a saber,  opinião

Whose Pride is it, anyway?

🇬🇧 I looked into the Pride and EuroPride events in Lisbon — and was shocked.

As Lisbon prepares to host both Pride and EuroPride this June, a sharp divide seems to be emerging within Lisbon’s LGBTQIA+ community. Promoted as a celebration of diversity and progress, EuroPride is facing growing criticism from local activists and organisations who argue that the event fails to represent — or even include — the very community it claims to uplift.
While rainbow flags and promotional campaigns suggest unity, many of Lisbon’s LGBTQIA+ groups are distancing themselves from the event. Their concerns centre around a lack of community involvement, insufficient transparency, and an increasing emphasis on tourism and commercial profit rather than activism and grassroots representation. On top of that, there appears to be significant pinkwashing happening on multiple levels. There’s a lot to unpack here.

LGBTQIA+ community disengaged
Several longstanding LGBTQIA+ organisations — both local and national — have publicly withdrawn their support to EuroPride. These groups highlight a stark disconnect between the event’s organisers and the values of community-driven Pride. Rather than amplifying local voices, EuroPride seems to sideline them in favour of a marketable, externally facing image.
Currently, Variações is the sole organiser of EuroPride Lisbon. While Variações is indeed the main organiser, it was also the organisation that originally brought the EuroPride bid to Lisbon, which other organisations supported at the time. The decision to distance themselves came later, after external disagreements. Although formally a non-profit, many have raised concerns about the commercial structure of the event, leading to fears that EuroPride is less about queer visibility and more about economic gain — transforming Pride from protest into product.
Adding to this are serious concerns about Israeli state involvement in the event, with critics warning of pinkwashing — the strategic use of LGBTQ+ rights rhetoric to obscure human rights abuses, particularly concerning Palestine. Many in the community argue that the previously appointed — and since removed — chairman’s support for Israeli interests is deeply troubling and incompatible with the inclusive, justice-oriented values Pride is meant to uphold. It’s also important to clarify that the individual linked to Israeli diplomatic circles is no longer working (for a long time) with Variações and there was been a lot of protests when his name was allegadely appointed by Lisbon’s City Council as commissioner, role that he never had.

Pinkwashing and the commercialisation of Pride
Pinkwashing and commercialisation aren’t just happening here in Lisbon. Around the globe, Pride events are becoming increasingly corporatised. Political sponsors and commercial partnerships have become the norm — and with them, the risk of pinkwashing grows. LGBTQ+ symbolism is used by corporations and governments to polish reputations, while the real needs of queer communities are often ignored.
Here in Lisbon, the contradiction feels especially stark. In recent years, numerous queer spaces have closed — with little to no meaningful action from city authorities. Meanwhile, EuroPride is receiving public funding from the municipality, despite vague programming, limited community involvement, and unclear financial practices. With less than two weeks until launch, details of the program were scarce — a situation that would be unthinkable if grassroots organisations had been meaningfully involved from the start.

Pride is political
Lisbon’s LGBTQIA+ community has deep roots in activism — fighting for trans rights, housing justice, racial equity, and international solidarity, especially with oppressed communities like the Palestinians. Pride, in its original spirit, is a political act of resistance. It is not a depoliticised street party. We celebrate who we are — with pride — but we must also keep fighting for justice and safety.
This year’s separation of events illustrates the divide. Lisbon’s traditional, grassroots Pride took place on June 7. EuroPride, with its own parade on June 21 (and programming beginning on the 14th), is widely viewed as disconnected from the local movement — both in structure and spirit.

A moment of reckoning
EuroPride Lisbon could still mean something real — but only if its organisers and sponsors reckon with their responsibilities. That means transparency, inclusion, and a clear return to the activist roots of Pride. If an event bears the name Pride, it must centre LGBTQIA+ people — their struggles, voices, and lived experiences.
When Pride becomes a brand marketed to commercial interests rather than a movement led by the LGBTQIA+ community, trust is lost — and with it, the potential for lasting change. Our queer community deserves more than a colourful backdrop for tourism. It deserves to be heard, respected, and placed at the heart of any celebration that claims to represent it. Lisbon has the potential, I believe.

