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O ódio nunca está na moda

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Se consultarmos diversas notícias, descobrimos que a IKEA lançou um saco colorido, em homenagem ao mês LGBTI+. A receita das vendas reverteu a favor de uma instituição, sendo que o valor de 10 mil euros foi atribuído à Associação Plano I.

Se lermos esta notícia no Facebook, acedemos a uma qualquer caixa de comentários e, entre as muitas chalaças que que se "acogumelam", há sempre uma ou outra que diz, aproximadamente, o seguinte: "IKEA, acabam de perder uma cliente, mais uma campanha sobre o assunto da moda."
Ora, antes de mais, importa relembrar que o mês LGBTI+ comemora-se em Junho, isto porque, de acordo com dados históricos, a 28 de Junho de 1969, teve lugar a revolta de Stonewall, nos EUA, em que manifestantes se revoltaram contra a polícia de Nova Iorque, dando início a motins que pretendiam combater a opressão e que contribuíram para uma maior visibilidade da comunidade, impulsionando a criação de diversas associações. Até hoje, um pouco por todo o mundo, celebra-se o facto de sentirmos orgulho por sermos quem somos, por oposição à vergonha que é não corresponder à norma heterossexual e termos de esconder essa grande fatia que faz parte da nossa identidade.

Naturalmente, muitas empresas usam a bandeira arco-íris, assim como as suas variantes, de acordo com as mais diversas motivações. Algumas poderão ter simpatia pela causa e desejam difundir uma mensagem solidária, outras há que aproveitam para divulgar novas campanhas de marketing. Muitas são benéficas para uma visibilidade que se quer clara e inclusiva, por outro lado, existe muito ruído à volta de determinadas iniciativas, o que mina a opinião pública.
"Não existem marchas hetero!" – clamam muitas vozes, sem reflectir no que está por trás de uma Marcha LGBTI+ e esquecendo-se de que não é costume assassinar-se alguém, em plena calçada, só porque parece heterossexual. Afinal de contas, quem é que odeia os heterossexuais? O caso muda de figura quando falamos da Polónia ou da Hungria, países que estão a regredir no que diz respeito a direitos humanos, apesar de fazerem parte da União Europeia, desprotegendo quem se sente parte da comunidade arco-íris e negando o seu direito a uma existência livre e segura, sem a necessidade de se esconderem numa cave escura e bafienta. Aprovou-se uma lei retrógrada na Hungria e esse facto coincidiu com o Euro 2020 de futebol, o que trouxe mais visibilidade ao tema, apesar de tantas outras proibições, como a de se iluminar o estádio do Bayern com as cores do arco-íris, o que fez com que tantos indivíduos e entidades mudassem a sua foto de perfil e evidenciassem as cores da inclusão.

A 3 de Julho de 2021, na Corunha, um grupo de jovens homofóbicos assassinou Samuel Muñiz, de 24 anos, apenas porque parecia "maricón" – esta morte aconteceu no meio da rua, numa noite tão próxima do passado mês de Junho, o mês das marchas, das iniciativas, das bandeiras hasteadas nas ruas, das camisolas coloridas, propagandeadas em cartazes coloridos, que contrastam com os discursos neofascistas que ressuscitam fantasmas opressores e que legitimam o ódio que é destilado nas redes sociais ou, em surdina, numa qualquer esplanada.
Morreu Samuel, que não sobreviveu aos ferimentos causados pelo ódio gratuito e ignorante; de nada lhe valeu as iniciativas presentes num país que tem uma das maiores marchas LGBTI+ da Europa. Espanha tem o seu arco-íris de luto e o nome de Samuel Muñiz passou a a fazer parte das parangonas dos jornais e das plataformas digitais. A isso não se chama "estar na moda", trata-se, sim, de mais um caso real e que deve ficar bem vivo na nossa mente, assumindo os contornos de uma resposta a quem considera que fazer parte da comunidade LGBTI+ é estar na moda. Não, não é, e vamos repeti-lo todas as vezes que considerarmos necessárias. O valor angariado, por intermédio dos sacos coloridos da IKEA, servirão para apoiar a igualdade e a inclusão, abrangendo diversas comunidades, que continuam em risco, pois os direitos não estão garantidos. Pertencer a uma minoria, que pode ser agredida e assassinada, numa viela qualquer, nunca estará na moda.

Márcia Lima Soares