Entre os numerosos jogadores, há, estatisticamente, muitos gays. Na selecção húngara como na portuguesa e nas restantes. Tem de haver. O mito de que é preciso ser hetero para acertar na bola daria vontade de rir... se não fosse maioritariamente aceite.
Penso nesses jogadores, na dificuldade em fazerem a sua vida normal, sempre debaixo da espada de Damócles que lhes faria a carreira num oito, se assumissem quem são. Tal como na história do Cinema, ou entre membros do clero inteligentes e sensíveis que iriam pregar sermões para o fundo das paróquias mais remotas se falassem.
O que a União Europeia veio dizer, em nosso nome, é que não há democracia se não tivermos todos os mesmos direitos. Quando se deixa cair um homem ou mulher, caímos todos. E é o nosso dever como cidadãos e pessoas voltar atrás, ajudar a levantar do chão e defendê-lo para que a nossa caminhada possa continuar.
Não há democracia se não tivermos todos os mesmos direitos. Quando se deixa cair um homem ou mulher, caímos todos. E é o nosso dever como cidadãos e pessoas voltar atrás, ajudar a levantar do chão e defendê-lo para que a nossa caminhada possa continuar.
Não é uma questão de "gosto", "liberdade de pensar diferente", "não querer que os nossos filhos ouçam falar de coisas com as quais não concordamos". É um dever democrático não discriminar ninguém. Acolher. Aceitar aquilo que pode não perceber-se ou estar-se habituado, mas que só diz respeito a essa pessoa.
E não é pela hipocrisia, igualmente, que nos salvaremos.
Não é preciso ser gay ou lésbica para desfilar pelas ruas em sua defesa enquanto tiverem dificuldade para alugar um apartamento enquanto casal, verem o seu pedido de adopção atrasado, enfiado no fundo da gaveta, escrutinado para ver se há alguma criança que ninguém "de bem" queira para lhes ser atribuída (e que bonito acaba por ser adoptar aqueles que ninguém quer...) e por aí fora.
Não precisámos, enquanto sociedade, de ser escravos para condenar a escravatura. Judeus, para acabar com a inquisição. Mulheres agredidas para legislar contra a violência doméstica. Etc., etc., etc.
Não precisámos, enquanto sociedade, de ser escravos para condenar a escravatura. Judeus, para acabar com a inquisição. Mulheres agredidas para legislar contra a violência doméstica.
Precisámos apenas de perceber que há mais mundo e mais pessoas para além do que está ao alcance do braço.
É preciso dizer às Hungrias, Polónias e aos movimentos conservadores nacionais, que não se avança sem a força de todos os remadores.
O barco do progresso é pesado e tem muito lastro.
Não fazer a sua parte é um direito, é verdade, mas o mais triste de ser exercido, porque consente no sofrimento do outro.
Possidóno Cachapa, escritor, argumentista e realizador