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Foi-me difícil retomar a escrita. Provavelmente não deveria ter parado de forma tão abrupta como parei (com a excepção do meu diário que, a seu tempo, partilharei de forma altamente editada), uma vez que isso torna a retoma muito mais complicada, mas não deu. Os meses que separam esta e a última crónica foram marcados por uma lesão desportiva mal curada; uma situação de aproveitamento emocional e objectificação por parte de mais um narcisista, uma completa deterioração da minha situação de habitação partilhada e consequente procura de um sítio novo para viver neste ambiente que todos conhecemos tão bem; e, finalmente e com toda a certeza bem embrulhadinha neste lamaçal todo, uma depressão clínica.

 

Portantoooooooooooooo…. De facto, retomar a escrita não estava de todo nas minhas prioridades.

No entanto, tenho que agradecer à equipa do Dezanove por encorajar o meu regresso e também pelo reencaminhar de todas as vossas mensagens de carinho e saudades. Deram-me bastante motivação para continuar depois de resolvidas algumas da situações que mencionei.

“Quais?”, perguntam vocês. 

Em primeiro lugar, a casa. 

Encontrei um achado absolutamente imperdível que - admitidamente com algum esforço - consigo pagar sozinho (e também com um senhorio pooooooodre de giro, supostamente hetero mas que adora usar corações nas mensagens…), e que me tornou numa mana burguesa que vive numas águas furtadas deliciosamente boémias (e mínimas, mas pronto, é o que é e pelo menos tenho um walk-in closet) a 10 minutos a pé das Amoreiras e a 10 minutos a pé da Estrela. 

A situação com o narcisista resolveu-se por si mesma, com o meu profundo agradecimento à lotaria genética por me ter dotado de massa cinzenta, e também aos meus pais por me educarem com princípios.

A lesão desportiva também vai indo ao sítio, embora provavelmente vá deixar algumas sequelas.

Por fim, falemos da depressão.

Não vou ser uma daquelas pessoas forçosa e irritantemente positivas que estão “curadas”, mas vou dizer que penso ter superado a pior parte. A depressão é um cão preto que, muito possivelmente, me vai acompanhar sempre, mas acho que os últimos meses me ajudaram a perceber como posso co-existir com esse cão e abraçá-lo como parte da minha vida. E tenho que admitir que este cão me ensinou uma lição enorme acerca dos meus limites, da minha vulnerabilidade, e me fez perceber que tenho que deixar que os amigos ajudem de vez em quando. 

É frustrante não se saber exactamente o que é que quebrou em nós, quando como e porquê quebrou, porque queremos sempre estar em controlo das nossas emoções. Queremos perceber o que é que nos levou a tal sítio para não voltarmos lá tão cedo. No entanto, acho que é quase sempre impossível descobrir especificamente qual foi o gatilho. Penso que no meu caso foi o acumular de circunstâncias que me fizeram sentir encurralado na minha própria vida: tentar levar um quotidiano relativamente normal de tala e canadianas durante três meses, numa cidade que é um verdadeiro inferno para pessoas com mobilidade reduzida; a deterioração da minha situação doméstica e o sentir-me impotente em relação a isso e obrigado a conviver com pessoas com que eu não queria continuar a conviver, não por capricho mas por incompatibilização completa e pela minha recusa em aceitar falta de asseio em espaços comuns, mas sem hipótese naquele momento de fazer alguma coisa acerca disso.

Acresce a isto o facto de todas estas circunstâncias me terem feito sentir de uma forma muito mais intensa a falta de um parceiro e, logicamente, num estado mental mais fragilizado, isso implicou um hiperfoco em todos os aspectos negativos da minha vida cuja resolução eu acreditava ser essencial para me reequilibrar.

Convenhamos também que estar a menos de um ano de ter que começar a chamar a estas crónicas “Confissões de um gay quarentão à deriva” não ajuda ninguém a sentir-se um caso de sucesso excepcional e um “paradigma de excelência o gay português lisboeta plenamente realizado”. No entanto, tenho que dizer também que já adoptei plenamente os 40, especialmente para já poder usufruir do privilégio de poder dizer “Eu já tenho 40 anos, já não estou para estas merdas!”. É óptimo. É apaziguador e libertador.

E é isto. O meu regresso é um bocadinho um recapitular dos motivos pelos quais estive ausente, mas tal como a Mariah Carey começa a descongelar nesta altura, também eu espero estar a sair do congelador.

No entanto, continuo a precisar da vossa ajuda: mandem-me sugestões de temas acerca dos quais gostassem que eu escrevesse (mas se depois não concordarem com a minha opinião, estou-me nas tintas que eu já tenho 40 anos e já não estou para estas merdas!).

É bom voltar. E mais uma vez, um obrigado imenso!

 

R. J. Ripley

 

Relê as crónicas anteriores aqui.