a fazer,  a ler

Uma história de traição gay contada por Miguel Agramonte

 

“Artur odeia o seu trabalho, mas adora sexo. Marco é segurança privado, trai Nuno mas odeia ser traído por este. Nuno trabalha numa loja de roupas, ama Marco e adora o pénis de Artur. Até que aparece José, que diz conhecer Rafael.” É este o teaser do livro “Quando Tu Nos Mentes”, da Capital Books, que vai ser lançado a 2 de Abril, às 15h30, no bar TR3S, em Lisboa.

A nova obra de Miguel Agramonte, que gira em torno de cinco personagens homossexuais, é fictícia, assegura o autor ao dezanove.pt. “Como costumo dizer, tem tudo para poder ter acontecido. Gosto de escrever histórias com as quais as pessoas se possam identificar. Aliás, esse é um dos meus objectivos, o outro é que os leitores tenham prazer ao ler, que lhes possa proporcionar momentos interessantes. Imagino que acabe sempre por existir um ou outro episódio que possa ter sido inspirado em algo que me aconteceu, nem que eu o transponha para a escrita de forma não consciente”, refere Miguel Agramonte.

Nascido em Moçambique, Miguel Agramonte viveu a maior parte da sua vida em Portugal e está agora no Brasil, por questões profissionais. “É sempre muito difícil um escritor não reflectir algumas das suas experiências ou vivências. Mesmo em determinados contextos, onde a liberdade para se escrever fora de parâmetros ‘convencionais’ é muitíssimo maior, acredito que o escritor acabe, sempre, por passar algo seu, nem que seja na construção dos perfis de uma ou outra personagem”. A obra, ressalva, foi escrita em Portugal.

“A motivação para lançar o livro tem a ver com o tentar colaborar para a existência de uma oferta mais alargada da chamada ‘literatura LGBT’, principalmente a nível nacional, onde a produção ainda vai sendo escassa. Acho que quanto mais literatura do género existir, maior projecção se consegue para histórias que, afinal, pertencem ao dia-a-dia de todos nós. É curioso ver o número de pessoas com quem falo que não fazem ideia de que existem livros de temática gays e, muitos deles, de autores famosos”, aponta Miguel Agramonte.

4 Comentários

  • Algarvio

    «É curioso ver o número de pessoas com quem falo que não fazem ideia de que existem livros de temática gays e, muitos deles, de autores famosos”, aponta Miguel Agramonte.»

    Embora haja LGBTs em Portugal interessados em literatura dentro da temática, sempre notei um desinteresse geral nos gays portugueses por livros LGBT. Já conheci muitas dezenas de homossexuais ou bissexuais em Portugal, tive apenas dois namorados mas convivi de perto com alguns, e só conheci duas pessoas que se interessava por livros de temática LGBT.

    Não quero com isto dizer que os gays/bis portugueses são incultos. Conheci e conheço muitos que gostam de ópera, música clássica, dança, teatro, literatura, viagens a locais históricos. Conheço verdadeiros especialistas em História de Portugal ou História da Arte. Mas pessoas que nutram interesse por literatura «gay», História da sexualidade ou estudos LGBT? Praticamente não há. E é estranho porque isto cruza-se com outras observações que faço das dinâmicas sociais da população homossexual e bissexualportuguesa. Não há noção de pertença a uma comunidade nem interesse pela História e cultura própria dessa comunidade. Lisboa tem «alguma coisa» mas não representa por si o país.

    Talvez nós possamos ajudar.

    Sugestões? Há uma geração já muito idosa que passou pela guerra colonial e pela tropa e tem muitas histórias para contar. Seria importante recolher esses testemunhos e publicar. Conheço algumas desses histórias… Portugal não era tão conservador como se dizia…

  • Miguel Agramonte

    Gostei bastante do seu comentário. Também não quero dizer que, pelo facto de haver um relativo desconhecimento, por gays portugueses, da chamada “literatura gay” – ainda há dois dias, um amigo, já na casa dos 30, me confessava que o meu será o primeiro livro gay que ele irá ler – estes sejam culturalmente incultos (como bem aponta). Por outro lado, achei interessante a ideia de testemunhos de várias gerações. Finalmente, concordo que Portugal não fosse (e não seja) tão conservador quanto se pensa… mas, infelizmente, na grande maioria das vezes, desde que as coisas aconteçam “dentro do armário” 😉

  • Senhor Anónimo

    Pelo que já ouvi, cada unidade tinha pelo menos um, digamos, brinquedo… Chamavam-lhes as Amélias. Quem tinha uns tostões, mantinha uma Teúda e Manteúda preta, quem não tinha, desenrascava-se com as Amélias.
    No filme “Morrer Como Um Homem” há uma cena que pica este tema.

  • Luís Falcão

    Caro Algarvio, o problema não está em haver poucos livros de temática gay em Portugal, em qualquer outro país ou no mundo em geral. O problema está em os livros existentes serem em geral muito maus. Não é só porque um romance, por exemplo, tem uma temática LGBT que é bom. Mesmo muito bons escritores gays podem escrever livros bons e livros menos bons. Eu, por exemplo, do Alan Hollinghurst (excelente!!!) gostar, gostar mesmo, só gostei de A Linha da Beleza. Dos outros, gostei bastante menos. Mesmo no conjunto da literatura gay a nível mundial, as obras realmente boas constituem uma percentagem reduzida. Os livros que li de autores portugueses vivos achei, praticamente todos, muito maus (excepção: Última Paragem, Massamá). Mas esta é SÓ a minha opinião, mais nada. Há gostos para tudo, felizmente!!!