Heiner Müller invadiu a SaunApolo56
A leitura de excertos de A Máquina-Hamlet, de Heiner Müller, tornou-se num dos momentos mais surpreendentes do Queer Lisboa. Desta vez o palco não foi o São Jorge, mas sim a SaunApolo56.
Pela meia-noite desta quarta-feira, a fila para entrar na sauna teimava em não desparecer. Os espectadores foram chegando e trocaram a roupa por toalha e chinelos, isto enquanto os tradicionais clientes desta sauna mista de Lisboa tentavam perceber o que iria sair da leitura encenada de A Máquina-Hamlet.
As vozes dos seis actores começaram a ecoar em simultâneo na sala de cinema, enquanto passava em simultâneo um filme porno do canal Hot Gold. Depois espalharam-se por vários espaços da sauna: cabines e quarto escuro. Já despidos, e num ambiente mais escuro e intimista, as suas vozes continuaram a sobrepor-se. O espectáculo terminou nos chuveiros.
Os vários espaços da sauna eram, na verdade, uma metáfora da Europa. Foram “seis corpos a percorrer os corredores clandestinos da Europa. A Europa dos barcos, das fronteiras, dos estranhos. É o convés de um barco, é um arame cravado na carne, um homem-bomba, o mar Mediterrâneo cemitério dos mortos. É a Europa encerrada numa caixa impossível”, resumiram os responsáveis pela performance.
A concepção da leitura encenada esteve a cargo de João Ferreira e Luís Hipólito, tendo contado com a intervenção de Catarina Codea, Daniel Carapau, David Loira, João Ferreira, José Gonçalves e Ricardo Moura. A 19ª edição do Queer Lisboa termina este Sábado, com a exibição do filme “Eisenstein in Guanajuato”, de Peter Greenaway.
Foto de Rafael Amambahy