Em resposta à recente vaga da Extrema-Direita que assolou as eleições europeias, a ministra sueca para os Assuntos Europeus, Birgitta Ohlsson, vai enviar 400 alunos e 40 professores em visitas de estudo a vários campos de concentração na Polónia.
Num artigo de opinião no Expressen, um dos jornais suecos com maior tiragem, Ohlsson diz que esta é uma tentativa de educar as crianças suecas sobre os horrores do Holocausto. “O extermínio de seis milhões de judeus, juntamente com a crueldade incompreensível de que foram alvo as comunidades Roma e LGBT, pessoas com deficiência, dissidentes políticos e religiosos, não tem comparação na História mundial”.
As visitas de estudos vão ser oferecidas conjuntamente com palestras onde participarão sobreviventes do Holocausto, de forma a fazer os alunos entender com maior profundidade a dimensão e as consequências do momento mais negro do século passado.

Será a reacção sueca överdrivet?
O dezanove.pt já tinha dado conta das consequências nefastas para os direitos LGBT do aumento de assentos europeus de partidos extremistas como a Frente Nacional da França, o Aurora Dourada da Grécia (na imagem) ou Ukip do Reino Unido, só para citar alguns. Eis um apanhado que mostra como a Extrema-Direita está a ganhar terreno na Europa:
França – Frente Nacional
Frases como “a invasão nazi da França não foi particularmente desumana, apesar de alguns lapsos, inevitáveis num país tão grande” ou “as câmaras de gás foram apenas um detalhe na história da 2ª Guerra Mundial” valeram a este partido multas e uma reputação anti-semítica que levou quase 10 a limpar.
Marine Le Pen, actual dirigente, esforça-se por se distanciar desta e de outras ideologias radicais, alegando por exemplo apoiar a homossexualidade e o aborto – ambos como escolhas. Ainda assim o partido esteve na linha da frente dos fortes protestos contra a aprovação do casamento entre pessoas do mesmo sexo, em Abril do ano passado.
A Frente Nacional obteve 24 assentos no Parlamento Europeu, conseguindo o apoio de 4,7 milhões de franceses – mais um milhão do que todos os eleitores Portugueses juntos que votaram nestas eleições.

Grécia – Aurora Dourada
Descrito tanto por fontes académicas e pelos média como neo-nazi, fascista, racista e homofóbico, o partido liderado por Nikolaos Michaloliakos faz uso recorrente de simbologia e figuras nazis. Num artigo de 2011, um dos porta-vozes do partido louva Hitler como grande reformador social e um génio militar. Em declarações de Abril deste ano, outro porta-voz caracteriza a homossexualidade como uma doença e defende o conceito de “um estado, uma raça”.
O partido foi votado por cerca de meio milhão de eleitores, conseguindo 3 assentos no Parlamento Europeu.
Reino Unido – Ukip
O Ukip parece ser o mais moderado deste lote, no sentido em que nunca expressou quaisquer visões sobre o Holocausto, e apoia as uniões de facto entre pessoas do mesmo sexo, ainda que continue contra o seu casamento – entretanto aprovado no início do ano na Escócia, Inglaterra e País de Gales.
Assume-se sim como um partido nacionalista, anti-imigração e anti-união europeia. O que faz o partido estar nesta lista é a estridente oposição de muitos dos seus membros, representantes do eleitorado, em relação a direitos LGBT. Frases como “o casamento gay gera homofobia” (David Coburn), “que se fo**m os rotos” (Dave Small) ou “a homossexualidade não é um estilo de vida válido ou que mereça respeito (Roger Helmer) entram em directa oposição com o facto do partido ter membros gays e até transexuais.
Talvez seja por esta dualidade cravo-ferradura que o partido obteve o seu melhor resultado de sempre nestas eleições, com o apoio equivalente a metade da população portuguesa.

Nej, det är inte överdrivet. (Não, não é excessiva)
A História mostra que a Extrema-Direita, quer nazi ou não, se refere constantemente à homossexualidade como uma doença mental, física, social ou espiritual. Os padecentes são vistos e muitas vezes tratados como uma ameaça.
Quando em 1933 chega ao poder, Hitler começa por banir associações de gays, livros académicos sobre a homossexualidade e executa homossexuais do seu próprio partido. A Gestapo compila uma listas de homossexuais, agora obrigados a seguir a “norma alemã”.