A warning
To be honest, I’m not entirely sure what to make of what’s happening here —  I seriously doubt EuroPride is going to make us proud. What I do know is this: we urgently need to reconstruct the concept of Pride — to redefine and rebuild our queer community before political and commercial forces do it for us.
What I see unfolding here in Lisbon (and elsewhere) feels like a warning. Pride, at its heart, was always about liberation and justice — not branding, pinkwashing, or profit.
I believe we must remain open to constructive dialogue and action. I am, for one. But we need to be heard. This moment calls for solidarity, clarity, and courage — starting within our own community.

Let’s talk. Let’s act. I’m in.
Alfred Jansen

Alfred Jansen has lived and worked in Lisbon since 2018. Born in the Netherlands, they have a background in journalism, public relations, and corporate communication. Alfred has served on the boards of several organisations, including the Dutch LGBTQ+ group COC Rotterdam, and is the founder of the diversity platform Open Mind Rotterdam.
Alfred identifies as non-binary, is a proud parent of two adult children, and shares life with their partner, Oliver.


🇵🇹 De quem é o Orgulho, afinal?

Olhei para os eventos do Orgulho e do EuroPride em Lisboa — e fiquei chocado.

Numa altura em que Lisboa acolhe o Orgulho e o EuroPride em Junho, parece estar a surgir uma divisão acentuada dentro da comunidade LGBTQIA+ de Lisboa. Promovido como uma celebração da diversidade e de progresso, o EuroPride enfrenta críticas crescentes de activistas e organizações locais que argumentam que o evento não representa – ou mesmo inclui – a própria comunidade que afirma elevar.
Embora as bandeiras arco-íris e campanhas promocionais sugiram união, muitos dos grupos LGBTQIA+ de Lisboa estão a distanciar-se do evento. As suas preocupações centram-se na falta de envolvimento da comunidade, na falta de transparência e numa ênfase crescente no turismo e no lucro comercial, em vez do activismo e da representação das bases. Além disso, parece haver um pinkwashing significativo a acontecer a vários níveis. Há muito para descompactar aqui.

Comunidade LGBTQIA+ desligada
Várias organizações LGBTQIA+ de longa data – tanto locais como nacionais – retiraram publicamente o seu apoio ao EuroPride. Esses grupos destacam uma forte desconexão entre os organizadores do evento e os valores do Orgulho impulsionado pela comunidade. Em vez de amplificar as vozes locais, o EuroPride parece marginalizá-las em favor de uma imagem comercializável e voltada para o exterior.
Actualmente, a Variações é a única organizadora do EuroPride Lisboa. Embora a Variações seja, de facto, o principal organizador, foi também a organização que originalmente trouxe o EuroPride para Lisboa, o que outras associações apoiaram na altura. A decisão destas se distanciarem veio mais tarde, após divergências externas. Embora formalmente uma organização sem fins lucrativos, muitos levantaram preocupações sobre a estrutura comercial do evento, levando a preocupação de que o EuroPride seja menos sobre visibilidade queer e mais sobre ganho económico – transformando o Orgulho de protesto num produto.
Soma-se a isso sérias preocupações sobre o envolvimento do Estado israelita no evento, com críticos a alertar para o pinkwashing – o uso estratégico da retórica dos direitos LGBTQ+ para escudar-se dos abusos dos direitos humanos, particularmente em relação à Palestina. Muitos na comunidade argumentam que o apoio do presidente anteriormente nomeado – e já removido – aos interesses israelitas é profundamente preocupante e incompatível com os valores inclusivos e orientados para a justiça que o Orgulho deve defender. Importa ainda esclarecer que o indivíduo ligado aos círculos diplomáticos israelitas já não trabalha (há muito tempo) na Variações e houve muitos protestos quando o seu nome foi alegadamente apontado pela Câmara Municipal de Lisboa como comissário, função que nunca exerceu.

