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Cristina Méga, 55 anos, ​é mãe de dois filhos, um de 28 anos e outro de 23 anos, com orientações sexuais diferentes. Foi à Marcha do Orgulho LGBTI+ de Lisboa com um cartaz em que se lia (à frente) “Eu amo o meu filho, ele ama quem quiser” e no verso “Amar os filhos(as) é: Aceitar, Respeitar, Apoiar nas suas Escolhas e na sua Essência". As fotos sobre a sua presença na Marcha tornaram-se virais.

 

“O propósito ​é tocar as consciências das mães e pais. O meu filho, Diogo Mega, sabia que eu ia participar na marcha e na véspera quando fiz o cartaz, mostrei-lhe e ele ficou muito feliz. Gostaria muito que todos os filhos LGBTI se sentissem assim como o meu”, conta Cristina Méga. “N​a minha profissão como coach/terapeuta trabalho com as emoções, traumas​,​ ao nível do inconsciente​ e ​tenho pacientes gays e lésbicas. ​Tenho consultório em Lisboa na Avenida 5 de Outubro.​Este ano resolvi contactar a ILGA para oferecer os​ ​meus serviços.​ Reuni com uma pessoa responsável e apresentei uma proposta. Também já contactei a AMPLOS para poder colaborar com as mães e pais de filhos LGBTI que esta associação apoia”, refere.

 


A sua presença na Marcha de Lisboa teve grande impacto nas redes sociais graças à mensagem que constava no cartaz: "Eu amo o meu filho, ele ama quem quiser!" Que reacções foi tendo ao longo da marcha? 

Assim que cheguei ​ao Príncipe Real, ​o cartaz ​começou a atrair jovens a pedir para fotografar. As reacções foram crescendo e fui ficando muito sensibilizada com ​a ​sensação de dever cumprido, ainda sem perceber que teria tal repercussão. Na Marcha a dada altura o Gonçalo da ILGA permitiu que eu subisse para um dos autocarros do cortejo e aí tive imensas reacções de muitos jovens que tiravam fotos e agradeciam. ​ ​Ao longo da marcha senti uma responsabilidade e alegria a crescerem em mim como se o propósito estivesse a ser cumprido.


​Houve alguma reacção ou comentário que lhe tenha tocado particularmente?

Ainda chorei quando duas raparigas vieram ter comigo a dizer que gostavam muito que a mãe percebesse o que eu dizia. E eu disse-lhe: “Tira a foto e mostra, nunca saberás se ela vai entender". E ela tirou. Também um jovem que trazia a mãe com ele veio ter comigo a pedir se emprestava o cartaz para ele e a mãe tirarem uma foto. Claro que depois abracei aquela mãe, que tal como eu ali estava com o seu filho a apoiá-lo.


Ainda chorei quando duas raparigas vieram ter comigo a dizer que gostavam muito que a mãe percebesse o que eu dizia. E eu disse-lhe: “Tira a foto e mostra"  

 

Por que acha que continua a ser raro encontrar pais a integrar a Marcha a apoiar os seus filhos LGBTI?

Ser mãe de um filho gay é tão natural que fui para a Marcha sem pensar que isso poderia ter qualquer repercussão para mim ou "minha imagem". Isso não faz sentido para mim. Penso que muitos pais não participam na Marcha por duas razões. Em primeiro lugar porque estão preocupados com os outros, com a sociedade, os amigos, a família ou os colegas do trabalho, mas não estão preocupados com a felicidade dos seus filhos. Em segundo lugar porque muitos não sabem ou não aceitam que os filhos são LGBTI. Isto é o mais grave na minha óptica. Por isso achei que devia tocar as consciências dessas mães e pais para perceberem que é natural estar numa marcha de defesa da igualdade de direitos e liberdade de escolha.


Que mensagem tem para os pais que nunca pensaram ir a uma Marcha LGBTI?

Estes pais que não vão a esta Marcha, mas, se calhar vão a manifestações de defesa dos animais, e de defesa dos professores, ou qualquer outra escolha, o que acho também legítimo. Então porque não participam na defesa de igualdade de direitos dos seus filho ou dos outros seres humanos do seu país? Não entendo. Recuso-me a aceitar esta realidade de braços cruzados. Muitas vezes os pais e mães ao saberem da essência do seu filho ou filha ficam sem saber como reagir e sentem-se sozinhos e desamparados. Assim como há filhos que "bloqueiam" os pais e não permitem que partilhem as suas vidas, por se sentirem não aceites. Eu, que defendo os direitos de todos os cidadãos do mundo, não defendo os filhos e filhas do meu país? Nos outros países as famílias vão com os seus filhos à Marcha do Orgulho para que eles entendam que é uma festa pela igualdade de direitos de escolha da sexualidade dos seres humanos, mesmo sendo hetero. Nós, em Portugal, estamos muito atrasados em termos de consciência e mentalidade.Acredito que as mentalidades só se alteram com o exemplo. A educação faz-se pelo exemplo, logo as pessoas só podem aprender se virem alguém a fazer diferente, e perceberem porquê.


Nos outros países as famílias vão com os seus filhos à Marcha do Orgulho para que eles entendam que é uma festa pela igualdade de direitos de escolha da sexualidade dos seres humanos, mesmo sendo hetero. Nós, em Portugal, estamos muito atrasados em termos de consciência e mentalidade 

 

Enquanto mãe, como reagiu quando soube que o seu filho era homossexual? Apoio-o desde o primeiro momento?

O meu filho desde pequenino que manifestou a sua essência e eu sempre o apoiei. Portanto fui percebendo que quando chegasse à fase da sexualidade ele poderia fazer uma escolha diferente da do irmão. Mas o mais importante para mim sempre foi o meu amor pelos meus filhos, de forma absolutamente igual. Quando percebi que ele sofria na escola, que era "discriminado" mudei-o para uma escola em Lisboa que tinha o curso que ele pretendia tirar. Com 15/16 anos assumiu-se perante o pai e irmão com o meu apoio, e todos o aceitaram, tendo por base o amor incondicional. Ele diz que teve muita sorte, relativamente aos relatos de muitos amigos. Fico muito triste por ser essa a realidade de muitos jovens que não podem ser autênticos no seio das suas famílias e terem que viver vidas duplas em sofrimento, fazendo o “coming out” aos 30 anos, por exemplo.


Com 15/16 anos assumiu-se perante o pai e irmão com o meu apoio, e todos o aceitaram, tendo por base o amor incondicional. Ele diz que teve muita sorte, 

 

Já agora, o seu filho também foi à Marcha de Lisboa?

Não foi à Marcha porque estava a trabalhar, mas sabia que eu estava lá com o nosso amigo e foi recebendo fotos e vídeos dos amigos. No final quando lhe liguei espantada com a reacção das pessoas, ele já sabia e estava muito feliz e orgulhoso. Partilhou uma foto minha nas redes sociais, eu fi-lo de seguida e nunca esperei que tivesse tanta aceitação e divulgação nacional e internacional (cerca de 3000 likes e 600 partilhas). Para a próxima estaremos juntos certamente.