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joão barbosa

O ano passado, no que poderia ser chamado “o mês da vergonha”, que se seguiu ao Mês do Orgulho, tive oportunidade de referir que, como uma alegoria para o fenómeno mental da dissonância cognitiva, era vergonhoso pensar-se em dar (literalmente) palco a um mega-evento da Igreja Católica Apostólica Romana (vulgo ICAR), ao mesmo tempo que se começava a falar dos resultados preliminares da comissão independente de inquérito (projectoDar Voz Ao Silêncio”) sobre o drama das crianças abusadas por essa mesma instituição, num artigo em que listei muitas das razões pelas quais considero a ICAR como a fonte moral de praticamente todos os preconceitos contra mulheres e minorias no Ocidente, muito em especial a comunidade LGBTQIA+.

Atirando sal para a ferida e como se não houvesse limite para o mau gosto, estamos a falar de um evento que se chama justamente “Jornadas Mundiais da Juventude”, acrescente-se. A mesma instituição então acusada de dar guarida a não sei quantos pedófilos durante décadas, era tomada, portanto, como idónea para organizar um evento internacional que congregasse jovens de todo o planeta. A imagem de um lobo a comandar um rebanho para um matadouro vem à cabeça.

Também tive oportunidade de explicar nesse mesmo artigo e cito, “Que fique uma coisa bem clara: eu luto pela auto-determinação de cada um. Isso inclui a liberdade religiosa. Eu luto para que cada um possa exercer o culto que quiser - desde que não à parte da lei - mesmo que não seja o meu culto. 

Ao contrário de mim, porém, o que a ICAR sistematicamente faz é transcender o que impõe à sua comunidade e tentar fazer o mesmo ao resto de todos nós que estão de fora dela.”

Não é por acaso que o acima citado “mês da vergonha” tenha sido inaugurado pela Joana Marques, «humorista» da Renascença, uma rádio associada à ICAR, nem que tenha sido seguida por personagens associadas à tenebrosa Opus Dei (a «Maçonaria do Bem», da ICAR) ou por requintados aldrabões associados ao defunto CDS-PP, os «Democratas» «Cristãos», que já não se percebe bem, sequer, por que é que ainda têm o palanque que nos meios de comunicação social mais clássicos lhes dão - e que, de “Democratas” ou “Cristãos”, cada vez mais parece que só retiveram o branding.

Dizem-nos sempre que são só palavras, leves palavras que até o vento as pode levar - coisa pouca da liberdade de expressão - mas passado um ano desde esses acontecimentos, as palavras já começaram a manifestar-se em actos de violência, como o ataque em Évora a uma exposição que pretendia simplesmente informar e aumentar a empatia pela comunidade LGBTQIA+ - em pleno Mês de Orgulho, mais uma vez e sem qualquer coincidência.

Volvido um ano sobre as supracitadas investigações à ICAR, sabemos hoje que foram quase 5000 crianças vítimas da Santa Igreja Católica, entre sujeitos activos que perpetraram as violências sexuais e morais sobre as vítimas e outros, criminosamente coniventes no seu silêncio ou, pior ainda, activamente ajudando a encobrir os crimes e dando opção de reincidência aos criminosos, afastando-os, simplesmente, em vez de os entregar à Justiça laica - quando não, coagindo as vítimas a não apresentar queixa junto das autoridades civis.

Não tenham descanso no Céu ou na Terra.

Aproveitando a visita do Papa Francisco e dentro da Liberdade de Expressão garantida pela CRP (artigo 37º) e dos valores do Capitalismo (curiosamente tratados como mandamentos religiosos pela ala Neoliberal que, por vezes, se esquece que já lutou ao nosso lado, contra os Conservadores) decidiu então um grupo de cidadãos (https://thisisourmemorial.pt/) adquirir espaço publicitário em três outdoors - lembrando a todos a chaga aberta que é a pedofilia patrocinada pela ICAR em Portugal (sim, porque ainda há tudo o mais que se sabe ou que entretanto se virá a saber, além fronteiras) - iniciativa que chegou à RTP e até lá fora, como o artigo da Reuters atesta.

