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The White Lotus: do humor negro ao retrato de uma humanidade caótica 

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Aviso: Este artigo pode conter spoilers. 

 

The White Lotus, de Mike White, lançada em Julho de 2021, mostra ser uma das séries mais  aclamadas de 2022. Contabilizando uma enxurrada de prémios, entre 20 nomeações aos Emmys e  quatro Globos de Ouro, a série que lançara no passado dia 11 de Dezembro o último episódio da  segunda temporada, promete agora ter uma terceira a ser distribuída pela HBO Max.  

Concebida como uma mini-série, The White Lotus, nome homónimo de uma cadeia de hotéis e  resorts de luxo, retrata temas fracturantes da condição humana contemporânea como o privilégio e a subjugação; a sexualidade e as questões de género; o racismo e a luta de classes; a saúde mental e o  luto; a ganância; o cinismo; a sofisticação e a vulgaridade. 

Do Hawai para a Sicília, a segunda temporada mostra ser melhor que a primeira, contando com um  elenco renovado no qual: Theo James (Cameron), Aubrey Plaza (Harper), Michael  Imperioli (Dominic Di Grasso) F. Murray Abraham (Bert Di Grasso), Tom  Hollander (Quentin), Adam DiMarco (Albie Di Grasso), Haley Lu Richardson (Portia), Sabrina  Impacciatore (Valentina), Meghann Fahy (Daphne Sullivan), Simona Tabasco (Lucia), Will  Sharpe (Ethan), Leo Woodall (Jack), e ainda, a única personagem capaz de atravessar as duas  temporadas, Tanya McQuoid (Jennifer Coolidge), uma personagem única que aguça quer a veia cómica e excêntrica da série como do seu lado débil e trágico. 

A escolha da ilha de Sicília para produzir a segunda temporada da série mostra não ter sido em vão.  Fazendo referência aos clássicos de cinema italiano (L’avventura, Michelangelo Antonioni) e  americano (The Godfather, Francis Ford Coppola), assim como da transição de planos para o  vulcão em erupção; da tempestividade do mar Mediterrâneo; ou ainda dos frisos e esculturas  renascentistas italianas, Mike White cria uma linguagem artística única para aprofundar a busca por  emoções fortes e sentido da vida dos hóspedes de White Lotus. 

Entre a questão da poligamia e tensão sexual encetada pelo casal de amigos americanos (Cameron e  Daphne; Ethan e Harper); da sexualidade não resolvida da gerente do Hotel (Valentina); do lenocínio das italianas com hóspedes do Hotel (Lucia e Mia), do homoerotismo burguês entre  (Quentin e Jack), o mote desta temporada mostra incidir sobretudo no escândalo, nos tabus e  (re)descoberta de uma sexualidade além-fronteiras.

Também o luto e a morte ocupam um lugar importante nas duas temporadas da série. Em ambas, o  início da narrativa inicia com uma morte misteriosa ao qual apenas é desvendada, de forma mais ou  menos cómica, mais tardiamente no final da temporada. Como promessa de terceira temporada,  Mike White, em entrevista à Variety, confirma que a próxima intriga decorrerá no continente  asiático, focando-se agora na morte e religião oriental. Também, a promessa em trazer para a última  temporada uma das personagens já dadas a conhecer na série, sabendo que, Tanya McQuoid, a  personagem acarinhada pela audiência pelo seu jeito estrambólico, não nos fará companhia nos  próximos episódios.  

Uma série que tanto num momento nos faz rir, gargalhar, como no momento a seguir nos deixa  presos a um sentimento de traição, nostalgia e complacência com os personagens. A meu ver, uma  das séries mais intrigantes do ano. 

 

 

Daniel Santos Morais é mestre em Sociologia pela Universidade de Coimbra. Feminista, LGBTQIA+, activista pelos Direitos Humanos. Partilha a sua vida entre Coimbra e Viseu.