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Leve e gentilmente (parte 2)

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Lê aqui a primeira parte.

A menção a crepúsculo remete-me para o enfant terrible da ópera germânica, Richard Wagner.

 

Wagner sempre foi um compositor que me passou um bocado ao lado. A megalomania de meios alienava-me da sua música e fazia-me preferir a emotividade comparativamente mais simples da ópera italiana. No entanto, há alguns dias atrás enquanto conversava com um amigo acerca desta epopeia amorosa falhada, ele perguntou-me: “Mas o que é que tu ainda sentes por ele?”. Na altura não capaz de responder com eloquência… Saíu-me uma resposta um bocado básica acerca de ainda gostar dele.

Contudo, um par de dias mais tarde, consegui responder daquela maneira que só as pessoas que sentem a música visceralmente conseguem (façam elas ou não da música profissão). A minha resposta foi: “Ao fim de 20 anos a estudar música, o Jamie fez-me finalmente perceber o que é que significa o Prelúdio do ‘Tristão e Isolda’”.

“Ao fim de 20 anos a estudar música, o Jamie fez-me finalmente perceber o que é que significa o Prelúdio do ‘Tristão e Isolda’”.

Academicamente, eu sempre entendi o que estava a ouvir: dois motivos musicais, um representando o almejar alguém, e outro representando o desejo, ligados por um acorde ambíguo, dissonante, e sem que resolução que significa a impossibilidade de concretizar um amor na sua plenitude. Um estado de prisão naquela fase inicial da paixão em que sentimos tudo a triplicar. 

Ouço agora esta música com a maturidade de quem já passou por isso. Ouço como Wagner intercala momentos de um Romantismo óbvio e quase lamechas com aqueles dois motivos que tão bem ilustram musicalmente o sentimento de se querer tanto alguém que permanece inalcançável. Ouço como a passagem desses dois motivos por secções diferentes da orquestra, de forma repetida e obsessiva significa a tentativa quase vã de nos tentarmos distrair da situação e seguir em frente, mas como encontramos em pequenas coisas do dia a dia a memória dolorosa daquilo que desejávamos e a fantasia gorada do que podia ter sido.

O Jamie deixou-me mal. Não mal ao ponto de achar que, tal como em “Tristão e Isolda”, o acorde dissonante só pode ser resolvido com um fatalismo Romântico absurdo, mas com o desconforto de caminhar todos os dias com uma bagagem emocional que eu preferia não ter. Uma bagagem carregada de peças incompletas e sentimentos ambíguos.

Não posso esperar um “Liebestod” desta situação, em que finalmente as ondas de paixão encontram uma praia onde rebentar, porque sei que isso não vai acontecer, mas, ao mesmo tempo, é difícil deixar ir alguém que não odiamos e por quem, no fundo, sentimos uma paixão que só pode ser descrita por esta música. Quando muito, consigo encontrar uma espécie de gratidão no facto de esta situação me ter aberto os ouvidos, por assim dizer, a esta maravilha musical.

Maravilha essa centrada num acorde que nunca resolve, porque (em palavras que não são minhas) simboliza “um amor que não tem fim, e uma dor que permanece para sempre”.

 

R. J. Ripley

 

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