Sim, sou pansexual, mas isso não significa que gosto de ti!
Com o posicionamento de pessoas famosas, a pansexualidade tornou-se mais conhecida e com isso tornou-se necessário compreender as suas particularidades para incentivar a diversidade na sociedade. Apesar da orientação sexual ser relativamente simples de compreender, desperta ainda muitas dúvidas por ser considerada “moderna”, “confusa” ou “uma fase”. Estas interpretações formam um conjunto de ideias equivocdadas sobre as pessoas pansexuais. Porque é importante não rotular a sexualidade dos outros, vamos desmistificar os estereótipos e desconstruir a sexualidade como algo binário.
A pansexualidade é uma orientação sexual por direito próprio, é a atracção - sexual, romântica e/ou emocional - por pessoas, independentemente da sua identidade de género. A identidade pansexual, como a entendemos actualmente, surgiu em meados da segunda metade do século XX, tornando-se mais popular no início dos anos 2000, nomeadamente entre as gerações “millennial” e “Z”. É importante perceber que cada pessoa pansexual se relaciona de uma forma única e o que pode fazer sentido para uns, pode não fazer para os outros.
A pansexualidade é a atracção por todos os géneros independentemente do género. Não se limitando à binária homem/mulher, a atracção estende-se às pessoas não-binárias. Desmistifiquemos, então, alguns mitos sobre esta orientação sexual. A pansexualidade não é a atração por “homens, mulheres e transexuais”, porque transexual não é um terceiro género. No entanto, é importante perceber que as pessoas pansexuais não se sentem atraídas por todos, sem excepção, pois não se sentem atraídas por qualquer pessoa. Desmistificamos este mito. Tal como, por exemplo, um homem heterossexual não é atraído por todas as mulheres ou mulheres homossexuais não se sentem atraídas por todas as mulheres, os pansexuais também não se sentem atraídos por todas as pessoas que encontram. Outro mito muito frequente, é pensar que as pessoas pansexuais não conseguem ser felizes com uma única pessoa. Não é por haver atracção por pessoas no geral, que se tem que ter vários relacionamentos. Os pansexuais podem ter vários relacionamentos ou então, por que não, um único relacionamento a vida toda. As pessoas não são a sua sexualidade, a sexualidade é apenas uma parte. Mas então não é preciso ter estado com várias pessoas para se ser pansexual? Na verdade, não. Não é, por exemplo, por haver atracção por pessoas transexuais que se tem de ter um relacionamento com uma, se não houver esse desejo. Também é importante perceber que a pansexualidade não é a atracção por “corações, não partes”, porque isso passa a ideia de que os pansexuais são superiores. Um outro mito, talvez um dos mais difundidos, é de que as pessoas pansexuais estão apenas confusas. Este é um processo de autodescobrimento. Se é errado dizer que uma pessoa homossexual ou bissexual está confusa, por que o havemos de fazer com uma pessoa pansexual? É também muito importante desmistificar o mito de que as pessoas pansexuais se sentem atraídos sexualmente por animais e plantas. Não é verdade. Os pansexuais não estendem a atracção a qualquer ser vivo. Esta á uma ideia falsa, pois a definição limita-se à diversidade de género dos seres humanos.
Como toda a comunidade LGBTQIAPN, as pessoas pansexuais também sofrem ainda com muita violência, inclusive com a necessidade de romper mitos que são pejorativos e prejudiciais. Sendo um grupo que é impactado com muita desinformação, ser pansexual é ter de lidar com “fake news” quase diariamente. Alguns comentários chegam mesmo a ser panfóbicos (a panfobia refere-se à manifestação de desprezo, rejeição ou ódio contra pessoas pansexuais), como por exemplo, a associação da pansexualidade à defesa da pedofilia. Esta ideia foi lançada por Carlos Bolsonaro (filho de Jair Bolsonaro), como forma de desqualificar a luta LGBTQIAPN ao postar uma ilustração na rede social X - antigo Twitter - associando o “P” à “pedosexualidade”, propagando, arbitrariamente, que a comunidade concorda com a pedofilia. Isto gera indignação na comunidade pansexual.
A associação da pansexualidade à defesa da pedofilia - a ideia foi lançada por Carlos Bolsonaro (filho de Jair Bolsonaro), como forma de desqualificar a luta LGBTQIAPN ao postar uma ilustração na rede social X - antigo Twitter - associando o “P” à “pedosexualidade”, propagando, arbitrariamente, que a comunidade concorda com a pedofilia.
