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Quem hoje tem mais de cinquenta anos é provável que os seus pais se enquadrem no conceito tradicional da monogamia. Nas gerações mais antigas, era predominante ter-se um único parceiro afectivo-sexual ao longo da vida. No entanto, relações vitalícias nem sempre refletiam relações felizes. As pessoas casavam-se quase sem se conhecerem; a conjugalidade implicava papéis de género que resultavam em dependência financeira das mulheres. Para além disso, o moralismo religioso contribuía frequentemente para a permanência em relações insatisfatórias.

 

Para quem tem menos de 30 anos, é possível que os pais estejam separados. Nas gerações mais recentes, as relações vitalícias são raras. A incorporação do conceito de amor romântico, o empoderamento das mulheres e o enfraquecimento da religião tiveram como efeito a diminuição da permanência em relações insatisfatórias.

Houve, ao longo das últimas décadas, uma transição de um padrão monogâmico tradicional (um parceiro vitalício) para um modelo caracterizado por uma sucessão de relacionamentos monogâmicos ao longo da vida, conhecido como monogamia em série. Neste modelo, uma relação monogâmica, sucede a outra, e mais outra, sempre em ciclo. Na fase inicial de cada ciclo, observa-se tendencialmente uma grande intensidade sexual e um maravilhamento em relação ao outro. A ideia de que o outro nos preenche completamente. Com o passar do tempo, os neuroquímicos normalizam-se, a energia sexual diminui, a insatisfação instala-se, surgem conflitos. E é aqui que muitos/as reiniciam o ciclo em busca de uma nova relação monogâmica, na esperança de encontrar “o/a tal”.

Na minha perspectiva, esse modelo é válido como escolha consciente, mas baseia-se numa falácia. Presume a existência de uma única pessoa que vai preencher permanentemente todas as nossas necessidades emocionais, em todas as fases da nossa vida. Considero esse pressuposto irrealista e que coloca demasiada pressão no parceiro/a. Na pessoa ao nosso lado não tem de recair a permanente chave da nossa felicidade. As pessoas e as suas necessidades mudam, assim como a dinâmica das relações e se a relação for saudável não é necessário terminá-la. Encerrar repetidamente relações por necessidades não atendidas é válido, mas perde-se a intimidade das relações longas. Relacionamentos duradouros podem perder a excitação e o maravilhamento, mas oferecem uma intimidade valiosa, ausente em relações de curto prazo.

Não proponho um retorno à monogamia tradicional, já que esta, como referi anteriormente, nem sempre é garantia de intimidade. Da mesma forma, considero pouco saudável abdicar da vivacidade e do encantamento proporcionados por novas relações. O meu propósito é simplesmente evidenciar a existência de modelos relacionais nos quais é possível cultivar novos vínculos sem comprometer a estabilidade das relações de longa data. Modelos não monogâmicos, como relações abertas ou poliamor, podem harmonizar essas duas dimensões. Assim como já questionamos a monogamia tradicional, podemos também questionar se a monogamia em série nos traz insatisfação. Os modelos não monogâmicos são uma alternativa a estudar. Todos os modelos relacionais são válidos, desde que haja acordo entre as partes envolvidas e cuidado pelo bem-estar mútuo.

 

Daniela Alves Ferreira