Não bastava já a constrangedora promiscuidade entre o nosso Presidente da República e a ICAR, ou o hipócrita meio-silêncio do ultrajado profissional da Extrema-direita perante o envolvimento do seu confessor pessoal. Eis que se descobre que em Oeiras, coutada do senhor Isaltino de Morais (diz-se por aí que ele é dono de Oeiras - ou, pelo menos, pensa que é), um dos cartazes é obliterado, sem grandes explicações. O senhor Isaltino de (várias) Morais (militante do Partido Social Democrata) sentiu que a mensagem do dito cartaz era ofensiva para a ICAR e seus seguidores. Como Democrata que é, achou por bem abafá-lo.

Não sei quanto a vocês mas, para mim, quando a honra da ICAR está dependente de um sujeito que foi condenado em 2009 a sete anos de cadeia (sete - não é brincadeira nenhuma) e a uma indemnização de 463 mil euros pelos crimes de - e cito - “corrupção passiva para acto ilícito”, “abuso de poder”, “branqueamento de capitais” e, finalmente, “fuga aos impostos”, que acaba por começar a cumprir pena em 2014, e sai - sabe-se lá porquê - em condicional um ano depois para, já o ano passado, ser novamente acusado - desta vez, para ser diferente, para não enjoar - de prevaricação, pelo Ministério Público, então… a ICAR está pior do que o que se supõe.

Isaltino de Morais Duvidosas faz parte de uma tal Direita que se diz pela Liberdade de Expressão e contra a Cultura do Cancelamento, ao mesmo tempo que cancela direitos de cidadãos (por exemplo, LGBTQIA+), espalha mentiras (ver o que disse sobre o Lobo Xavier, acima) e se sente incomodada por uma actriz trans exigir que pelo menos os papéis de representação de personagens trans sejam cumpridos por pessoas trans, se esgadanha contra os seus moinhos de vento orwellianos, no mesmo fôlego em que realiza uma autêntica censura no seu sentido menos metafórico possível, daquelas que já não se via desde o Estado Novo, para escudar a ICAR de ser confrontada com os seus crimes contra crianças. Isto, com o Zeitgeist do caso Jéssica como pano de fundo, em Portugal, ao mesmo tempo.

A sorte desta gente é que “o Povo é sereno”: depois disso, uma série de pessoas fizeram apenas cartazes, espalharam fotos dos outdoors nas redes sociais, deram o alerta, etc. Uma activista imprimiu o cartaz numa folha A4 e plantou-se ali debaixo, do espaço censurado, porque a coragem e a verdade não se conseguem silenciar. 

Se malta se chateasse à séria, como nos tempos do lápiz azul, era logo tudo corrido a grafitti pelas paredes de Oeiras, que é o que se faz a ditadorzinhos de trazer por casa, que querem monopolizar o discurso político em favor das suas agendas pessoais.

Quando se tenta falar de empatia e respeito por comunidades historicamente martirizadas por séculos de supremacia, chamam-lhe propaganda. Mas quando eles despejam sem-abrigo para acolher mais este exercício de branqueamento de uma organização que em nada serve os seus fiéis e, pelo contrário, acumula um karma asqueroso, reiterado a cada nova geração, quando correm alegações nas redes sociais que obras que durante anos e anos nunca foi possível materializar, agora avançam a galope, ou quando se resolve tudo na linha dos ajustes directos desnecessários, tendo em conta todo o tempo que houve para preparar o evento, isso… isso já é serviço público.

Há uns meses, estava numa loja de roupa e fui surpreendido por uma moça de uma seita Cristã (Evangélica) que me interpelou, perguntando-me, no meio das roupas expostas, se podia rezar uma oração comigo. Soube depois que já era conhecida do pessoal da casa e que ela aproveitara a distracção dos empregados para entretanto para espalhar panfletos da sua igreja entre as roupas.

Há uma semana, estava num restaurante - habitualmente frequentado por gente mais nova - e um rapaz também de uma dessas seitas interrompeu o meu sossego e a minha refeição para uma proposta similar. Recusado, foi falar com um par de mocinhas. Por carolice, elas aceitaram e ele colocou-se de cócoras (não se ajoelhou, para não chamar mais à atenção sobre si) e rezou uma oração com elas. No fim, entregou um livro a cada uma. Pouco depois, outro rapaz, não sabendo que eu já havia sido interpelado, voltou a fazer-me a mesma proposta.

