— Vai retirar do livro aquela parte em que diz, e cito: “Os homossexuais são, no mínimo, 12 vezes mais prováveis de violar uma criança do que os heterossexuais”?
— Sim, sim, sim. Já foi apagado, vamos retirar esse excerto do livro, foi um erro que…
— Um erro? Mas acha que escreve num livro, intitula-se médico ou terapeuta, e escreve lá que eu e o meu namorado temos mais probabilidade de violar uma criança do que outra pessoa qualquer, só pelo facto de eu amar alguém do mesmo sexo? E publica esse livro mundialmente? E faz ainda uma fortuna à custa de difamar uma comunidade de pessoas não pretendem nada mais do que igualdade e amor? Mas está doido?
A vinda a Portugal de Richard Cohen foi discretamente anunciada, mas isso não impediu que mais de 100 pessoas marcassem presença esta terça-feira no hotel Malhoa Sana, em Lisboa. Apenas o dezanove e a Rádio Renascença noticiaram a presença em Portugal do polémico psicoterapeuta norte-americano que garante que conseguiu deixar de ser homossexual. A página do Patriarcado de Lisboa também divulgou a apresentação, mas após críticas nas redes sociais essa informação foi eliminada.
Vindo de Madrid, a paragem em Lisboa de Cohen incluiu, no dia anterior, um encontro com psicólogos, terapeutas, padres, professores e pais a quem explicou em pormenor a sua história e o método que, segundo defende, pode mudar a orientação sexual de quem o pretenda. Arranjar um local em Lisboa para o encontro é que parece não ter sido fácil – e a responsabilidade não foi das organizações LGBT. Depois de várias negas de várias instituições, coube à cadeia hoteleira Sana disponibilizar uma sala.
O momento mais tenso do encontro que se prolongou por mais de três horas ficou reservado para o fim. Aliás, até aí tudo parecia estar a correr de feição. A conferência, promovida pelo até aqui desconhecido Centro de Recursos, Pessoas, Família e Sociedade (CRPFS), com o apoio da Associação de Psicólogos Católicos, tinha o inócuo nome “Homossexualidade: Aprende, compreende e ama”. Logo no início, Richard Cohen quis saber quais eram as dúvidas dos presentes. A primeira pergunta foi colocada, ironicamente, por um homossexual. Lorenzo, que se tem destacado, ao lado do namorado Pedro, no YouTube com os episódios de Sexy Funny Kitchen, quis saber o que tinha levado o norte-americano a dedicar-se a investigar a atracção entre pessoas do mesmo sexo. O público parecia ter dúvidas mais gerais: É possível ser feliz sendo homossexual? Qual a origem da homossexualidade? – questionou uma psicóloga. A homossexualidade adquire-se? A homossexualidade é um fenómeno cultural? Há animais homossexuais? Como lidar com um gay ou uma lésbica? Ignora-se?
As questões da plateia pareciam estarem linha com as da organização. Rui Gonçalves (CRPFS) dizia quer era preciso “reflectir”, a psicóloga social Júlia Marçal considerou que impedir esta discussão era “uma forma de homofobia” e Abel Matos Santos contou que trabalhava “muito com transexuais e homossexuais”. “Deparo-me com muita gente que, vivendo num registo homossexual, me pede na consulta: ‘Ajude-me dr., que não quero viver assim’. O que fazemos? É aprender com que tem experiência nesta área e perceber como podemos ajudar as pessoas a viver. É minha obrigação como clínico procurar conhecimento e doutrina sobre este assunto”, disse o psicólogo e sexólogo que saltou para a ribalta mediática por defender que existe uma relação entre a homossexualidade e a pedofilia e por combater o acesso à adopção por parte de casais de pessoas do mesmo sexo.
Estava dado o mote para apresentar Richard Cohen como alguém que passou “de uma vida homossexual, para uma vida heterossexual com uma família linda”. O norte-americano imediatamente contagiou a plateia, onde se podia ver, por exemplo, o economista e professor universitário João Cesar das Neves que, com frequência, escreve no Diário de Notícias sobre homossexualidade. As intervenções de Cohen estavam cheias de humor. A dada altura, para mandar calar Abel Matos Santos e o tradutor que estavam a manter uma conversa paralela, disparou: “Parem de namorar”. O cirurgião pediátrico Gentil Martins, também presente, ouviu um elogio que soltou gargalhadas entre a assistência: “Ele é tão bonito. Dá mesmo vontade de abraçar e beijar”.