Todos os pansexuais já escutaram a frase “Na verdade, uma pessoa pansexual é uma pessoa bissexual sem limites.”. Esta uma ideia falsa. Então, quais as diferenças entre bissexualidade e pansexualidade? É errado considerar a pansexualidade um termo mais abrangente em relação à bissexualidade. Os bissexuais reconhecem os diferentes géneros numa perspectiva binária masculino/feminino e encaram-nos de forma diferente, já os pansexuais negam a influência dessa distinção. A questão é complexa, mas não importa se a pessoa se identifica como bissexual ou como pansexual, pois todas as orientações sexuais devem ser respeitadas.
É errado considerar a pansexualidade um termo mais abrangente em relação à bissexualidade. Os bissexuais reconhecem os diferentes géneros numa perspectiva binária masculino/feminino e encaram-nos de forma diferente, já os pansexuais negam a influência dessa distinção.
É inegável que a visibilidade é uma das formas mais efetivas na resistência de grupos marginalizados, como o dos pansexuais. O movimento tem crescido ao longo dos últimos anos, com figuras públicas como Miley Cyrus, Demi Lovato ou Bella Thorne a assumirem publicamente serem pessoas pansexuais, tornando a comunidade mais conhecida. Além disso, algumas associações têm-se destacado na luta, trabalhando incansavelmente para promover a aceitação, a visibilidade e a igualdade para pessoas pansexuais e de outras orientações não-binárias. Para isso, há dois dias no ano que assinalam a pansexualidade. A 24 de Maio assinala-se a “Consciencialização e Visibilidade Pansexual e Panromântica”, já a 8 de Dezembro comemora-se o “Orgulho Pansexual”. Datas como estas são importantes para a ampliação da consciencialização sobre o respeito à diversidade, sobretudo na comunidade LGBTQIAPN. Tal como as outras pluralidades, a pansexualidade também tem a sua bandeira. Esta voz que não faz barulho, mas que ecoa, serve para aumentar a visibilidade e o reconhecimento da comunidade e para distingui-la da bissexualidade. A bandeira é representada por três faixas que destacam a atracção independentemente do género, na sequência das seguintes cores: o rosa representa a atracção por mulheres, o amarelo reforça a ideia de que a atracção pansexual não está limitada a uma categoria específica de género e o azul representa a atração por homens. Existe também um símbolo Pansexual. É um “P” estilizado, com uma ponta que termina numa cruz (símbolo do feminino) e numa seta (símbolo do masculino). É representada na sigla LGBTQIAPN pela a letra P.
Há dois dias no ano que assinalam a pansexualidade. A 24 de Maio assinala-se a “Consciencialização e Visibilidade Pansexual e Panromântica”, já a 8 de Dezembro comemora-se o “Orgulho Pansexual”.
É muito comum haver receio no momento da “descoberta” ou da “exploração da sexualidade” quando não se encaixa no padrão social da heteronormatividade. Só a pessoa pode determinar “quem é” e “o que é”. A reflexão pode ser útil nesse processo de autoconhecimento. Podemos fazê-lo sozinhos, pedir conselhos a pessoas LGBTQIAPN ou ainda pedir ajuda profissional a um psicólogo. Questões como “Por quem já me senti atraído?” ou “Senti-me atraído por pessoas sem saber o seu género?” ou “Quando penso numa relação, o género é um factor importante?” são questões que devemos encarar de forma natural. É normal também as famílias e os amigos não saberem como reagir quando uma pessoa afirma ter uma orientação sexual considerada “não convencional”. É importante não desvalorizar, demonstrar apoio e educar para a sexualidade. Como em qualquer orientação sexual, é fundamental respeitar a auto-identificação das pessoas e reconhecer a importância da diversidade e das próprias experiências individuais. As definições de orientação sexual e identidade de género ajudam as pessoas a sentirem-se representadas e a encontrarem um direccionamento. Não são regras nem obrigações.
Para terminar, deixo-vos o meu testemunho enquanto pessoa pansexual: “Quando me descobri e me libertei de alguns paradigmas que a sociedade constrói em cima dos afectos, acabei por me entender. Pessoalmente, estou aberto a tudo que envolva consentimento. Concordo em experimentar qualquer coisa que seja bom para mim, com qualquer pessoa adulta que me queira amar. Não preciso que o meu parceiro se identifique como homem ou mulher. Gosto de pessoas bonitas. É fundamental respeitar a diversidade para construir uma sociedade mais inclusiva e compreensiva.”
Foto bandeira: https://pt.depositphotos.com/
Símbolo: Wikipédia
Filipe M. A. Caldas de Matos