Um vício de masturbação... de bruços?
O consultório do Enfermeiro Carlos Gustavo Martins está de volta. E o tema desta semana é masturbação masculina... de bruços.
Tenho 21 anos e não tenho ainda muita experiência sexual. Simplesmente andei a desenvolver um vício na forma de me masturbar que fiquei alertado com o que vi noutro dia num site: http://www.
Ou seja, a minha questão é: será que a masturbação de bruços (não sei se entenderam o que é, mas basicamente é estar na cama de barriga para baixo e mexer o corpo com o pénis na horizontal de forma a excitá-lo) é prejudicial para a eficiência sexual assim como para a saúde? E se for há alguma forma de recuperar para a normalidade?
Obrigado pela compreensão,
M.
Olá caro leitor,
Antes de mais, desculpe a demora na resposta. Não se deveu de todo à pergunta, mas por vezes todos temos os nossos percalços.
Quanto à sua pergunta, mais uma vez, respondo com umas outras quantas...
A masturbação de bruços é efectivamente um assunto que tem causado algumas "discussões" no meio científico. Em específico, o autor do site que me referenciou tem sido amplamente contestado simplesmente pelo facto de não existir fundamento científico para tal. O estudo realizado pelo autor do site peca por alguma falta de rigor científico. Senão vejamos: A entrevista foi conduzida pela internet. Responderam 119 pessoas. O que, convenhamos, em termos estatísticos deixa muito a desejar, principalmente se tivermos em conta a população alvo (a totalidade de homens que se masturbam e que acedem à internet). Por outro lado, o próprio comete erros crassos na sua interpretação dos dados. A certa altura, aquando de respostas, que deduzo pelo seu comentário, não lhe agradam, há sempre um comentário de descrédito. Ora, numa investigação científica, não deve duvidar das respostas obtidas. Se, porventura, tem dúvidas da sua veracidade, deve aplicar métodos de contra resposta igualmente baseados em factos científicos. Tal não aconteceu. O exemplo do que refiro via neste excerto...
"Among those who never masturbate prone, these reported erectile dysfunction:
almost always, 0
most of the time, 4.8 pct
sometimes, 9.5 pct
rarely, 40.5 pct
never (yeah, right), 45.2 pct"
Por outro lado, e não me detendo muito no autor nem no seu estudo, se ler as perguntas do questionário, pergunte-se: onde quer chegar o autor? Perguntas como se é dextro ou canhoto, onde ocorre a masturbação, e se suspeita de ser um masturbador compulsivo são no mínimo estranhas. Confesso que não encontrei razão para estas perguntas existirem.
Relativamente à sua questão...
A única coisa que vejo que possa ocorrer neste tipo de masturbação é a desensibilização do pénis. A mão, com ou sem gel, é mais suave que os lençóis ou que uma almofada. É o único ponto onde vejo que possam existir algumas dúvidas, mas esclareço desde já que são apenas dúvidas. Não tenho dados científicos onde me basear. Ocorre-me o exemplo da circuncisão, onde o facto de a glande estar exposta, desensibiliza a mesma levando nalguns casos ao aumento do tempo até se atingir o orgasmo, exactamente por estar menos sensível. Não encontrei em mais lado nenhum, das pesquisas que fiz, dados que corroborem a teoria do site que me enviou ou do autor do estudo. E por não ter dados, não lhe posso responder com absoluta certeza que ocorre ou não perda de sensibilidade, se esta perda de sensibilidade é prejudicial ou não e se pode ou não provocar disfunção eréctil.
Mas coloco outras questões e deixo aqui alguns tópicos para que possa pensar sobre o assunto:
- Tem ou teve algum problema físico? Isto porque é sabido que certas medicações por exemplo podem causar dificuldade ou mesmo incapacidade para atingir uma erecção satisfatória ou total.
- Não estará a preocupar-se demasiado? Ou seja, muitas das vezes o nosso amigo não reage não apenas por não querer de forma biológica. Factores como ansiedade podem condicionar uma erecção. Pergunto-me se o facto de estar preocupado em masturbar-se da forma "normal" não poderá ser um factor que cause ansiedade e problemas erécteis no futuro.
Posto isto e respondendo à sua pergunta:
1 - "E se for há alguma forma de recuperar para a normalidade?"
Não há forma normal nem anormal de masturbação. Aquela que usa e lhe causa prazer é a "normal" para si. Se porventura lhe causa angústia, então não é "normal". A masturbação deve ser fonte de prazer na sua totalidade.
2 - "(...) andei a desenvolver um vício na forma de me masturbar"
Não me parece que seja um vício. Chamar-lhe-ia mais um hábito. E se acha que está a ser prejudicial, tente deixar. Sozinho ou com ajuda de amigos. Sem nunca pôr isso como objectivo. Iria retirar o fun ao acto em si.
3 - "(...) é prejudicial para a eficiência sexual"
Um acto sexual não tem de ser eficiente ou eficaz. Tem de ser divertido e proporcionar prazer. Acredito que quando referiu eficiência se esteja a referir ao facto de conseguir ou não obter uma erecção satisfatória.... porque falar de eficácia no acto, remete-nos para os filmes onde todos temos de ser atletas sexuais, com actos sexuais que duram pelo menos 30 minutos sem nunca perdermos a erecção e com ejaculações imensas.
Acredito, leitor, que posso não ter ajudado muito, simplesmente porque não há resposta para lhe dar. A resposta é complexa, com muitas variáveis e todas elas têm de ser vistas uma a uma.... especificamente consigo. Consulte um urologista. Ele certamente pode responder-lhe, depois de o observar e eventualmente pedir alguns exames, se está a prejudicar-se a si ou não.
Como sempre, espero ter podido ajudar e como sempre estou disponível deste lado do teclado.
Um abraço forte,
Enf.º Carlos Gustavo Martins
Licenciado em Enfermagem exerce funções no Serviço de Urgência de um Hospital Central. É enfermeiro de viatura médica de emergência e reanimação e do helicóptero de emergência de Lisboa. Colabora com o dezanove.pt desde Março de 2011.
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