AMPLOS e Variações não vão participar na Marcha do Orgulho de Lisboa. ILGA vai reduzir presença
A associação AMPLOS - Associação de Mães e Pais pela Liberdade de Orientação Sexual e Identidade de Género - emitiu esta sexta-feira um comunicado em que informa as razões da não presença na Marcha do Orgulho de Lisboa (MOL): “Considerando a alteração do contexto de saúde pública associado à crise da covid-19 na área metropolitana de Lisboa a AMPLOS não irá participar na 22ª Marcha do Orgulho LGBTI+ de Lisboa”.
A AMPLOS faz saber que: “Entre os valores maiores que defendemos estão o da solidariedade e da não discriminação: estamos solidários com a população do país, e em particular com a da Área Metropolitana de Lisboa, sujeita desde ontem a uma maior restrição à sua liberdade. Queremos marchar numa marcha aberta, sem que a população de fora desta área, onde muitas vezes se verifica uma maior discriminação, fique impedida de participar.
A AMPLOS reitera que considera o evento “um momento ímpar de manifestação colectiva de luta pelos direitos LGBTI+, não só pela visibilidade que é dada, e pela centralidade que lhe é conferida, mas também pelo empoderamento resultante da participação de todas e de todos, em conjunto e, de cada um e cada uma de nós” e espera vir a poder marchar em breve.
Recorde-se que a AMPLOS, associação fundada em 2009, é uma das 14 entidades que formam a comissão organizadora da 22ª Marcha do Orgulho. Para além da AMPLOS pertencem a esta comissão que organiza a marcha anualmente a APF Lisboa, Tejo e Sado, GAT - Grupo de Ativistas em Tratamento, GTP (Grupo Transexual Portugal), ILGA Portugal, Lóbula, Opus Diversidades, Panteras Rosa, PolyPortugal, Por Todas Nós, QueerIST, Queer Tropical, rede ex aequo e TransMissão.
Ontem, após ter sido conhecida a resolução do Conselho de Ministros que deliberou restrições para a AML, a Comissão Organizadora da MOL deliberou em reunião manter a realização da Marcha deste Sábado emitindo um comunicado em que explica as razões que levaram a esta decisão. A votação pela manutenção da marcha foi efectuada com maioria de votos, mas não foi unânime.
Embora não pertencente à comissão que organiza a marcha, também na manhã desta sexta-feira, a associação Variações informou da sua não participação na marcha agendada para as 18 horas de Sábado na Avenida da Liberdade: “Não estão, infelizmente, reunidas as condições para a participação e realização da Marcha do Orgulho LGBTI+ de Lisboa”. A organização apelou ao adiamento da Marcha por um período de três meses.
A Variações justifica a decisão da não participação dos seus associados na marcha deste Sábado por acreditar que a Marcha do Orgulho LGBTI+ de Lisboa “não é uma mera manifestação regional e que não representa apenas a comunidade local. Enquanto maior evento político nacional, tem o dever de representar a diversidade da comunidade e incentivar o maior número de pessoas a participar.” Para além disso, a Variações relembra que os negócios LGBTI+foram dos sectores mais afectados pela pandemia. E que quaisquer medidas de confinamento e restrições são altamente prejudiciais para a sua sobrevivência. Assim, qualquer iniciativa e evento de grande magnitude que possa pôr em risco o processo de desconfinamento apenas nos será prejudicial.”
Quem vai e como participará:
A par dos restantes 12 colectivos, a ILGA Portugal mantém a presença na Marcha, mas “irá diminuir a sua representação formal, nomeadamente reduzindo largamente o número de materiais, não portando o bandeirão ao longo do percurso e abdicando do discurso final”. A mais antiga associação de defesa dos Direitos LGBTI faz saber que irá contactar todas as pessoas voluntárias para reestruturar o seu bloco com toda a segurança.
“Lembramos que, apesar das adversidades, a edição de 2021 foi de facto pensada e programada para acautelar todas as medidas de segurança possíveis pela Comissão Organizadora, que a ILGA Portugal integra, respeitando a sua pluralidade.
Retomemos o espaço público que nos é legítimo, principalmente em contexto de reivindicação. Mas façamos também a nossa parte individual e colectiva no sentido de garantir a proteção de todas as pessoas nesta marcha, no respeito de um conceito tão importante e tão caro para a população LGBTI: o da segurança e bem-estar de todas as pessoas.” comunicou a ILGA esta tarde.
Críticas à realização
A decisão de se manter a Marcha deste Sábado gerou um aceso debate no mural de Facebook da Marcha do Orgulho de Lisboa. Em resposta ao comunicado da MOL, Nuno Pinto, ex-presidente da ILGA Portugal, considerou a decisão como um “egoísmo” e “irresponsabilidade”. “Porque não foi adiada umas semanas?!", questionou ainda.
Ruben Filipe Coelho, ex-presidente da associação desportiva Boys Just Wanna Have Fun comentou de forma pública: “Nunca, perante a situação pandémica que vivemos, uma decisão destas deveria ter sido tomada sem que houvesse unanimidade das 14 associações e colectivos compõem a CO. Não tendo sido o caso, esta será a marcha de uma facção, não de uma comunidade. Lamentável.”
Também António Serzedelo, ex-presidente da Opus Gay, lamentou na rede social Facebook que esta marcha se realize em tempos de confinamento: “Temos maus exemplos disso com os ajuntamentos!”
Comissão Organizadora defende participação em segurança
Recorde-se que desde o momento em que a marcha foi anunciada em Maio e no comunicado divulgado esta quinta-feira a Comissão da MOL apelou a uma participação em segurança:
“A Comissão apela a todas as pessoas para o sentido de responsabilidade social. A contenção da pandemia depende de cada pessoa e é muito importante que todas as normas sejam cumpridas: uso de máscara; desinfeção das mãos; distância mínima de dois metros entre pessoas; cumprimento da etiqueta respiratória; e a proibição do consumo de álcool.” Ao longo da manifestação, estarão disponíveis pontos de distribuição de álcool-gel para que se proceda à desinfeção das mãos.
As regras para a participação em segurança na marcha deste Sábado têm sido amplamente divulgadas.