A última edição da Publituris, a principal revista para profissionais do turismo em Portugal, tem como tema de destaque o segmento LGBT. A reportagem, da autoria de Raquel Relvas Neto, conclui que ainda há muito por fazer nesta área, tanto em Portugal como em Lisboa. Vítor Costa, director-geral da Associação de Turismo de Lisboa (ATL), admite que Lisboa “não é um destino predominantemente com essa motivação, mas é friendly, tem geralmente boas referências e há uma boa convivência com todos os turistas”.
Já Rui Silva, responsável pela agência de viagens Lisbon Beach dirigida a este target, considera que o Turismo de Portugal e a ATL têm que definir “uma estratégia clara de promoção de Lisboa no mercado LGBT”, lamentando o facto do portal do Turismo de Lisboa “não disponibilizar ainda qualquer informação direccionada para o mercado LGBT”. Uma situação oposta à que se vive, por exemplo, em Barcelona ou Madrid onde as autoridades locais têm noção do peso económico que este grupo tem para as receitas turísticas da cidade.
Segundo a Organização Mundial do Turismo (OMT), o segmento LGBT representa 10 por cento do fluxo anual de viajantes e 15 por cento da facturação das empresas do sector turístico. Sendo que a capital portuguesa recebe cerca de quatro milhões de turistas por ano, a estimativa é que 400 mil desses visitantes sejam turistas LGBT.
5 Comentários
Filipe
Portugal não é apenas Lisboa e a capital nunca terá condições para concorrer com o Sul da Europa no segmento «sol e praia». Só o Algarve e a Madeira podem concorrer com o Mediterrâneo por terem condições climáticas que o permitem.
A Madeira tem por perto as Canárias e a situação no arquipélago é negra.
O Algarve tem por perto a concorrência da Andaluzia e está muito atrás dos andaluzes nesta matéria. Os bares e as discotecas estão sempre a abrir e a fechar, estão dispersos e os turistas queixam-se que não há transportes públicos e das distâncias entre as casas; e as duas ou três praias gay decentes da zona não têm casas friendly por perto que ofereçam suporte aos turistas. Os estrangeiros vão à Praia de Cacela Velha mas depois por perto não há nenhum bar friendly aberto durante o Verão e o local com noite gay a sério mais próximo é Sevilha, a 100 quilómetros de distância. E não há eventos.
Ainda por cima as casas algarvias insistem em artistas transformistas amadores, e em espectáculos onde se recorre a um humor «apimbalhado» e por vezes muito vulgar. Gosto de transformistas profissionais, como há no Reino Unido ou nos EUA, que cantam ao vivo e estudaram teatro ou dança, mas a insistência das casas algarvias em oferecer artistas amadores afasta a clientela mais exigente, e portanto a noite gay algarvia só teria a ganhar se mudasse a sua estratégia e desistisse deste tipo de espectáculo. Teriam sim muito a ganhar se investissem em bons DJ’s e festas temáticas.
Em suma, está tudo por fazer.
E há tanta gente desempregada…
Americo
O ESPIRITO “PROVICIAL” E TAO FORTE, MAIS FORTE QUE O BLINDADO DOS ARMARIOS, A PRAIA DE MONTE GORDO-MAS -SO PARA RRRRRAPIDINHAS
QUANTOS SECULOS PARA SERMOS IGUAIS AOS ANDALUZES
Filipe
Exacto, há décadas que Espanha tem destinos friendly. Os espanhóis sempre trataram de outra forma o turismo LGBT, mas também o turismo naturista ou ambiental. No Algarve não há nada além de duas ou três praias cujo ambiente gay em boa verdade foi construído pelos turistas, pois o português tradicionalmente esconde-se nas dunas para «não ser visto». Noite gay a sério só em Sevilha. E o Algarve tem todas as condições para ter uma «Sitges».
Ricardo Duarte
Até que enfim que começam a divulgar Lisboa como um destino LGBT friendly. CRISE? Eis aqui a resposta. Lisboa oferece as melhores condições em Portugal como destino LGBT friendly. Em Portugal, Lisboa é a única cidade a oferecer vida social/noturna, praias, serviços, locais de interesse, comércio, festivais/cultura a um público alvo LGBT. Embora diminuída em tamanho com algumas outras capitais europeias rivaliza em termos de oferta. Já não é sem tempo além de ser a única capital europeia com três praias LGBT à porta.
Filipe
Lisboa é um excelente destino LGBt enquanto cidade: disso não haja qualquer dúvida mas se Portugal quer vingar neste mercado precisa também de uma estância balnear que concorra com Sitges, Mykonos ou Viareggio.
A costa de Lisboa não tem condições para competir com o Mediterrâneo. A nortada é frequente e desagradável, e a temperatura média da água do mar devido a fenómenos de upwelling ronda normalmente os 18ºC. Este ano até tem estado acima da média. No Mediterrâneo as temperaturas da água do mar oscilam entre os 22 e os 28ºC: depende da zona. Para além disso há outros indicadores climáticos desfavoráveis.
Contudo há duas zonas no país com condições climáticas para concorrem com o Mediterrâneo. Falo da costa do sotavento algarvio e do arquipélago da Madeira.
Lisboa concorrerá sempre com Madrid, Barcelona, Paris, Atenas, Valência, Sevilha, Londres, enquanto destino LGBT urbano. Mas convém não esquecer que Portugal precisa de um destino LGBT balnear, que combine praia com oferta de animação nocturna e eventos culturais. O Funchal, Albufeira, Lagos, Tavira, ou até uma pequena praia da nossa costa como Cacela Velha/Manta Rota esperam por um punhado de empresários que queiram criar um destino gay de praia em Portugal que concorra com os destinos balneares de outros países europeus. É possível? Os israelitas, em poucos anos, e com a ajuda do Governo (algo quase impossível por cá) conseguiram em Telavive. Nós também podemos conseguir. Muitos desempregados agradeceriam.
Em suma, a estratégia deve passar não só pela aposta forte em Lisboa mas também pela aposta num destino de turismo balnear.
A minha opinião? Se investisse neste sector optaria pelo sotavento algarvio. Porquê? A Andaluzia Ocidental não tem nenhum destino gay de praia. Sevilha está a pouco mais de uma hora e é capital de uma província com perto de dois milhões de habitantes. Só cativando a clientela espanhola é possível fazer negócio. Aliás, sabem quem são os principais clientes do projecto Manta Beach? Os andaluzes.