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#SÓQNÃO: é hora de salvar a sociedade do preconceito

Após duas temporadas, o projecto #SÓQNÃO está de volta para dar voz aos outsiders que são vistos como “não normais” pela sociedade. Em pouco mais de dez minutos por episódio, esta temporada consegue, em quatro dos dez episódios, dar representatividade  à comunidade LGBTQ+ e destaque ao não-binarismo, bissexualidade e à temática trans. 

 

No primeiro episódio, Ary vem falar da sua experiência pessoal, dos seus sucessivos coming-outs e de como a sua transição alterou a sua percepção quer de género enquanto construção social, quer do corpo enquanto agente político na sociedade. Ary fala de como descobriu o não-binarismo de género e de como compreendeu o violento sistema de género binário, uma criação do homem cisgénero branco capitalista e patriarcal que perpetua mitos sobre as pessoas não-binário. Ary sempre lutou contra a sexualização do seu corpo, e sente que perdeu parte da sua luta por agora ser lido como um homem. Porém, a luta pela defensa da sua identidade trans e não-binária continua.

No episódio três, o brasileiro Thiago, membro da comunidade LGBT, fala da saída do Brasil devido às políticas do governo de Jair Bolsonaro e de como lidou com a burocracia e o preconceito de ser emigrante em Portugal. Infelizmente é visto por muitas pessoas como alguém que vem roubar trabalho aos portugueses. 

Já no sétimo episódio, Elisabetta vem falar da forma como as suas experiências pessoais a fizeram percepcionar a bissexualidade como uma orientação sexual invisível quer na comunidade arco-íris, quer na sociedade. Elisabetta aborda os vários mitos sobre a bissexualidade que vão desde a necessidade de “escolher um lado”, até à concepção de que todas as pessoas bissexuais são poligâmicas. Consegue-se, sem cair em estereótipos, abordar a forma como a sociedade tem dificuldade, por exemplo,  em ver a mesma pessoa numa relação com um homem e depois com uma mulher. Assim, Elisabetta questiona as nossas conceções sobre bissexualidade e a falta de referências que nos poderiam ajudar a entendermos-nos a nós mesmos. 

No penúltimo episódio, Maria João vem falar da sua experiência enquanto mulher trans e de como passou cinquenta anos a “não viver”. Fala da sua educação, as experiências que teve com as sensações sobre o seu próprio corpo, e a forma como o seu desejo por atenção levou a várias distrações que podem ter sido a causa para não ter compreendido mais cedo que era trans. Aborda ainda a sua experiência de transição em pleno confinamento e espera continuar a alinhar o seu corpo com a forma como se sente.

Em suma, esta é um projecto que busca cada vez mais dar voz aos que não são ouvidos e que quer, quem sabe num futuro próximo, acabar com a marginalização destas pessoas na sociedade.

#SÓQNÃO é um programa da autoria de Joana Martins para ver na RTP Play.

 

Daniel R. Santos

 

Um Comentário

  • Mosaicos em Português

    Independentemente do direito que, evidentemente, reconheço a cada um e a mim de ter a orientação sexual que tiver sem que tal seja, ainda que remotamente, causa ou pretexto para qualquer tipo de discriminação – negativa ou positiva, claro está -, do ponto de vista meramente vocabular não posso concordar com a utilização imprópria e, até, abusiva do termo ‘género’ com o significado que, atualmente, lhe é indevidamente associado pelas Ciências Sociais.
    Se o tema lhe interessar, sugiro uma visita a https://mosaicosemportugues.blogspot.com/2021/04/sexo-e-do-genero-masculino.html, onde poderá acompanhar o que refleti sobre o assunto, e comentar como lhe aprouver.