"Eisenstein in Guanajuato" fecha o Queer Lisboa
Este ano o Queer Lisboa 19 decidiu abrir e fechar o certame com a exibição de dois filmes que estiveram presentes nas duas últimas edições do Festival Internacional de Cinema de Berlim. Na abertura assistimos a “Praia do Futuro” (2014) de Karim Aïnouz, que esteve presente na edição de 2014, e no encerramento poderemos ver “Eisenstein in Guanajuato” (2015) de Peter Greenaway, que marcou presença este ano.
Greenaway, o cineasta britânico, um dos magos do cinema, propôs-se filmar um biopic sobre outro mago, o cineasta russo Sergei Eisenstein. Mas quando Greenaway se propõe a algo as coisas ficam forçosamente (muito e ligeiramente) diferentes. Com este filme biográfico sobre uma das personalidades russas mais adoradas no país de Puttin não é excepção.
Em 1931, no auge da sua criatividade, o realizador soviético Sergei Eisenstein viaja até ao México para rodar um novo filme, que viria a ser intitulado “Que Viva México!” (1979). Recentemente rejeitado por Hollywood e sob crescente pressão para regressar à Rússia, Eisenstein chega à cidade de Guanajuato. Acompanhado pelo seu guia Palomino Cañedo, receosamente experiencia os laços entre Eros e Tanatos, entre o sexo e a morte, feliz por recriar os seus efeitos no cinema, perturbado por sofrê-los em vida.
Apelidado como uma grande ópera kitsch, colorida, excessiva e brincalhona “Eisenstein in Guanajuato” é uma subversão do género biográfico e documentarista. Este filme não foi bem recebido na Rússia sobretudo por mostrar a paixão entre Eisenstein e Palomino. Os produtores tentaram ter russos envolvidos na produção do filme, mas esse envolvimento foi recusado. Só o facto de haver a sugestão de um envolvimento homossexual entre o realizador e o seu guia foi impedimento. Feito por um realizador controverso sobre outro controverso realizador.
Feito por um realizador controverso sobre outro controverso realizador. Esperemos que com esta explosão tresloucada e colorida russo-mexicana Greenaway tenha entrado novamente nos eixos da loucura que lhe é tão característica.
O filme é exibido na noite de encerramento do Queer Lisboa 19, 26 de Setembro, às 21h na Sala Manoel de Oliveira.
Luís Veríssimo