mudado! A roupa e os acessórios também não devem ter género!

    Em relação às unhas, enquanto mulher eu não pinto as minhas. Não tenho paciência para isso. Da mesma forma que eu não as pintar não faz de mim menos mulher, um homem que decida pintar as dele também não é menos homem por isso.

    Desconheço o caso do aluno de Ponta Delgada, mas o que é certo é que ainda vivemos numa sociedade com muitos preconceitos e com muitas “normas” de comportamento, de apresentação, de tudo e mais alguma coisa, que não fazem qualquer sentido nos dias que correm e que só servem para causar situações embaraçosas, discriminatórias e por vezes violentas. São coisas que já existem há muito tempo (tempo de mais) e superá-las leva ainda mais tempo. Mas acredito que vamos conseguir! Temos de conseguir

  • Morganna la Belle

    Continue pintando suas unhas, querido! Quanto mais quebrarmos esses estereótipos ultrapassados de gênero mais nos emanciparemos como seres humanos. Em tempos de copa do mundo onde um país de costumes bárbaros coloca a sua cultura retrógrada acima dos direitos humanos cabe a nós fazermos a nossa parte. Mesmo que seja só pintando as unhas. Bjos