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Três críticas sobre o filme “Chama-me Pelo Teu Nome” (com trailer)

O mais recente filme de Luca Guadagnino, “Chama-me Pelo Teu Nome” (“Call Me by Your Name”, 2017), é uma das estreias mais aguardadas da temporada de prémios. Ainda não foram revelados os nomeados aos Óscares e é já apontado como um dos favoritos, podendo-lhe estar reservadas três a cinco nomeações. Alguns colaboradores do dezanove.pt viram o filme antecipadamente e apresentam, de seguida, as suas críticas.

 

Sinopse: No norte da Itália, nas férias de Verão de 1983, Elio, um jovem de dezassete anos, começa um relacionamento com Oliver, um estudante do seu pai, com quem inicia e descobre a sua sexualidade emergente. O primeiro amor, a sexualidade, a herança judaica e a sedutora paisagem italiana são os ingredientes principais desta história.

 

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Entre pêssegos e sumos de alperce, Guadagnino é um realizador soberbo, desde “Eu Sou o Amor” (“Io Aono l’Amore”, 2009) que é visto como um dos cineastas italianos a ter em conta. Com este “Chama-me Pelo Teu Nome”, dá-nos um novo romance clássico, mesmo com a história a decorrer nos anos de 1980. É uma película extremamente inteligente e viva com uma química muito forte entre o par de actores que dá vida a Elio e Oliver, Timothée Chalame e Armie Hammer, sem armações, nem pretensiosismos, numa tentativa de exploração da sexualidade sem cânones ou barreiras. Sem nos apercebermos, a película leva-nos numa direcção e depois dá-nos outra coisa completamente diferente, com um determinado diálogo entre pai e filho soberbo e inteligente e a já famosa cena do pêssego a surpreender a audiência. Vale mesmo muito a pena vê-lo (mais do que uma vez, até).

4 estrelas em 5

Luís Veríssimo

 

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A relação entre Elio e Oliver começa por ser uma admiração que se transforma num romance sem lógica. Sabe a insonso e sente-se a falta de alguma coisa. O próprio Oliver é uma personagem mal construída e explorada onde ficamos sem perceber quem ele é ou que vivências teve. Ao contrário de Elio, que nos é possível acompanhar ao longo do filme, estando sim bem construído. A forma como este último vive a sua sexualidade é interessante, mesmo que seja num modo frenético, e que nos é frequente aos 17 anos – uma altura em que questionamos a nossa sexualidade, nos tornamos um pouco saltimbancos, em que procuramos o nosso espaço e onde nos sentimos melhor. O pai de Elio, Mr. Perlman, é particularmente aliciante, sendo uma pessoa inteligente e com os melhores e mais surpreendentes diálogos, sem que tal se previsse.

O facto de o final não ser o típico drama do “morre/desaparece sem explicação/mata” é inteligente e perspicaz. Porém, não deixa de ser triste por ver alguém sucumbir à pressão social e vir a viver uma vida, provavelmente, não tão feliz ou preenchida, mesmo que não venha a ser má. Acima de tudo, gostando ou não, a história do filme fala-nos sobre Elio, do seu primeiro amor, da forma como se descobre e de como os seus pais reagem. Se não existisse Oliver, que me parece menos conseguido, e existisse um Oscar, talvez o filme estivesse melhor.

3 estrelas em 5

Marta Santos

 

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Sim, é um filme inteligente. Acontece o que não se estava à espera. No início, o espectador é levado a pensar que, de entre os dois elementos do casal, o menos assumido seria o Elio e o mais desenvolto seria Oliver, o mais velho. Ficamos com receio, desde o início, da reacção dos pais de Elio. Afinal, este último é o mais assumido. E Oliver, apesar de assumir a Elio que o que viveram é único, acaba por escolher outro rumo para a sua vida. A película não vive de finais românticos, nem acaba com alguém a matar-se por amor. É um retrato de uma realidade que acontece a muitas pessoas. Finais não felizes não me assustam e ainda são mais inteligentes por isso mesmo. A descoberta da sexualidade, tanto pelo sexo feminino como pelo sexo masculino é real, não coloca os géneros e as pessoas em caixas. É um filme aberto, livre e bonito. As pessoas surpreendem-nos e por vezes de onde menos se espera. É verdadeiro e acreditamos realmente naquela história, assim como naquele desfecho. Destaque para a estética (europeia), para a luz e para a fotografia. Não é perfeito porque é como a vida que também não é perfeita.

4 estrelas em 5

Sofia Seno

 

 

3 Comentários

  • Ismael Sousa

    Também eu vi o filme em antestreia. É verdade que é um filme que nos surpreende e que retrata muitos aspectos que, talvez, alguns de nós vivemos. Oliver aparece, para mim, como aquela pessoa por quem nos apaixonamos, fazendo-nos descobrir e sentir algo que não havíamos sentido/feito antes.
    Para mim, o filme mostra sempre a vivência de Elio e a forma como ele sente as coisas. É a sua visão sobre a sua vida. O filme mostra não duas pessoas, mas a visão de uma pessoa. No filme, Elio está quase sempre em cena, ao contrário de Oliver.
    É um filme que retrata vários aspetos sobre os quais continuamos (ou continuo) a refletir.

  • Elsa Simões

    Fui ver a antestreia e para mim é um péssimo filme. Não tem historia, Consegue-se estar quase 3 horas a ver um filme monótono de imagens e nada conta de novo. Sem futuro…nojento mesmo
    1 estrela em 5

  • Anónimo

    Se a fluidez da narrativa exigia que o filme desse espaço e tempo para a construção das personagens o que a incomodou não foi a história nem a ‘monotonia’ e nem sequer as ‘quase 3 horas’ (?!) de duração – 2h12m, incluindo genérico. Afinal o seu parágrafo – também publicado, curiosamente, no Cinecartaz do Público – é, triste e vergonhosamente, um manifesto de preconceito – ‘sem futuro’, ‘nojento’, … diz.
    Acho, por tudo, que a sua crítica não contribui para esclarecer outras pessoas que queiram ver este belíssimo filme. E o seu preconceito é algo que a devia envergonhar.