Olá. Hoje é o Dia Nacional do Coming Out nos Estados Unidos da América.
Parece-me um momento interessante para balanços por mais que a Operação Marquês engorde o feed das nossas vidas.
Sempre tive um problema com a expressão “coming out” ou “sair do armário”. O “assumir” também não me cai bem. Acho o “confessar” horrível. Toda esta terminologia pressupõe um segredo; uma vergonha; um pecado escuro e sombrio que deve ser posto de lado a todo o custo.
Foi assim que cresci até aos 19 anos quando acabei por contar aos meus pais, lavado em lágrimas, cheio de medo de rejeição e com uma sensação de perigo iminente, que “gostava de rapazes”.
Antes disso contei a alguns amigos. E, mais tarde, às pessoas com quem trabalhava.
Há muita solidão neste processo. Não é simples e deixa nódoas na alma durante anos.
No meu caso, tenho a sorte de viver rodeado de pessoas que me amam. E de ter nascido de pais que são inteligentes, sensíveis e com a noção do que é gostar. Dito isto: eu não sou especial. Sou um homem igual a tantos outros que tem um megafone nas mãos (no entanto, concedo que tenho pestanas incríveis).
Não fazer alguma coisa quase nos 30 era voltar a contribuir para a tristeza do Rui Maria dos 12 que controlava os gestos, os gostos, a voz, na esperança de ser aceite.
Aquilo que aconteceu há um ano está explicado neste vídeo. A minha motivação foi mostrar que não, não é aceitável que alguém seja diminuído por gostar de alguém do mesmo sexo. Ou por ter uma pele que não é branca. Ou até – e friso – gostar de Nickel Back.
Recebo todas as semanas mensagens cheias de dor de rapazes, raparigas e tudo o que há pelo meio. Todos se tentam descobrir numa sociedade que é nos diplomas aberta, mas na rua violenta. Ainda hoje ouvi gritar de um táxi palavras que só costumo ouvir no cinema português. Gay ainda é usado como um insulto. É por isso que sei – e não é por ter ganho um este prémio da ILGA Portugal em 2016, mas obrigado por isso -, que fiz bem. Há ainda muito medo e, sobretudo, muito ódio.
Cabe-nos ajudar a matar a vergonha.
3 Comentários
Aninhas
Ninguém é GAY prq quer, eu penso que é algo errado que já nasceu com a pessoa, e a pessoa não tem culpa. E como disse a sua mãe e mto bem no alta definição, e estava a falar da sua irmã, sejam os nossos filhos o que forem devemos ama-los como eles são! Eu tb sou mãe, aninha filha tb teve uma grande depressão, e se eu tivesse um filho GAY não o ia desprezar! O importante é a família mais próxima e você se sentir feliz, o resto, deixe que digam que falem, logo se cansam! SEJA FELIZ À SUA MANEIRA. Um abraço.
Anónimo
Força Rui! Estamos contigo! Abraço
Anónimo
“eu penso que é algo errado que já nasceu com a pessoa”
Acho bastante problemática esta parte do comentário.