a fazer,  a ver

“Virados do Avesso” não é uma comédia, é uma tragédia (com vídeo)

João (Diogo Morgado) é um célebre escritor a atravessar uma enorme crise de criatividade. Também a sua vida afectiva vive momentos de dúvida: a pressão de terminar um novo livro faz com que João acorde um dia sem reconhecer que a pessoa que tem a seu lado, Carlos (Jorge Corrula), é aquela com quem quer continuar a partilhar a vida. João decide afastar-se e, livre de compromissos, assume-se como um verdadeiro solteiro folião. Quem vai aproveitar esta situação é Isabel (Diana Monteiro), a escritora rival de João. Isabel só precisava de um deslize para, com a sua falta de escrúpulos, pisar João e ficar em vantagem.

Depois de assistir ao visionamento de “Virados do Avesso” (2014) o que me apraz perguntar é: Onde raio é que Edgar Pêra, o realizador, estava com a cabeça para fazer um filme destes? Ou como é que Ana Costa, produtora da Cinecool e da Cinemate, que produz o filme, aceitou produzir isto? Ninguém sabe e, suponho que, nem os próprios.

O que era para ser uma comédia romântica, uma comédia de costumes, um filme popular, uma operação de marketing para alguns actores, intervenientes e para o próprio realizador, resultou totalmente ao lado. Quem vê o filme repara, por exemplo, que a acção é rápida, mas parece que a produção sofre do mesmo efeito. Foi tudo feito tão à pressa que se esqueceram da qualidade no WC da casa de strip-tease, onde decorrem algumas cenas. A realização é atabalhoada, Edgar Pêra dá-nos um mau produto. Será que um aluno de Cinema passaria no curso se este fosse o seu projecto final de curso? E as interpretações? Os actores, coitados, fazem o que podem com o que têm, nem são bons, nem maus, nem peixe, nem carne. Estão medíocres, infelizmente, mas a culpa não é deles…

Defeitos: a iluminação, a cor, a falta de coerência na história, a própria história, a realização, a produção, etc, etc… Não é uma comédia, é uma tragédia.

Qualidades: ficar a saber todos os sinónimos e mais alguns para a palavra gay; gostei do piscar de olho ao filme “Um Peixe Chamado Wanda” (“A Fish Called Wanda”, 1988, de Charles Crichton) ou ao mais recente “O Lobo de Wall Street” (“TheWolf of Wall Street”, 2013, de Martin Scorsese) com cena do peixinho dourado que é comido…

Resumindo, a dada altura, quase no final, uma das personagens diz: “É burra que dói!” Neste caso, o filme é mau que dói. Nós, público, não merecíamos este Edgar Pêra. O filme estreia a 27 de Novembro.

 

Classificação: 0 estrelas em 5

 

Luís Veríssimo

 

 

5 Comentários

  • Miguel Moreira da Silva

    Quando os críticos não gostam, é certinho que vai ser um sucesso.

  • João Sá

    Não sei quem é este Luís Veríssimo mas cheira-me que há aqui algum recalcamento e se tinha algum objectivo escondido, esta critica saiu completamente ao lado.
    Gostei do filme e diverti-me com amigos gay e hetero e é isso é que é importante. Ninguém se preocupou com a iluminação ou a cor e a sala até cantou com o Anselmo Ralph.

  • Pedro Dias

    Esta coisa (não consigo dobrar a língua para lhe chamar filme) é uma tragédia inqualificável!
    Cria nos espectadores um estereótipo do homossexual, completamente desajustado da realidade, a raiar a homofobia, ou pelo menos a dar um forte argumento aos homofóbicos.
    Carlos Mendonça, um grande Senhor do Teatro, da Televisão (e das Marchas de Lisboa), insuspeito no que toca a agendas secretas, escreveu o seguinte sobre este desastre cinematográfico:
    “Há já algum tempo que não saía a meio de um espetáculo. No sábado passado, teve de ser! Confesso que fui cheio de boa vontade mas saí de lá virado do avesso. Tanto amadorismo, da pior qualidade, surpreendeu-me, isto para não falar da péssima qualidade sonora. Que pena! Os diálogos repetitivos, as sequências de “orgias” em cabaret de strip, que diziam tudo à primeira e eram mais cansativos do que os tais diálogos. Não sei como acaba o filme, porque saí no intervalo, mas para mim, acabou mal tinha começado ao ver um senhor que se diz actor, cheio de ademanes e trejeitos para ilustrar um personagem gay estereotipado à moda antiga e que só existe na cabeça dele, quem sabe, se dentro de algum armário.”
    Não posso estar mais de acordo.
    Eu resisti até ao final e a seguir tive que ir beber um copo ao Trumps, primeiro para tirar o paladar da náusea que me tinha ficado na boca após ver esta coisa, e depois para me certificar que os homossexuais reais, não tem nada, mas mesmo rigorosamente nada, a ver com os estereótipos que o filme cria de forma grosseira, patética, para não dizer mesmo cretina.
    O que estranho, e muito, é que o “dezanove” tenha promovido à exaustão, esta coisa (não consigo dobrar a língua para lhe chamar filme).

  • Sandra Lapa

    Achei piada ao filme e também achei piada a este comentário. O Trumps não é o melhor sitio para o “critico” se certificar da masculinidade dos homossexuais. Vá ao Finalmente ou aos bares da margem sul onde há shows de travestis e vai ver muita gente igual ou parecida com o personagem “cheio de ademanes e trejeitos”. Criticar os homossexuais efeminados também é uma forma de preconceito.