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Relato de um crime de ódio em Carcavelos

A. regressava da praia de Carcavelos na passada sexta-feira, 22 de Outubro, e dirigiu-se para uma das extremidades da Quinta dos Inglesinhos, onde tinha o seu meio de transporte. Nesse espaço, mesmo em frente à praia, situa-se o colégio privado St. Julian’s School e é utilizado para a prática de desporto. Na vegetação densa da Quinta dos Inglesinhos ocorrem, ocasionalmente, engates entre homossexuais.

 

No caminho A. é interpelado por um homem com um piscar de olho. A. pára. O outro homem avança para a vegetação. A. quer convidá-lo a sair dali. Quando se vira para a vegetação, sente um tiro de uma pressão de ar. O horror e a adrenalina apoderam-se de si. Ao virar-se para identificar o lugar de onde veio o disparo, apenas vê uma elevação.

 

A. decide procurar quem o agrediu, para que não fique impune. Decisão que lhe vem da revolta, da indignação sentida naquele instante.  Passa por um grupo de skaters, que garantem não ter visto ninguém com um arma. Contornando pelo outro lado a elevação encontra os agressores.

Vê dois homens jovens agachados de armas em punho, em posição de disparo. Apontavam para o local onde tinha sido alvejado. Ao correr na sua direcção, os jovens fogem para junto do grupo dos skaters. Assobiam para o alto uma combinação de sons. Ao confrontá-los, ofendem-no com expressões homofóbicas, denunciando que se estava perante um crime de ódio. Neste segundo confronto, os agressores carregam as armas. Um deles, mais distante, terá disparado sobre A. e o outro, mais próximo, aponta-lhe a arma ao rosto. A. consegue desviar o cano e ficar com a arma, momento em que aparece outro homem jovem. Agarra a arma e, enquanto a tenta recuperar, o agressor esmurra A. por cinco vezes junto ao olho direito até que largou a arma. Nesta altura o outro agressor pega num tubo de metal. Bastaria um golpe na cabeça para A. perder os sentidos, cair e ser um mero saco de boxe para aquelas pessoas. Quando se preparavam para lhe desferir o golpe, o terceiro homem pára o companheiro, dizendo-lhe para ter calma porque a situação poderia terminar bastante mal. É nessa altura que A. foge. Os skaters, que já antes asseguraram que nada tinham visto, assistiram a tudo e nada fizeram.

 

A. procura socorro num estabelecimento comercial. Chamam a PSP, que rapidamente chega e dá-lhe todo o apoio possível, incentivando-o a ir ao hospital. Só agora é que A. se apercebe que tem o braço direito ensanguentado. Tinham-no atingido com um segundo tiro de pressão de ar e nem o tinha sentido. A. liga então ao 112. Passados poucos minutos uma ambulância dos bombeiros vem em seu auxílio, levando-o para o hospital de Cascais, onde a bala da pressão de ar, alojada nas costas, lhe foi retirada. Fazem-lhe raios x ao rosto, costas e braço, mas não encontraram a segunda bala, apesar dos ferimentos. A. liga a um familiar para o levar a casa. No dia seguinte foi à esquadra de Carcavelos para prestar o depoimento. Não foi necessário apresentar queixa, já que se está perante um crime público.

A. foi agredido na sua individualidade, no seu ser, no seu ego, como homem, como pessoa, como homossexual. As feridas interiores que lhe desferiram ficarão, assegura ao dezanove, vivas durante os próximos anos. A., por questões de privacidade prefere não ser identificado.

 

Luís Veríssimo

 

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7 Comentários

  • Nuno

    Carissimos, há 3 atrás fui vítima do mesmo por alguém de quem eu identifiquei pois era um Ex-Amigo! Desde ofensas verbais, psicológicas, morais, pessoais e físicas, até agora aguardo resposta por parte dos tribunais de uma situação identica e tambem numa praia da linha. Existem muitas pessoas homofóbicas! Mas o que é certo é que vim a descobrir que fui cobaia de alguém que se esconde de o ser. Há muita gente que quer tentar denegrir a imagem dos outros para não ser apanhado por também o ser e partem para a violência.
    Uma vez que o dito não se quiz identificar, fica aqui alguém que já passou por algo identico, sendo que apenas não fui alvejado porque estavam presentes autoridades, mas de um bastão de carbono não me vi livre nem de pessoas a gritarem algumas palavras menos prórpias, por isso td o que for necessário A.(assim identificado) é só pedir pois eu tenho todo o gosto em ajudar, arranjo um bom advogado que é quem me está a acompanhar e sabemos todos os trâmites os quais podem levar a uma execução rápida ou mais rápida do que a minha.
    Mas para evitar mais tais situações deveriamos ter a ombridade de fazer uma manifestação contra a homofobia. Ou então solicitar a participação em algum programa de TV, pois eu tambem gostaria de poder contar determinadas coisas com que uma pessoa passa e não é acompanhada por ninguém e teve e está a vivê-la todos os dias, sendo que no ceio da familia continua a ser ovelha negra e todos os dias injuriado pela mesma.
    Sei o que isso é e é por isso que gostaria de ajudar a pôr fim a esta questão que é a HOMOFOBIA!

  • migo

    ISTO está demais , estes homofóbicos , por vezes não estão certos da sua sexualidade e por receios escondidos de serem homossexuais tornam se homofóbicos.
    Quem está bem com a sua sexualidade não faz coisas destas….

  • Gonçalo

    A. é homossexual? Não se percebe isso a não ser no fim quando o dizem.
    O início do texto dá a entender que A. só está a dizer ao homem para sair dos arbustos e ir embora: “A. quer convidá-lo a sair dali.”. Por isso parecia-me um crime de ódio onde a vítima nem sequer era homossexual, ou seja, teria sido engano dos agressores.

    Quanto aos skaters não terem feito nada, dependendo da situação também não se pode fazer muito. Eu se assistisse a um crime provàvelmente também não faria nada caso visse no contexto uma arma que pudesse pôr a minha vida também em risco. Além de fugir e atirar umas pedras não conseguiria fazer muito mais.

    Conheço bem a zona mas não fazia a mínima que por lá havia engates.

  • Nuno

    A. é homossexual, foi atingido e também não sabia que havia ali engates, mas o que importa é que além de homofóbicos os próprios skaters foram cumplices e coniventes de um crime! crime publico! se o A. se lembrar da cara dos agressores então os mesmos vão ver o que é bom umas xicotadas policiais nas prisões portuguesas, isto da direito a cadeia até ao maximo de 8 anos para os cumplices e coniventes e pode ir ate 25 anos para o agressor principal, pois atingiu com 1 de 2 disparos!
    infelizmente ha de td neste pais

  • Luís V

    Tudo o que aconteceu a A. é tão revoltante e gritante, que tem que ser denunciado e divulgado, para que casos como este deixem de ser comuns.
    Força A..

  • M

    Eu só gostava de saber, no caso do primeiro comentário, o que motivou a agressão verbal. É claro que há homofobia e ela deve ser combatida. E é claro que todos devemos ser livres (independentemente do contexto em que se fala dessa liberdade) mas gostava de perceber o que despoletou a situação.
    No caso de A. foi o “convite” do outro fulano. No caso do comentador, foi o quê?

  • Bruno Rodrigues

    Falas bem e com razão, diga-se de passagem. 🙂 Mas não temos um Estado de Direito capaz de funcionar bem a esse ponto!