De acordo com dados do Museu do Holocausto dos Estados Unidos, entre 1933 e 1945 cerca de 100.000 homens foram presos por não seguirem aquela norma, 15.000 dos quais acabariam por ser mortos em campos de concentração. Os que não foram mortos eram tratados de forma particularmente cruel pelos guardas e também pelos outros prisioneiros, onde eram frequentemente alvos de violência. Os médicos Nazis estavam interessados em localizar o gene gay e a removê-lo, para que as crianças arianas fossem curadas da doença.
Mesmo após a guerra, os sobreviventes gay ficaram cadastrados como criminosos sexuais, tendo-lhes sido negadas compensações atribuídas a outros. Só durante os anos 70 e 80 é que se toma conhecimento da perseguição de que foi alvo este grupo particular – até à altura era ignorada academicamente.
Em 2005, o Parlamento Europeu assinalou os 60 anos da libertação do campo de concentração de Auschwitz, com um minuto de silêncio e uma resolução, que gostaríamos que servisse de exemplo para o que aí vem:
“Esta não é uma ocasião apenas para relembrar e condenar o enorme horror e a tragédia do Holocausto, mas também para para lidar com o perturbante aumento de episódios de anti-semitismo na Europa, e para aprender com as lições do passado sobre os perigos de vitimizar pessoas com base na raça, origem étnica, religião, classificação social ou política e orientação sexual.”
8 Comentários
R. Miguel
A minha pergunta é só uma: em relação ao aumento da extrema direita na Europa, isto deve-se apenas a questões ideológicas ou será que se deve a estas politicas de lixo a que esta (des)união europeia nos sujeita? É que eu acho que é bom saber interpretar as coisas. Eu não nego que a extrema direita é algo que não é bom para as minorias, mas é preciso saber ver as circunstâncias económicas e sociais que a Europa vive neste momento. E para quem conhece a Europa, sabe que em situações como a actual, os países do sul tendem a virar à esquerda, enquanto que os do centro, leste e norte, viram à direita (à extrema, claro). São questões culturais, e isso não se pode negar. E também não podemos fazer de todas as extremas direitas um horror.
Eu não sei se me consigo fazer entender, mas acho que este artigo é um pouco tendencioso (acho q é assim que se diz/escreve). Vocês não podem colocar os partidos de extrema direita como se fossem todos um terror a ser evitados, pois a extrema direita, a direita, o centro e a esquerda variam de país para país. Em relação aos LGBT, às mulheres e aos judeus, não me parece que com a extrema direita da Holanda, da Finlândia ou de outros países do norte nos tenhamos que preocupar. Eles são essencialmente é contra os muçulmanos (o que não significa que eu concorde com isso, mas pronto, se um povo decide por isso, esse povo é q sabe o que é melhor para si), esta economia da treta e outras coisas (concordando eu com algumas e com outras não).
Em relação a serem apresentados a extrema direita da França e da Grécia neste artigo, acho também bastante tendencioso. Por mim, nem uma nem outra serve, mas a Marine Le Pen (França) à beira da Aurora Dourada (Grécia) é uma santa. E olhando para o contexto Francês, era bom referir que uma parte significativa da comunidade LGBT Francesa (número a rondar os 20-25% – estes dados são reais, simplesmente não foram noticiados em nenhum meio de comunicação em Portugal (pelo menos, eu não vi)) apoiam a Marine Le Pen. E porquê? Vários factores: um deles é o económico, óbvio; outro é o facto de a comunidade muçulmana ser enorme na França (milhões) e haver ataques por parte dessa comunidade a pessoas LGBT, assim como a mulheres e a judeus. Cá, a comunidade deles não é muito relevante, por isso, por parte dos muçulmanos, não temos esses problemas, mas lá ele é real. Lá e não só. Veja-se o que aconteceu na passagem de ano em vários países europeus e o que aconteceu na Alemanha aquelas duas transsexuais. Não quero que pensem que sou contra os muçulmanos (pq não sou – e isto é só um exemplo) mas há que saber interpretar a situação de cada país e não levar isto para questões meramente ideológicas. E se querem travar os partidos extremistas, então os partidos tradicionais (sejam eles de esquerda ou direita) que comecem a proteger o interesse dos cidadãos do seu país e não apenas os interesses económicos e interesses daqueles que vêm para a Europa e que nada fazem para se integrar no meio de nós (critiquem-me à vontade, mas não somos nós, europeus, que temos de mudar os nossos hábitos, são eles que têm de se adaptar à nossa cultura, e se não quiserem, podem sempre ir para os EAU, visto serem bem ricos e partilharem a mesma cultura).
Em relação ao UKIP (Reino-Unido), após tanta coisa vista ao longo dos últimos anos, não me parece mesmo que eles vão ter alguma relevância política num futuro próximo no Reino-Unido. Já o seu líder, Nigel Farage, pode gostar-se ou odiar-se, mas que diz muitas coisas acertadas em relação à politica e à economia da Europa, isso diz – muitas dessas coisas são até idênticas ao que a esquerda do sul defende, por isso, acho que não podemos usar o holocausto para generalizar o que se passa actualmente nesta Europa de lixo. Aliás, alguns desses partidos (nomeadamente, nos países do norte), apesar de um pouco xenófobos, são capaz de ser melhorzinhos que a direita portuguesa. Mas isso é só a minha opinião, claro.
Filipe
UKIP: partido populista que manipula dados e que manipula informação, com uma cegueira doentia contra os imigrantes da Europa continental.
Tão preocupante quanto o crescimento da Extrema-Direita é o crescimento da Esquerda radical no Sul, em Portugal, Espanha e Grécia.
As novas gerações não viveram os horrores da guerra ou do comunismo e portanto aderem mais facilmente a estas ideologias extremistas que os seus pais e avós.
A Europa viveu uma ilusão a crédito que causou um endividamento excessivo dos Estados, em parte devido a crony capitalism como sucedeu em Portugal especialmente com Guterres e Sócrates.
A Europa tem menos recursos naturais que a América do Norte e tem uma natalidade suicida. Tem de importar recursos que não tem e sem população activa suficiente os Estados Sociais continuarão a ter cortes.
Além disso a Europa tem muitos problemas de competitividade pois em vários países como França ou Portugal mas também Espanha ou Grécia as leis e regulamentos impedem a inovação, impedem a entrada dos jovens em alguns negócios, protegem da concorrência e taxam excessivamente. Isso não sucede nos países anglo-saxónicos, por que motivo acham que todas as recentes inovações tecnológicas partem de lá?
O populismo de Esquerda ou de Direita mente e manipula uma população mal informada. Culpas? Os jornalistas são parte do problema, pois dão tempo de antena aos populistas sem que questionem as suas declarações falaciosas e demagógicas. É o que sucede em Portugal com a extrema-esquerda radical, que é acarinhada pela comunicação social.
Os problemas da Europa são então pouca natalidade, falta de recursos naturais, falta de mobilidade social, excesso de regulamentação, muitas oligarquias e monopólios, promiscuidade entre a Banca e o poder político, necessidade de aprofundamento do mercado comum, e excesso de pequenos nacionalismos que causam constante instabilidade política.
Os partidos populistas de Esquerda e de Direita não têm soluções para estes problemas e é mais fácil culpar os imigrantes e a UE, como no passado era mais fácil culpar os judeus ou os Aliados.
Anonimíssimo
“E também não podemos fazer de todas as extremas direitas um horror”
Óptimo. Diz-nos então qual das extremas direitas é apologista dos direitos para minorias, em particular a comunidade LGBT.
Anónimo
Mas eu disse, referi a da Holanda e algumas da Europa do Norte, e referi que as mesmas são essencialmente contra os muçulmanos. Se leres outra vez, está lá.
Anónimo
Pois, porque ainda há retardados mentais que acham que muçulmanos são seres inferiores. Cada vez mais parece que estamos a regressar aos anos 30.
Anónimo
“Além disso a Europa tem muitos problemas de competitividade pois em vários países como França ou Portugal mas também Espanha ou Grécia as leis e regulamentos impedem a inovação, impedem a entrada dos jovens em alguns negócios, protegem da concorrência e taxam excessivamente. Isso não sucede nos países anglo-saxónicos, por que motivo acham que todas as recentes inovações tecnológicas partem de lá?”
Nos países anglo-saxónicos, um deles está à beira de eleger um candidato fascista, o outro resolveu sair da UE por razões xenófobas… Belos exemplos esses. Entre o Farage, o Trump e a Le Pen, venha o diabo e escolha.
Anónimo
O Filipe e as falsas simetrias.
Anónimo
O R.Miguel não tem nada contra muçulmanos MAS…