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Angela Davis: “A liberdade é uma luta constante”

Recentemente, partilhei o quão inspirador foi conhecer os primeiros 28 anos de vida de Angela Davis. Se ficaram motivados a explorar mais sobre a sua vida e obra, destaco o livro “A Liberdade é uma Luta Constante”, lançado em Portugal em 2020 pela editora Antígona.

Este livro reúne algumas das suas entrevistas e discursos mais emblemáticos, realizados entre 2013 e 2015, que abordam não só os seus temas mais clássicos como o racismo, o classismo, o feminismo, o sistema de justiça, mas também as questões de género, sexualidade e orientação sexual. Destaco um dos seus discursos na Universidade de Chicago, no qual aborda todos os temas transversais ao livro, mas com particular atenção à população LGBT. Em “Feminismo e Abolição: Teorias e Práticas para o Século XXI”, Angela Davis salienta a necessidade de evolução do movimento feminista, incorporando considerações sobre capitalismo, racismo, e abraçando a diversidade de géneros e sexualidades que estão para além das categorias convencionais. Nesse sentido, destaca a necessidade de redefinir a categoria “mulher”, evitando que reflicta apenas ideias normativas. Alerta para não nos prendermos demasiado ao conceito de género, pois este está enraizado em construções sociais, culturais e políticas. Ainda neste discurso, Angela Davis destaca o contributo significativo das pessoas trans, intersexo e de todos aqueles que desafiam normas estabelecidas, na redefinição da categoria “mulher”. Enfatiza, também, a urgência de repensar o sistema de justiça, dando como exemplo a discriminação policial a que são sujeitas mulheres trans não brancas e os desafios enfrentados por estas no sistema prisional, que muitas vezes não reconhece a sua identidade. Para libertar todos os oprimidos, Davis destaca, neste livro, a necessidade crucial de os movimentos de massas promoverem uma luta constante.

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Propõe estratégias para instigar uma mudança sistémica, tais como desmilitarização policial, reforma judicial, desconstrução do complexo prisional, solidariedade internacional, investimento na educação e no emprego, envolvimento cívico, e sensibilização sobre género e sexualidade. Ao explorarmos as páginas deste livro, ganhamos a perceção da singularidade de Angela Davis. Em vez de se limitar a reproduzir o discurso convencional do activismo, ousa ao apresentar perspectivas não consensuais.

 

Daniela Alves Ferreira

Um Comentário

  • Leitor Improvável

    É em certa medida frustrante que estes temas não tenham sido já resolvidos pelas sociedades modernas. Tolerância e compreensão precisam-se urgentemente!