Richard Cohen contou em detalhe a sua história de vida – o relato não podia ser mais tenebroso, reforçado pela banda sonora que acompanhava a descrição e pela encenação onde participou uma dúzia de pessoas. Aos cinco anos foi violado pelo tio que era jogador de futebol americano. Só volta a ter memórias desse momento aos 30 anos durante a terapia. O pai era um militar pouco acessível. O irmão, cinco anos mais velho, batia-lhe. A mãe, muito próxima do pequeno Richard, contava-lhe todos os problemas que tinha com o marido e pai. “Isso violava-me. Ficava ainda mais magoado.” Na escola era um rapaz “sensível”, vítima de bullying homofóbico. No liceu saiu do armário e na universidade começou a namorar com um rapaz católico. O judaísmo pouco militante ficou para trás depois de “começar a acreditar em Jesus”. “Deus pôs os braços à minha volta e senti-me amado pela primeira vez” (neste momento da palestra, enquanto decorria a dramatização sobre a sua vida, um jovem abraça por detrás a personagem Richard Cohen para ilustrar o momento da revelação. Cohen mostra-se surpreendido com a capacidade de representação “dos portugueses” e pede para que o participante que representava Deus o abrace por detrás para que tirem uma foto).
Graças a Deus, aos amigos e à terapia, Cohen sentiu-se pela primeira vez bem consigo próprio. É nesta altura que o terapeuta se emociona e começa a lacrimejar. Afinal, relata à assistência, buscava noutros homens o amor que não tinha. É nessa altura que revela ao pai que “não procurava sexo nos outros homens, mas sim o teu amor”. Foi o abuso sexual de que foi vítima por parte do tio e a falta de ligação com o pai, alega, que o levaram a desenvolver a atracção sexual por homens, sendo assim um exemplo de que é possível restaurar, por via religiosa e terapêutica, a heterossexualidade.
Cohen conta que, após 30 anos, irá fazer uma pausa nas palestras que o têm levado aos quatro cantos do mundo. “É a primeira vez que falo em público sobre isso.” Em 2000 publicou o livro “Coming Out Straight”, que no mercado hispânico teve como tradução “Compreender y Sanar la Homosexualidad”. O terapeuta aproveita para demarcar-se do título em espanhol. “Não tinha conhecimentos de espanhol e não compreendi o título. Curar não é o meu objectivo”. Seguiram-se os livros “Gay Children, Straight Parents: A Plan for Family Healing” e “Straight Talk About Homosexuality”.
Nenhum colectivo ou associação LGBT marcou presença. A principal voz dissonante da noite foi a de Lorenzo, já na parte final destinada a perguntas do público, que protagonizou uma acessa troca de argumentos com Richard Cohen.
— É pena que todos estes portugueses aqui sentados a concordar consigo e a aceitar as suas palavras desde o início desta palhaçada de palestra, não saibam que se dá ao luxo de enviar gratuitamente centenas de exemplares deste livro para países como a Uganda, onde os homossexuais são mortos em praça pública só pelo facto de serem gays. E ainda que é apoiado e referenciado pelos políticos desses países, que apoiam leis anti-gays e que lhe agradecem pelo conteúdo e experiência que lhes dá. Você tem sangue nas mãos. Devia de ser ilegal estar nesta sala, e é por isso que muitos hotéis em Lisboa recusaram a conferência. Infelizmente este Sana Hotel, não deve estar ciente, tal como este público aqui sentado, sobre o que faz e o perigo que representa.
— Bem, eu disse que seria uma pergunta só, já está a fazer demasiadas e o nosso tempo é curto.
— Só mais uma coisa, consegue curar-me a mim e ao meu namorado, se participarmos na sua terapia, ou se lermos os seus livros?
— Eu não curo ninguém, nem gosto dessa palavra mas, se vocês quiserem ajuda, eu sei como vos posso ajudar, como já ajudei milhares de outras pessoas.
— Mas como é que alguém no seu perfeito juízo, que viva uma vida normal, feliz e cheia de amor alguma vez procuraria ajuda para alterar isso? Qual é o médico que quer fazer uma operação a alguém que está 100 por cento saudável? Se quer mesmo ajudar, e se é esse o seu verdadeiro objectivo, devia concentrar o seu tempo, o seu trabalho, os seus livros e o seu dinheiro em resolver problemas reais e não a tentar acabar com amor entre duas pessoas,- rematou Lorenzo.