Já farto, confrontei-o com o facto que enquanto eles chamam “propaganda” a tudo o que é informação sobre empatia e respeito por minorias - que eles mesmos estigmatizam - eles falhavam em ver que aquilo que os dois estavam a fazer, isso sim, é que era propaganda - propaganda religiosa, pois ela também existe. 

É muito diferente eu tentar informar alguém sobre a importância da empatia e do respeito pelo próximo, ainda que este não me seja semelhante, desmistificar mitos e contrapor a verdade ao discurso de ódio, sem qualquer desejo de transformar o meu interlocutor num membro dessa comunidade versus, pelo contrário, eu tentar convencer outros a serem como eu, como é o caso destes verdadeiros agentes de propaganda religiosa. Quem defende os direitos LGBTQIA+ não quer transformar ninguém em LGBTQIA+. Já os ditos agentes querem fazer de nós clones deles mesmos. Então, dizer dos activistas LGBTQIA+ (membros ou não da comunidade) que são propagandistas é, no mínimo, hipócrita. 

Quem defende os direitos LGBTQIA+ não quer transformar ninguém em LGBTQIA+. Já os ditos agentes querem fazer de nós clones deles mesmos.

Eles, que instrumentalizam jovens para irem, aos fins-de-semana à noite, a locais onde outros jovens estão reunidos, a confraternizar, para andar a tentar captá-los com acções disruptivas (que podem ser confundidas pelos mais jovens como actos de rebeldia, mas que nascem, na realidade, do Conservadorismo mais rançoso) e distribuir conteúdo propagandístico de oferta (livros, revistas, panfletos) - eles, não. Não fazem propaganda. Estão apenas “a espalhar a palavra do Senhor”.

Se dúvidas ainda houvesse, da lavagem cerebral que fazem as estes jovens, bastava ouvir a declaração do jovem entrevistado em directo pela SIC Notícias, que sugeriu que as crianças, as vítimas, se calhar "metiam-se a jeito" (sic - mas de "sick", doentio, mesmo). 

Porque, claro, os padres, esses, são sempre intocáveis (talvez devessem ser, mas no sentido de párias, como aplicam a palavra na Índia das castas). Imaginem o grau de condicionamento mental que aplicaram a esse miúdo, para ele hoje mostrar o grau zero da empatia com crianças pouco mais novas do que ele.

Tenham vergonha.

Quem diz isto de crianças, não terá mais empatia por uma mulher adulta que se queixe de ser violada. Ou por uma minoria atacada por um Fascista violento (com ou sem farda). E crescerá para ser mais um adulto que não sabe viver em sociedade, a menos que por "sociedade" se entenda um mundo de gente obrigatoriamente igual a ele. Todos os demais devem ser excluídos ou existir numa condição subalterna.

Nada de novo, porque conforme tenho dito reiteradamente - e estes exemplos vão-no confirmando - todas estas atitudes partem de um mesmo ponto de preconceito estrutural, de que a ICAR, no Ocidente, é o primeiro validador e responsável moral.

Se dúvidas restarem, façam o paralelo ao ataque à exposição em Évora e o direito que «Cristãos» sentiram de invadir uma missa pelas pessoas LGBTQIA+, na Ameixoeira. Eles são os donos de Deus, não sabiam? Estas linhas endireitar-se-ão, porque o Estado é e continuará a ser laico e ninguém está acima da Lei.

Há inegavelmente um esforço de endoutrinação massivo que está a acontecer quase à descarada, como reacção à sociedade que inexoravelmente avança, e os deixa para trás, na Idade Média, onde viveriam confortáveis; um esforço de radicalização sem quartel, que já devia ter sido denunciado mais abertamente.

Os Três Reis Magos trouxeram ouro, incenso e mirra e eles só têm preconceito, ódio e retrocesso para nos dar.

É uma acção «evangelizadora» que está a invadir os mais diversos espaços quotidianos, que é consciente, orquestrada, organizada e que parasita na tolerância religiosa que todos defendemos. Aproveita-se dela, para corroer a nossa juventude e a nossa sociedade, transformando-a numa teocracia mais tarde ou mais cedo genocida.

