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Os últimos meses têm sido estranhos. Parece que sem saber muito bem como, fiquei encalhado no ditado popular “sorte ao jogo, azar no amor”, sendo que no meu caso é mais “sucesso no trabalho, azar no amor”.

 

Do ponto de vista profissional, a minha vida nos últimos meses tem sido um dos melhores períodos da minha vida apesar de das muitas dificuldades envolvidas no género de trabalho que faço. Tem sido um período em que vejo que a dedicação que fui investindo ao longo da minha vida na minha Arte recebem finalmente um género de reconhecimento que eu lutei para conquistar. Claro que isto gera aquela ansiedade extra de don’t fuck it up, mas como eu já ando nisto há algum tempo, esse é um estado mental que eu sei gerir.

Contudo, solidão “cá em cima” (por assim dizer), é lixada. Tenho plena noção que aquilo que a torna mais difícil de gerir é o espaço abismal entre aquilo que era a minha esperança para o que a minha vida pessoal seria quando eu chegasse a este patamar profissional, e aquilo que realmente é. Principalmente a esperança de ter alguém ao meu lado com quem partilhar estas coisas  e em quem eu sentisse uma felicidade genuína na minha própria felicidade. É certo que os amigos estão cá e eu também sou auto-suficiente q.b. para olhar para as coisas e dizer a mim mesmo “olha, muito bom trabalho!”, mas faz-me falta ouvir isso de alguém e depois ficar na ronha no sofá a ver Schitt’s Creek pela milionésima vez.

O facto de esta felicidade profissional vir no rescaldo da minha “Desilusão do trimestre passado” (acerca da qual eu escrevi uma crónica que depois de ler achei que era material mais digno de uma tese de doutoramento em sociopatia funcional, e que, por isso, vai ficar no baú para já), torna mais difícil lidar com esta solidão. Ter passado meses a pensar que tinha aprendido com os erros anteriores e que estava a fazer as coisas com calma e, ao fim de quase meio ano, levar com um “afinal acho que não”, na mesma noite em que essa pessoa me diz que devíamos sair para jantar e comemorar boas noticias que eu tinha recebido esse dia, foi a proverbial retirada do tapete de debaixo dos pés.

Ter passado meses a pensar que tinha aprendido com os erros anteriores e que estava a fazer as coisas com calma e, ao fim de quase meio ano, levar com um “afinal acho que não”, na mesma noite em que essa pessoa me diz que devíamos sair para jantar e comemorar boas noticias que eu tinha recebido esse dia, foi a proverbial retirada do tapete de debaixo dos pés.

A minha reacção a esta situação assusta-me um bocado porque já deixei de ficar a remoer nas coisas e passei apenas a pensar “mais um… move along”. Assusta-me porque não consigo perceber se é um desapego vindo de amadurecimento, ou se é algo que provém de um sentimento de gasto e erosão emocionais. Para uma pessoa que, como eu, se considera um optimista pragmático (o que significa que eu não digo à toa que “vai ficar tudo bem”, mas que olho para o que preciso de fazer para que fique tudo bem), aperceber-me que começo a entrar numa espécie de estado de espírito em que vou perdendo a esperança que as outras pessoas sejam capazes de ser decentes, é um sentimento um bocado triste.

É triste porque não é uma escolha voluntária. É sim a única reacção da qual me vou sentindo capaz. Os ingleses têm uma palavra óptima para isto: “jaded”. A tradução mais exacta seria, como mencionei acima, “emocionalmente gasto” o que é muito diferente de “emocionalmente cansado”: o cansaço envolve um esforço activo que causa perda de energia. Sentir-me gasto é mais como um sentimento de erosão como mencionei, em que apesar das minhas melhores intenções em fazer com que as coisas dêem certo, parece que nada funciona e fico tipo uma falésia do Algarve em que sou fodido (não literalmente) por todos os lados: ou pelo mar, ou por construcção civil desregrada a colocar toneladas de betão em cima de um sedimento estruturalmente frágil. 

O que resta de optimismo em mim, mantém a esperança um bocadinho mais acesa. Não por uma crença inocente de que alguma coisa de bom pode estar para acontecer, mas pelo conforto de saber que com mais ou menos energia e mais ou menos vontade, ainda tenho agência suficiente para tomar passos mais ou menos pensados para tentar mudar as coisas.

É também por este motivo - além da falta de tempo - que tenho andado mais caladinho na minha escrita (pelo que peço desde já desculpas): creio que estou a passar por uma fase em que acho que não tenho muita coisa para dizer, nem reflexões pertinentes como fiz em crónicas passadas, e que estou mais a precisar de ser ouvido do que propriamente de falar (ou pregar, porque sejamos francos… a mana gosta de pregar um bocadinho).

 

R. J. Ripley

 

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