“Sou jogador com carreira na primeira liga portuguesa de futebol desde muito novo. Soube que era homossexual na adolescência e desde então reservei-me ao máximo pois os balneários são espaços de masculinidade e onde existe algum gozo e crítica do que é diferente.” O depoimento foi feito à reportagem “Fora de Jogo – A homossexualidade no futebol”, exibida no programa “Linha da Frente”, da RTP.
Num testemunho inédito, este jogador, que preferiu participar na reportagem com uma declaração escrita, conta porque não dá a cara: “Tenho medo que a minha carreira acabe caso descubram a minha tendência sexual. Por isso nem sequer me passa pela cabeça assumir ser homossexual”, refere, contando mais à frente que “gostava de estar num meio profissional que me permitisse assumir a minha orientação sexual sem qualquer receio”. Também o sexólogo Júlio Machado Vaz reforça que este não é um caso isolado: “Ao longo de 40 anos de profissão ouvi jogadores de futebol que eram homossexuais e que o escondiam cuidadosamente.”
A reportagem conta ainda a história de Justin Fashanu, o primeiro jogador inglês que assumiu ser homossexual anos 90 e que acabou por suicidar-se. “Não quero voltar a ser uma vergonha para os meus amigos e família”, escreveu então Justin Fashanu na carta de despedida.
Abel Xavier (ex-jogador), António Serzedelo (Opus Gay), Miguel Vale de Almeida (ex-deputado), Manuel Sérgio (filósofo), Fátima Duarte (CIG) e Ricardo Porém (Sporting) foram também entrevistados para este trabalho. Benfica, Porto e Liga Portuguesa de Futebol não quiseram participar nesta reportagem de Filipa Simas (jornalista), Mário Raposo (imagem) e Sara Cravina (edição). Encontras a reportagem completa aqui.
6 Comentários
Filipe
Afinal a homossexualidade não existe apenas entre estilistas, cabeleireiros, actores, ou escritores. Há atletas, futebolistas, médicos, políticos, trolhas ou militares gays.
Há uns anos houve uma reportagem sobre toureiros homossexuais em Espanha.
Seria interessante uma reportagem sobre homossexualidade na ainda conservadora classe médica portuguesa. Há ainda muitos médicos com receio de viverem a sua orientação.
Helder Pereira
É pena é referir-se à sua orientação sexual como “tendência”. Eu hoje tendo para os meninos e amanhã tendo para as meninas. É isso e ainda se ouvir muita boa gente inclusive homossexuais a dizerem “opção sexual”. Quando o preconceito ou desinformação parte de nós próprios é grave. É preciso ser-se rigoroso porque já chegam os homofóbicos e afins a terem ideias pré concebidas e deturpadas da homossexualidade.
Belmiro Pimentel
Bem observado por parte do Helder… foi igualmente uma coisa que me chamou de imediato a atenção “tendência” como se estivessem a falar de moda… por acaso é na verdade o que mais preocupa ainda, os próprios LGBTI não usam a linguagem corretamente mas exigem depois que os hetero a usem, na realidade não pesquisam sobre esses assuntos para facilmente os rebaterem e se protegerem… Assim como é ridiculo ouvir constantemente jornalistas, médicos, forças de autoridade, professores, enfim uma panóplia de gente que não o devia fazer, a quem estaria obrigado necessariamente outra postura, usarem ao invés de orientação sexual termos outros como “tendência”, “opção”, etc… E não serem corrigidos de imediato… Enfim está visto que a mudança vem muito longe…
Mário
Num momento em que a cultura geral se nivelou por baixo ( de modo global), em que as pessoas não usam os termos certos de muita coisa, é quase um requinte ficar espantado que entre os erros comuns de sintaxe, ortografia, construção das frases, etc., se tivesse tido a sensibilidade e o sentido crítico de questionar os termos usados.
Concordo em absoluto com as reclamações mas não gosto da recriminação sobre os gays que não fazem x ou y. Provavelmente, não pensaram ainda no assunto, ninguém lhes havia chamado à atenção.
Numa cultura generalizada por baixo, é através da televisão e da cultura hetero que se constrói a cultura geral dos gays, é insensanto acreditar que os gays deviam ter reparado num termo que na verdade, por o ouvirem, tenderão a assimilar. Os gays e os outros todos, porque isto acontece com outros assuntos, também.
( desabafo: faz-me um bocado de confusão quando os gays recriminam os comportamentos dos outros, como se fossemos um sindicato, uma cena de classe. Somos pessoas, individuais).
Anónimo
É muito reveladora a recusa de participação de Benfica, Porto e Liga Portuguesa de Futebol. Diz tudo, da mesma forma que o silêncio do Bruno de Carvalho diz tudo sobre o seu apoio ao mafia job de Alcochete.
Anónimo
o meu fetiche!
Como será que eles fazem para terem relações!!
Será tipo um grupo “secreto”, loucura só de pensar nessa questão…