À saída, a organização recolhia envelopes, que tinham sido colocados nas cadeiras, com dinheiro para financiar os custos da estadia, deslocação, aluguer da sala e despesas de promoção que permitiram a vinda de Richard Cohen a Portugal. Também estava à venda uma brochura que resumia o livro “Gay Children, Straight Parents”, cujas receitas se destinavam a apoiar a iniciativa do Centro de Recursos, Pessoas, Família e Sociedade (CRPFS).
Rui Oliveira Marques
9 Comentários
Anónimo
É chocante que haja psicólogos e terapeutas em Portugal que, à revelia das principais associações e agremiações mundiais da área, ainda defendam que a homossexualidade pode ser curada. Isto implica afirmar que é uma doença, ou no mínimo uma disfunção.
A comunidade médica é, por tradição, conservadora e homofóbica; quem está nos meio sabe-o. E não é incomum ouvir médicos ou psicólogos defenderem argumentos que os desprestigiam e envergonham, pela ignorância e leviandade.
O caso pessoal de Richard Cohen parece consubstanciar um caso de patologia psicológica e se tivesse tido ajuda de um colega competente talvez pudesse ter vivido a sua homossexualidade sanamente, sem juntar mais uma disfuncionalidade à sua lista longa de problemas: a da auto-recriminação e vergonha pessoal.
Mas ainda que se aceite que, no caso específico dele, as relações com outros homens foram, de facto, procura de aceitação de figuras paternas, tal não é o caso de outros milhões de pessoas. Mas o mais caricato é que, para estes "especialistas" seja qual for a história pessoal, haverá sempre fundamento para a doença da homossexualidade: se o pai esteve presente… o filho fica gay; se o pai esteve ausente… o filho fica gay. Se o irmão é mais velho, se o irmão é mais novo, se tem cão, se não tem… que charlatanice! Não se fica gay…é-se!
Onde estão as autoridades que aceitam que profissionais, a lidar com crianças, jovens e adultos, demonstrem este tipo de deformação e lhes permitam continuar em atividade? Tão mau para uma criança ou adolescente um pedófilo são os psicólogos deste tipo. Estes são casos para as autoridades investigar e é fácil perceber quem participou ativamente neste engodo.
Gama3000
Sinceramente deveria ter sido barrada a entrada a esta criatura.
As acções dele destruíram vidas. para mim é um criminoso.
Fico extremamente revoltado com o que defende.
Cat
Nem se consegue ler o que está escrito no slide até ao fim mas “A Homossexualidade é um sintoma (…)”, sintoma? Bitch, bye!
Anónimo
Parece-me que o papel das associações glbt foi bom: não fazer nada, pelo menos aparentemente. Veremos se há consequências com os profissionais envolvidos.
Já o do dezanove, ao se colocar do lado da renancença e do patriarcado e chamar a atenção para esta pessoa, serviu para…? Ah! Ok! Ficámos a saber que o sr. veio cá. Bom trabalho!
Sabem que em Portugal há imensos terapêutas que nas consultas falam nestes termos? Não é isto tão mais grave, abusar da fragilidade de um paciente – e num consultório, não numa sala de hotel? Enfim. A cabeça deve ser para pensar e não só para ter piercings.
Jaime Guisado
Olá. Ao colocar o meu mail neste comentário arrisco-me a ser considerado um homofóbico por pensar (tenho esse direito?) de maneira diferente. Será que existem verdades absolutas? Será porque um país ou um grupo “vê” no Corão que podem matar em nome do Islã que todos os muçulmanos são assassinos? Eu considero-me uma pessoa tolerante por isso aceito o direito a não desprezar o outro por ter comportamentos com os quais não concordo. Um abraço
António Vieira
Peço desculpa, mas não foi nada disso que o Lorenzo disse… Esta reportagem é pura ficção!
Miguel R
Bem, Um relato vale o que vale, porque acabamos sempre por deixar que os nossos pontos de vista afetem a forma como analisamos os acontecimentos, logo é provável que haja tendência para exacerbar as partes que achamos mais ridículas da situação, porque no fim de contas somos todos humanos.