Pinkwashing e a comercialização do Orgulho
O pinkwashing e a comercialização não acontecem apenas aqui em Lisboa. Em todo o mundo, os eventos do Orgulho estão a tornar-se cada vez mais corporativos. Patrocinadores políticos e parcerias comerciais tornaram-se a norma – e, com eles, o risco de pinkwashing aumenta. O simbolismo LGBTQ+ é usado por corporações e governos para polir reputações, enquanto as necessidades reais da comunidade queer são frequentemente ignoradas.
Aqui em Lisboa, a contradição é especialmente gritante. Nos últimos anos, vários espaços queer fecharam – com pouca ou nenhuma acção significativa das autoridades municipais. No entanto, o EuroPride está a receber financiamento público do município, apesar da programação vaga, do envolvimento limitado da comunidade e das práticas financeiras pouco claras. A menos de duas semanas do lançamento, os detalhes do programa ainda eram escassos – uma situação que seria impensável se as organizações de base tivessem sido significativamente envolvidas desde o início.

Orgulho é político
A comunidade LGBTQIA+ de Lisboa tem raízes profundas no activismo – lutando pelos direitos trans, justiça habitacional, equidade racial e solidariedade internacional, especialmente com comunidades oprimidas como os palestinos. O orgulho, no seu espírito original, é um acto político de resistência. Não é um partido de rua despolitizado. Celebramos quem somos — com orgulho — mas também temos de continuar a lutar pela justiça e pela segurança.
A separação dos eventos deste ano ilustra a divisão. A tradicional Marcha do Orgulho LGBT de Lisboa teve lugar no passado dia 7 de Junho. O EuroPride, terá um desfile próprio no dia 21 de Junho (e programação a partir do dia 14), é amplamente visto como desconectado do movimento local – tanto em estrutura quanto em espírito.

Um momento de ajuste de contas
O EuroPride Lisboa ainda pode significar algo realmente importante, mas apenas se os seus organizadores e patrocinadores assumirem as suas responsabilidades. Isso significa transparência, inclusão e um claro retorno às raízes activistas do Orgulho. Se um evento leva o nome de Orgulho, ele deve centrar-se nas pessoas LGBTQIA+ – nas suas lutas, vozes e experiências vividas.
Quando o Pride se torna uma marca comercializada para interesses comerciais em vez de um movimento liderado pela comunidade LGBTQIA+, a confiança é perdida e, com ela, o potencial de mudança duradoura. A nossa comunidade queer merece mais do que um cenário colorido para o turismo. Merece ser ouvida, respeitada e colocada no centro de qualquer celebração que pretenda representá-la. Creio que Lisboa tem potencial.

Uma advertência
Para ser honesto, não sei muito bem o que fazer com o que está a acontecer aqui – duvido seriamente que o EuroPride nos vá deixar orgulhosos. O que eu sei é o seguinte: precisamos urgentemente reconstruir o conceito de Orgulho, redefinir e reconstruir a nossa comunidade queer antes que as forças políticas e comerciais façam isso por nós.
O que vejo a desenrolar-se aqui em Lisboa (e noutros locais) parece um aviso. O orgulho, na sua essência, sempre foi sobre libertação e justiça e não sobre marcas, pinkwashing ou lucro.
Penso que devemos manter-nos abertos a um diálogo e a uma ação construtivos. Eu estou, por exemplo. Mas temos de ser ouvidos. Este momento exige solidariedade, clareza e coragem. A começar dentro da nossa própria comunidade.

Vamos conversar. Vamos agir. Estou disponível!
Alfred Jansen

Alfred Jansen vive e trabalha em Lisboa desde 2018. Nasceu na Holanda, tem formação em jornalismo, relações públicas e comunicação corporativa. Alfred exerceu funções nos conselhos de várias organizações, incluindo o grupo LGBTQ+ holandês COC Rotterdam, e é fundador da plataforma de diversidade Open Mind Rotterdam.
Alfred identifica-se como não-binário, é pai orgulhoso de dois filhos adultos e compartilha a vida com o parceiro, Oliver.

.

Are you a LGBT+ expat living in Portugal? Make your voice heard at www.dezanove.pt Send an e-mail to [email protected]

És uma pessoa LGBT+ expat a viver em Portugal? Torna a tua voz audível no www.dezanove.pt – Envia-nos um e-mail para [email protected]

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *