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O arco-íris que termina no Qatar

Manuel Oliveira

Alteraram a braçadeira de capitão, colocaram bandeiras nos estádios e, chegaram até, a criar uma onda de afecto quando um jogador se assumiu homossexual. Mas, apesar de todo o “activismo”, que agora percebemos falso, não se lembraram de mais nenhum país para celebrar a maior competição do desporto que amam. Tornou-se difícil a escolha e, por coincidência, ficou designado um país onde ser LGBTQIA+ não só é ilegal como é punível com pena de morte. 

A escolha do Qatar como anfitrião do Mundial de Futebol 2022 foi, aos olhos de qualquer defensor dos Direitos Humanos, um anular dos avanços que têm vindo a ser feitos no mundo do futebol. 

Se falarmos da veracidade desses avanços podemos de certo confirmar a sua índole duvidosa. A verdade é que, o meio futebolístico foi, e continua a ser, uma terra infértil para a plantação dos direitos e liberdades LGBTQIA+. Aliás, o primeiro jogador capaz de encontrar forças e espaço para falar abertamente da sua sexualidade apenas o conseguiu fazer em 2021. Falamos de Joshua Cavallo, um jogador da primeira liga australiana. 

No entanto, temos de reconhecer que, nos últimos anos, tem-se vindo a observar uma maior abertura da comunidade futebolística a questões de orientação sexual e identidade de género. Pelo menos em mostrar essa abertura, já a sua existência na realidade é, uma vez mais, de índole questionável. 

Sabemos que, não basta colocar bandeiras arco-íris nas braçadeiras de capitão, ou nas bandeirolas de campo ou até mesmo nos logótipos do clube para tornar o meio do futebol um local seguro para a nossa comunidade. Não obstante, “é melhor que nada”. Isto no sentido que, a exposição de símbolos da comunidade queer pode ter um efeito educativo do público deste desporto. 

Sabemos que, não basta colocar bandeiras arco-íris nas braçadeiras de capitão, ou nas bandeirolas de campo ou até mesmo nos logotipos do clube para tornar o meio do futebol um local seguro para a nossa comunidade. 

Contudo, a índole deixa de ser questionável quando, na escolha para um país anfitrião do Mundial 2022, a FIFA opta pelo Qatar. Penso que não seja do desconhecimento dos leitores o perigo do Qatar para a comunidade LGBTQIA +, mas caso o seja, passo a explicar. 

O Qatar é um país onde a homossexualidade é punida por lei, ou seja, ter uma orientação sexual além da heterossexualidade é proibido. Sem falar de todas as outras orientações e identidades existentes no guarda-chuva queer. Trans, não-binário, bi, etc, não são termos que entrem na boca dos altos cargos catarianos. Além de tudo isto, o Qatar pertence aos 10 países no mundo onde ser LGBTQIA+ não só é crime como é punível com pena de morte. Falamos então de um país que extermina a comunidade LGBTQIA +.  

Com a escolha deste país, a FIFA não só confirma que, nada quer saber da comunidade, bem como não se preocupa com a sua segurança. A decisão tomada mostra aquilo que já todos pensávamos sobre este meio, a defesa dos direitos à orientação sexual e identidade de género não existe, e se existe tem um limite muito claro, os interesses económicos. 

Aliás se a questão for meramente económica alguém deveria propor que, as bandeiras LGBTQIA + que o Qatar afirmou que iria confiscar para “protecção dos adeptos”, sejam mais tarde vendidas num fórum online. Estou só a deixar aqui uma ideia de negócio. 

Proteger os adeptos não é confiscar-lhe os símbolos da sua liberdade, da sua luta, é realizar eventos desportivos tendo em conta a sua segurança e liberdade. É não apoiar países que ainda tentam aniquilar a existência de uma comunidade. É excluir qualquer comportamento LGBTIfóbico existente no cerne deste desporto. 

Proteger os adeptos não é confiscar-lhe os símbolos da sua liberdade, da sua luta, é realizar eventos desportivos tendo em conta a sua segurança e liberdade.

Na mesma linha deste acontecimento, também a UEFA, responsável pela organização da Champions League e do Europeu de futebol, tinha seleccionado a Rússia para ser anfitriã da final da Champions League. Ou seja, a UEFA, que fez ressaltar em tudo o que era objecto de estádio (braçadeira do capitão, bandeirolas de campo, bancadas,...) o símbolo arco-íris, foi a mesma que achou por bem realizar a final de um enorme evento desportivo num país que continua a perseguir a liberdade de orientação sexual e identidade de género. 

Mais uma vez, os motivos são óbvios: interesses económicos. Não fosse a Gazprom, uma empresa de gás estatal russa, patrocinadora da Champions League. Devido ao início do conflito na Ucrânia, a UEFA acabou por alterar a final da Champions para França. O continente europeu, que muitas vezes se crê moralmente superior a todos os outros, não passa de uma fachada no que toca a este sector. Abanam-se bandeiras em defesa de uma comunidade até ao momento em que o dinheiro fale mais alto. 

Abanam-se bandeiras em defesa de uma comunidade até ao momento em que o dinheiro fale mais alto. 

Contudo, o importante a reter é que nunca, em caso algum, a segurança e liberdade desta comunidade passa pela cabeça dos senhores do futebol. 

Afinal de contas, já não falta muito para o mês de Junho, e à FIFA e à UEFA juntar-se-ão milhares de empresas que “respeitam e lutam pela comunidade”, mas só durante um mês.

Mas como sabemos, enquanto for mais lucrativo o hastear de uma bandeira do que a exclusão de um país criminoso de um campeonato mundial, o pinkwashing será sempre uma realidade. Afinal de contas, já não falta muito para o mês de Junho, e à FIFA e à UEFA juntar-se-ão milhares de empresas que “respeitam e lutam pela comunidade”, mas só durante um mês. Apenas para, no mês seguinte, apoiarem lobbies anti-LBGTQIA+ ou escolherem países como o Qatar para receber o Mundial de Futebol. 

 

Manuel Campos de Oliveira