Eurovisão 2025: Sensualidade, Sexo e Censura
O ano de 2025 está repleto de controvérsias e o 69º festival da Eurovisão ainda não começou. Mal acabou a época das finais nacionais que determinam a canção que vai representar um determinado país concorrente, já se levantaram questões que têm a ver não só com a representação e visibilidade, mas também com a censura.
Este ano, o Festival da Eurovisão terá lugar na cidade de Basileia, na Suíça, após Nemo ter ganhado a Eurovisão de 2024. Este ano as duas semifinais decorrem a 13 e 15 de Maio, respectivamente, com a final a decorrer sábado, dia 17 de Maio.
Esta edição da Eurovisão conta com trinta e sete (37) países concorrentes, depois da Moldávia ter-se retirado. As razões alegadas foram económicas, administrativas e artísticas após uma concorrência nacional que muitas e muitos consideraram demasiado amadora para representar o país na Eurovisão.
Finlândia
Este ano pode-se considerar como o ano de dois pesos e duas medidas pela parte da EBU. Em primeiro lugar, olhamos para a representação da Finlândia. O país irá ser representado por Erika Vikman. A mesma concorrente de 2020 (o ano em que a Eurovisão foi cancelada) que levou ao célebre espectáculo UMK, a resposta finlandesa ao Festival da Canção com a canção sexualmente sugestiva “Cicciolina”.
Este ano, a Erika ganhou o concurso UMK com a canção igualmente sexualmente sugestiva (ou mais) em título alemão “Ich Komme”, que pode ser ambiguamente interpretado como “chego” ou “venho-me” referindo-se ao orgasmo. Na actuação da UMK, a Erika dança em palco com um corpete preto bastante revelador e termina com a cantora em cima de um enorme microfone suspenso por cima do palco dando a ideia de estar a fazer a dança do varão. Segundo o artigo no jornal britânico: The Daily Mail, publicado a 16 de Março, a delegação finlandesa foi abordada pela EBU pedindo que a Erika tapasse mais o corpo devido à natureza explícita da actuação. (ver link) A questão que se coloca é a seguinte: porquê a Erika tem que se tapar mais do que o homem na actuação finlandesa de 2024 (Windows95Man) em que aparece um homem quase nu em sunga tom de pele em palco? Tal pedido não lhe foi feito segundo se sabe. Será um caso de dois pesos e duas medidas ou terá a EBU mudado as regras? Até agora ainda não se pronunciou sobre essa questão.
Malta
Este ano, Malta é representada pela cantora Miriana Conte a interpretar a canção “Serving”. Apesar da cantora não enquadrar em estreitos parâmetros de beleza convencional, parece não ligar e celebra a sua forma, as suas curvas o seu corpo com orgulho de quem ela é, numa celebração de positividade e diversidade corpórea. O título original da canção, a versão com que ganhou o MESC (Malta Eurovision Song Contest) no dia 8 de Fevereiro chamava-se “Serving Kant” mas a PBS (Public Broacasting Services) em Malta foi obrigada a mudar o título em resposta a uma queixa à própria EBU recebida da BBC pela fonética e possível interpretação da palavra “kant”. A PBS foi dada a escolha de mudar a palavra “kant” que significa “canto” em maltês, devido à proximidade fonética e ambiguidade com a palavra “cunt” em inglês, palavra grosseira referente à vagina. A EBU preza-se por ser uma instituição que promove a diversidade linguística da Europa, mas já foi apontada como sendo parcial à língua inglesa. Se olharmos à mesma questão por outra perspectiva, a EBU tomaria tal atitude se uma palavra em inglês se parecesse a uma palavra grosseira em maltês, georgiano ou estónio? Se a palavra “fodder” (forragem) aparecesse numa canção cantada em inglês, era tomado em consideração a sensibilidade lusófona? Se bem que a canção “Serving Kant” mantém a ambiguidade do sentido por ser cantada em Inglês apenas com uma palavra em maltês; esta questão pode realçar a pergunta: Onde se situa a linha de divisão entre intervenção necessária e censura por parte da EBU?
Versão original:
Versão actualizada:
Austrália
Talvez não tão explícita como a canção de Malta, mas igualmente sugestiva temos a canção da Austrália. Sim, Austrália! Embora não seja um país europeu, a Austrália participa na Eurovisão desde 2015 em que actuou pela primeira vez como concorrente com a canção “Tonight Again” de Guy Sebastian. Sim, a Eurovisão tem projecção global e a febre pegou na Austrália.
Este ano o cantor Go-Jo defende as cores australianas com a canção “Milkshake Man”. Go-Jo é um artista baseado em Sydney, originalmente do estado da Austrália Ocidental que fez furor nas redes sociais com a sua música Mrs. Hollywood. Tem milhões de seguidores e já deu concertos não apenas na Austrália, mas também nos Estados Unidos e na Europa.
A canção “Milkshake Man” está repleta de movimentos sensuais e sugestões à ejaculação masculina e à masturbação masculina onde apela várias vezes a saborear o leite do “milkshake” (batido) do cantor e depois de o saborear estarás maior e mais forte com ossos mais duros. (simbolismo em inglês à erecção).
Em retrospectiva, a questão aqui coloca-se do lado do machismo em geral. Como vimos até agora, as duas mulheres descritas neste artigo foram censuradas de alguma maneira seja pelo que levam vestido ou pela letra da música ... mas não o homem. Dois pesos duas medidas? Será isto um reflexo do machismo na nossa sociedade que permite maior expressão sexual de um homem do que de uma mulher? Parece ser uma possível interpretação do que se observa aqui.
Fontes:
https://esctoday.com/197334/moldova-trm-withdraws-from-eurovision-2025/
https://eurovision.tv/participant/go-jo-2025
Foto: SGR / SSR
Ricardo Duarte, a caminho da Basileia