Não fui, nem iria mesmo que morasse pela capital, porque acho toda a premissa um bocado ridícula. Se é um terapeuta cura qualquer coisa. Se não cura a homossexualidade, e ela é um sintoma, o que cura ele efetivamente? chegou a fazer se essa questão?
Porque é que as pessoas insistem em atirar dinheiro a estes vendedores de banha da cobra, só com base em promessas e discursos emocionais? Não acham estranho ele não ter qualquer tipo de certificações, como penso já ter sido averiguado há uns tempos, e ainda assim vir dar palestras sob um discurso quanto muito… surreal?
Pablo
«Hay mucha violencia en el ambiente homosexual, mucha violación que no se ve, disfrazada de amor»
http://www.religionenlibertad.com/hay-mu cha-violencia-en-el-ambiente-homosexual-m ucha-violacion-que-no-42275.htm
Geraldo da Silva Côrtes
Boa tarde e a paz!
A liberdade!
A liberdade é o maior dom, concedido por Deus a cada um que nasce neste planeta.
A liberdade de expressão, de andar e de agir são marcas de uma civilização, onde cada um participa, com ato livre e racional, segundo a própria vontade, desde que não venha prejudicar outro(s) ou afetar a liberdade de outrem.
Na diversidade do exercício da liberdade, penso ser de bom grado que, na imensidão de vontades e nas mais variadas culturas e costumes saibamos caminhar com respeito e com amor, uns para com os outros.
Assim, a liberdade é uma via de mão dupla: a minha liberdade e a liberdade dos demais entes, que passa por mim.
Somos chamados a ser amáveis não só com nós mesmos ou afins, mas sim com todos, indistintamente, de forma tal que possamos construir a “Civilização do Amor”: tão sonhada por Deus.
O Doutor Richard não obriga ninguém a fazer nada, pelo contrário é voluntário em ajudar quem a ele recorrer.
Pela fala dele não houve ofensas a ninguém, pelo contrário ele se abriu, com sua vida e suas experiências e apresentou suas propostas.
Cabe a cada um aceitar ou não, com respeito e urbanidade.
Se sou simpatizante de A ou de B é uma coisa pessoal minha, de acordo com meus princípios, alicerçados no exercício pleno da liberdade.
Saibamos, pacificamente ouvir, acolher e reter o que for útil e descartar o que não for. Simples assim, pois onde reina o amor, há amabilidade para com o próximo e vivência da liberdade, com amor.
Sejamos, portanto, livres para amar a todos, sem acepção – grande legado de Nosso Senhor Jesus Cristo:
{A grande novidade do Evangelho não é tanto o fato de Deus ser fonte de bondade, mas de que os homens podem e devem agir à imagem do seu Criador: “Sede misericordiosos, como o vosso Pai é misericordioso!” (Lucas 6,36). Pela vinda de Seu Filho até nós, esta Fonte de bondade está agora acessível. Tornamo-nos, por nosso lado, “filhos do Altíssimo” (Lucas 6,35), seres capazes de responder ao mal com o bem, ao ódio com amor. Vivendo uma compaixão universal, perdoando aos que nos fazem mal, damos testemunho de que o Deus de misericórdia está no coração de um mundo marcado pela recusa do outro, pelo desprezo em relação àquele que é diferente.
Impossível para os humanos entregues às suas próprias forças, o amor pelos inimigos testemunha a atividade do próprio Deus no meio de nós. Nenhuma ordem exterior o torna possível. Só a presença, nos nossos corações, do amor divino em pessoa, o Espírito Santo, permite amar assim. Este amor é uma consequência direta do Pentecostes. Não é em vão que Estêvão, cheio do Espírito Santo, termine com estas palavras: “Senhor, não lhes atribua este pecado” (Actos 7,60).
Como Jesus, o verdadeiro discípulo faz com que a luz do amor divino brilhe no país sombrio da violência como é o nosso Brasil.
Este amor, longe de ser um simples sentimento, reconcilia as oposições e cria uma comunidade fraterna a partir dos mais diversos homens e mulheres, da vida desta comunidade sai uma força de atração que pode agitar os corações. É este o amor que eu chamo de perfeito, o amor que perdoa até aqueles que nos podem tirar a vida.} http://homilia.cancaonova.com/homilia/ho milia-3%C2%AA-feira-1906/, acesso em 19/09/2017, às 17:30h.