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Viva La Diva: “Sabemos que há um público gay muito grande, mas não pensamos nisso”

O dezanove.pt falou com João Paulo Peças dos Viva la Diva. Fomos perceber as expectativas deste trio composto por um casal de tenores e por uma voz soul naquele que é o maior palco da música portuguesa no nosso país. Hoje no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, em directo para todo o mundo via RTP. Mesmo a um passo de Kiev.

Tal como na primeira semi-final voltarão os Viva La Diva a ser os mais votados no televoto? O facto de Luís e João serem um casal é uma mais-valia nesta prestação? Respostas para conhecer agora nesta entrevista e, claro, esta noite na RTP.

 

dezanove: Foram os mais votados pelo público mas não pelo júri. Ficaram surpreendidos com o resultado na medida que são, em teoria, dos menos conhecidos entre os apurados?

João Paulo Ferreira Peças: Eu e o Luís vivemos um universo diferente dos média. Temos vozes de contra-tenor, o que não é uma voz típica comercial, temos um público específico porque cantamos música barroca e lírica. Em Portugal este tipo de música ainda é pouco divulgada, mas em França, por exemplo, somos muito acarinhados pelo público. Em Inglaterra também.  Para nós foi uma experiência muito interessante, mas também muito difícil e muito boa ao mesmo tempo este desafio de participar no Festival da Canção.

Ficamos muito surpreendidos e nos sentimos muito acarinhados e abraçados pelo público. Sentimos uma grande surpresa. Na altura passa-nos sempre pela cabeça ganhar, porque estamos numa competição, as expectativas são grandes e ficamos naquela adrenalina intensa.

Por pertencer aos The Gift, o nosso compositor, o Nuno Gonçalves é muito conhecido. Nós adoramos a música dele, mas no início pensamos: “Como é que a nossa voz se vai encaixar ali juntamente com a voz da Kika, que é soul?” Não foi fácil, mas conseguimos. (risos)

 

Após este resultado, está nos vossos planos continuarem a trabalhar juntos ou a colaboração vai resumir-se a esta candidatura portuguesa à Eurovisão?

O grupo Viva La Diva foi formado pelo Nuno Gonçalves. Foi uma grande surpresa. Eu e o Luís não conhecíamos a Kika e de repente o Nuno disse-nos que íamos fazer os refrões, mostrou-nos um vídeo dela. Ela foi até Alcobaça onde moramos para fazer um ensaio. A voz dela é incrível e aí surgiu o grupo só para o Festival da Canção, mas temos boas expectivas para continuar este projecto depois, mesmo havendo uma linha muito diferente entre a Kika e a nossa. Depois do festival vamos ver como as coisas vão rolar, quem sabe gravar um CD junto os três, quem sabe.

 

Onde podemos acompanhar as vossas novidades?

Temos uma página de fãs no Facebook, Viva La Diva, onde publicamos novidades e os nossos momentos intimistas, se tivermos concertos é lá que vamos publicar também. Depois temos as nossas páginas EnCanto ContraTenores e Kika Cardoso /Música . 

 

Este modelo de selecção da música que vai representar Portugal na Eurovisão tem defensores mas também muitas pessoas contra. Qual a vossa opinião?

Esta é apenas a minha opinião, não sei se o resto do grupo tem a mesma visão. Acho um pouquinho esquisito porque o júri de cada região pode, sem querer ou querendo, puxar pelo artista da sua região. Isso pode acontecer e devíamos pensar na melhor música, na melhor interpretação. Às vezes as pessoas votam mais pelo cantor porque gostam da voz, e compreendo isso, mas não pensam na música. Votam, se calhar, porque gostam dele ou porque é da região e até compreendo isso, dá algum orgulho, mas também é injusto. Nunca vai haver um formato de votação que agrade a todos.

 Viva La Diva Portugal Eurovision 2017.jpg

 

A população LGBT costuma seguir de perto o festival e também a Eurovisão. Que reacções tiveram até ao momento?

Eu sempre soube que o Festival da Canção e a Eurovisão é muito forte no meio LGBT. No que respeita à minha sexualidade e à do Luís, não vemos como levantar uma bandeira, vivemos como qualquer casal. Quando soubemos que íamos participar, apesar de sabermos que havia um público gay muito grande, não pensamos nisso.  Eu sei que há um lado muito bom e ficamos muito contentes por isso, mas não pensamos por esse lado de levantar a bandeira gay para votarem em nós. Aconteceu tudo de forma natural.

Percebemos que houve público que nos passou a seguir, que são apreciadores da nossa música e são homossexuais, mas não fazem perguntas. Também houve outro lado: críticas no meio gay porque não gostam das nossas roupas, da nossa música, falam isso e aquilo. Mas também nos deram críticas construtivas, de como melhorar, de como estar em cena e estamos gratos porque foi o público gay que esteve mais atento a isso.

 

João, como é estares a trabalhar junto do João, sendo vocês um casal? Achas que o vosso exemplo de visibilidade poderá ser inspirador para a população LGBT quer em Portugal, quer lá fora?

Na verdade sabemos separar bem as águas. Trabalhamos juntos noutros trabalhos e no Festival da Canção é igual: profissionalismo, somos dois cantores. É uma experiência muito boa e dá mais confiança, um apoia o outro e isso e eu acho isso muito gostoso. Ele tem um olhar diferente de mim ali e eu dele. E a gente se ajuda e isso é bom. Não só pelo facto de sermos casados mas pelo companheirismo. É o amigo, o irmão, o marido. É uma grande experiência participar assim no Festival da Canção e é um grande desafio para os dois.

 

Estão casados há quanto tempo?

Há três anos. Vivemos em Alcobaça. Casamos em Alcobaça e também casamos no Brasil (risos). Aqui foi uma coisa mais intimista, no jardim da nossa casa para amigos e familiares. No Brasil foi uma cerimónia mesmo para amigos e família e no Brasil foi um pouco mais festivo.

Sabemos que nos média houve quem não quisesse abordar este tema por timidez ou só o quisesse fazer por esse aspecto. Como dissemos ficamos surpresos com o apoio, quisemos ser discretos, mas não conseguimos (risos). Tudo acabou por acontecer de forma natural. Infelizmente ainda há pessoas acham que isto é um problema e acabamos por perceber o tamanho do preconceito que ainda é muito grande, por exemplo em alguns comentários do Youtube.

 

 

Entrevista de Paulo Monteiro

 

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