No Brasil, começaram por ir cantar para os autocarros. Acabaram com uma bancada Parlamentar, que apoiou um fanboy de torturadores.

Nota-se perfeitamente que estes jovens, agentes disseminadores e captadores, são treinados para não permanecer em conversas em que o interlocutor tenha um mínimo de discernimento e comece a pôr em causa e a questionar os seus pressupostos e a sua narrativa.

É tentar confrontá-los: fecham logo ali a conversa e começam a tentar fugir, não vá alguém mostrar-lhes o quanto eles são pequenos Torquemadas que substituíram as forquilhas e as tochas - para já - por uma atitude sobranceira passivo-agressiva. É ver como paternalisticamente, mesmo depois de lhes termos demonstrado que não temos interesse em ser iluminados pela sua cosmovisão teocrática, se despedem de nós com um paternalista “Deus o abençoe”. 

A arrogância destes sujeitos, de achar que Deus, sendo Todo-Poderoso, precise deles, para se fazer conhecer. O pedantismo de alguém achar que a sua experiência subjectiva com o Divino Superior é a certa e a única, que todos os demais humanos se devem submeter à sua visão; o perigo de, dando poder suficiente a estes meigos tiraninhos,  de todos os demais serem convertidos à força ou excluídos da sociedade, entretanto controlada por eles.

São vitriolicamente contra eventos de comunidades como o LGBTQIA+ Pride e até, alguns, os Cristofascistas do chamado Nacionalismo «Cristão», o Black Pride Month; negam a identidade dos que não são iguais a si. Mas mexam-lhes nas suas reuniões colectivas - ainda se lembram da tragédia Grega da proibição das missas em tempo de pandemia e de que eles tinham de ser a excepção? - e eles imediatamente reconhecem o que é fazer parte de uma comunidade e desejar ter a sua identidade protegida e respeitada. 

Com a diferença que eles escolheram fazer parte da sua religião ou seita. Ninguém escolhe ser mulher, LGBTQIA+ ou de outra cor, etnia ou proveniência que não a dominante e privilegiada.

São estas pessoas bem-intencionadas que invadem os nossos espaços pessoais, que perturbam o nosso sossego, que tentam roubar minorias e mulheres dos seus direitos, que opinam sobre a vida de toda a gente e cujas organizações não pagam impostos, que recebem todo o tipo de benesses de políticos interessados em marcar pontos junto das suas respectivas comunidades, que querem agora que os respeitemos e toleramos a diferença das suas opções religiosas. Até descobriram uma coisa chamada “Cristofobia”, para tentar anular quaisquer críticas justas ao seu rol de abusos.

Mas basta alguém, num evento que é suposto ser para “os jovens”, esvoaçar uma bandeira de Orgulho LGBTQIA+ para o verniz estalar e se perceber logo quem eles realmente são, debaixo daquela capa de juvenil bonomia ecuménica: um bando de velhos bafientos Ultraconservadores prenhes de preconceito e anacronismo - hospedeiros de um parasita reaccionário que usa o seu corpo como uma roupa. Bandeiras nacionais, não há problema - ou não tivesse a ICAR tradicionalmente sido aliada de movimentos Fascistas. Mas ai de quem queira ser Católico sem abdicar da sua natureza LGBTQIA+. Antes traficante de armas. O Senhor escreve por linhas muito, muito tortas.

Notem como a jovem quase termina a frase dela, com que tenta justificar a sua tentativa de censura, dizendo que não se pode ali esvoaçar aquela bandeira porque “ela promove…” - e não termina. “Promove” o quê, menina? A pedofilia? 

Não, minha querida. Isso é pelouro da organização criminosa de que faz parte. A ironia passou por cima da sua cabeça, a rasar, mas não lhe bateu na testa, aparentemente. Como diz o adágio, “não há ódio maior que o amor Cristão”.

A atitude dela e dos jovens à sua volta - que nota-se, queriam realmente ser mais violentos, mas perceberam momentaneamente a contradição moral, a dissonância cognitiva em que se iam meter (fora o problema de óptica que ia ser, que eles são songas, mas não são burros) - é resultado de anos e anos de radicalização à custa da propaganda odiosa com que poluem estas jovens cabeças. E querem fazer o mesmo a muitos mais, pelos vistos.

Se não lhes violam o corpo, violam-lhes a alma e o entendimento. Forram-nos de ódio, enquanto enchem a boca para falar de “amor ao próximo”. Chamam os outros de pedófilos, enquanto violam, martirizam e escarificam mais de 4800 inocentes - só em Portugal -  e deixam os seus torturadores à solta, impunes.

Não é o Amor que move estas pessoas: é o medo do castigo; é o pedantismo de se colocarem acima dos demais, para se dizerem mais próximos de um Deus que não reconhece os proprios filhos; é o ódio que têm contra os seus irmãos, diferentes de si; é o comércio com um Deus transacional, a quem entregam estas vítimas em holocausto, em troca de uma amaldiçoada salvação eterna.

Este ano estive numa Marcha de Orgulho e acabei rouco de tanto berrar “nem menos, nem mais, direitos iguais”, depois de dar por mim junto a um bloco de defesa das pessoas trans, totalmente cheio de jovens activistas.

Acabei abraçado a uma dessas pessoas, a quem vi as lágrimas a vir aos olhos, quando gritava “nem menos, nem mais, direitos iguais”. Senti o seu desespero, o absurdo de estar ali simplesmente a pedir o que nenhum ser humano deveria ter de pedir - o direito a ser e a existir. Por trás daquelas lágrimas, adivinho todo o sofrimento acumulado de uma vida que não fez nada para o merecer.

Senti o seu desespero, o absurdo de estar ali simplesmente a pedir o que nenhum ser humano deveria ter de pedir - o direito a ser e a existir.

Tudo fruto da radicalização que as hostes ultraconservadoras injectam na sociedade - muitas vezes, a partir de tenra idade e através de instituições como a ICAR, desde a insuspeita catequese até aos macabros grupos das «terapias» de conversão, finalmente criminalizadas.

Não graças às boas pessoas religiosas, não graças à intervenção divina, mas graças à valiosa laicidade do Estado, estabelecida com a implantação da República e que contra a qual hoje, uma pseudo-onda Neoconservadora se insurge, para tentar fazer eleger Fascistas como Putin, Trump, Bolsonaro e Ventura. E que fazem das pessoas trans, as primeiras vítimas de uma longa lista de «degenerados» de que é preciso expurgar o mundo, para que ele se torne perfeito para a segunda visita de um Cristo inventado por eles.

Não sendo eu uma pessoa trans, disse àquela breve amizade de circunstância a que me vi abraçaso na Marcha, “enquanto eu estiver de pé, vocês não caminharão sós”. Não sou um herói, nem um samaritano, que teme pelo seu próprio futuro.

Hoje são as pessoas trans. A seguir, é qualquer um de nós, porque a odiosa fome por vítimas dos Ultraconservadores e Cristofascistas nunca pára. Quem tiver dúvidas, que veja a peça de Arthur Miller, “As Bruxas de Salem”.

Hoje são as pessoas trans. A seguir, é qualquer um de nós, porque a odiosa fome por vítimas dos Ultraconservadores e Cristofascistas nunca pára. Quem tiver dúvidas, que veja a peça de Arthur Miller, “As Bruxas de Salem”.

São intoleravelmente tortas, estas linhas pelas quais supostamente o Senhor escreve: políticos condenados por crimes vergonhosos, que se acham com moralidade para censurar um acto de liberdade de protesto ou um grupo de jovens inspirados pelo suposto amor Cristão quer silenciar pessoas LGBTQIA+ da sua festa ecuménica, enquanto outro acha que "as vítimas é que se põem a jeito". 

Aquilo para que as Jornadas Mundiais da Juventude estão a servir é para mostrar a cloaca podre em que se tornou a fé Cristã. E sim, eu sei que o Papa Francisco é o menos mau de há décadas. Mas uma andorinha definitivamente não faz a Primavera. Com os bons, posso eu. Salvem-nos é destes «cidadãos do bem».

Perante tanta ignomínia, perante tanta desfaçatez, perante tanta falta de noção, só me resta dizer: não te cales. Não te cales nunca. Berra a tua indignação. Porque para o mal acontecer e triunfar, basta que as pessoas boas - verdadeiramente boas - se calem.

 

João Barbosa

 

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